Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Vento, sol e água barram crescimento da energia fóssil no 1º semestre
Esta é parte da versão online da newsletter Crise Climática enviada hoje (13). A versão completa, apenas para assinantes, mostra que o plástico está passando despercebido pela crise energética, com um estudo mostrando que a Europa deve limitar esta indústria se quiser diminuir sua dependência dos combustíveis fósseis da Rússia. Quer receber o boletim completo na semana que vem, com a coluna principal e informações extras, por e-mail? Clique aqui e se cadastre.
Acabar com a dependência de combustíveis fósseis caros e poluentes só será possível se houver energia limpa suficiente para satisfazer o apetite crescente do mundo por eletricidade. Um relatório da Ember, uma das organizações independentes de pesquisa mais respeitadas do setor, mostra que o mundo está finalmente caminhando para isso: o aumento das energias solar e eólica impediram o crescimento previsto de 4% da geração elétrica fóssil em todo o mundo no primeiro semestre deste ano.
O relatório Ember's Global Electricity Insights Mid-Year Insights mostra ainda que o crescimento das renováveis evitou R$ 208 bilhões (US$ 40 bilhões) em custos de combustível e 230 milhões de toneladas de emissões de CO2.
A análise levou em conta dados oficiais de eletricidade de 75 países que representam 90% da demanda mundial de eletricidade - o Brasil entre eles. O documento compara os primeiros seis meses de 2022 ao mesmo período em 2021 para mostrar como a transição de eletricidade progrediu. A conclusão é que a demanda global de eletricidade cresceu em 389 terawatts-hora (TWh), e as energias renováveis - eólica, solar e hidrelétrica - aumentaram em 416 TWh, excedendo ligeiramente o aumento da demanda por eletricidade.
Só a energia eólica e solar aumentou em 300 TWh, o que equivale a 77% do aumento da demanda global de eletricidade. Na China, o aumento da geração eólica e solar sozinho atendeu 92% do aumento da demanda de eletricidade; nos EUA foi de 81%, enquanto na Índia foi de 23%.
"O vento e a energia solar estão se provando durante a crise energética", afirma Malgorzata Wiatros-Motyka, analista sênior da Ember.
Como resultado do crescimento das energias renováveis, a geração fóssil ficou praticamente inalterada (+5 TWh, +0,1%). O carvão caiu em 36 TWh (-1%) e o gás em 1 TWh (-0,05%); isto compensou um ligeiro aumento em outros combustíveis fósseis (principalmente petróleo) de 42 TWh. Consequentemente, as emissões globais de CO2 do setor energético permaneceram inalteradas no primeiro semestre em comparação com o ano passado, apesar do aumento da demanda de eletricidade.
Embora o Brasil não esteja entre os países analisados individualmente nesta publicação, os autores afirmaram a esta coluna que foi a energia solar distribuída - com painéis solares instalados diretamente nos telhados onde a energia será usada - que atendeu o aumento da demanda. Com os preços altos da energia, o investimento em placas solares se tornou vantajoso em várias regiões do país.
"O grid brasileiro não informa a geração solar a partir da geração distribuída. Mas com tantos painéis solares sendo instalados em 2021, e com a baixa demanda de eletricidade relatada pelo governo de apenas 2%, é provável que haja um grande aumento na geração solar que está atendendo diretamente à demanda de eletricidade", afirmam os analistas da Ember.
"Além disso, houve uma grande inversão das secas do passado, com a recuperação da geração hidrelétrica e uma redução significativa da necessidade de geração a gás que havia no ano passado", concluem os pesquisadores.
Apesar do Brasil ter superado a escassez hídrica de 2021, as termelétricas poluentes que pesam na conta de luz não saíram do sistema. Novos leilões determinados por emendas na lei de privatização da Eletrobras devem adicionar ainda mais energia suja e cara no sistema elétrico brasileiro.
Aumento de emissões
Apesar da estagnação na geração de fósseis na primeira metade no ano, a geração de carvão e gás aumentou em julho e agosto. Isto deixa em aberto a possibilidade de que as emissões de CO2 do setor elétrico em 2022 ainda possam aumentar, após o recorde histórico do ano passado.
"Não podemos ter certeza se atingimos o pico do carvão e do gás no setor energético", diz Wiatros-Motyka. "As emissões globais do setor de energia ainda estão tendendo para cima quando precisavam estar caindo muito rapidamente. E os mesmos combustíveis fósseis que nos empurram para uma crise climática também estão causando a crise energética. Temos uma solução: o vento e a energia solar são de origem local e barata, e já estão cortando rapidamente tanto os custos, como as emissões".
E o que mais você precisa saber
BOM DIA, CAVALO
O bate-boca entre o presidente do Banco Mundial, David Malpass, e jornalistas presentes ao evento realizado pelo New York Times no mês passado continua rendendo. Na ocasião, ele se negou a dizer se acreditava nas mudanças climáticas - a pergunta mirou declarações negacionistas anteriores do banqueiro. Manuela Andreoni deu detalhes no NYT. Desde então, o executivo tentou se retratar, mas a pressão por sua demissão ronda agora a reunião anual do banco que vai até o dia 16. O episódio alimenta pedidos de reforma do sistema financeiro internacional, que pode ser um dos temas quentes da próxima conferência do Clima da ONU, a COP27, em Novembro.
VOCÊ CONHECE?
Não dá para proteger o clima sem mitigar as desigualdades sociais e econômicas causadas pelo mesmo modelo econômico que está destruindo o planeta. Uma das organizações que está fazendo isto na prática é a Plataforma CIPÓ, um instituto de pesquisa independente liderado por mulheres e que aborda clima, governança e paz. Em diálogo com todo o sul global, a instituição brasileira mira sua atuação principalmente na América Latina e Caribe.
"Na área de clima, os espaços políticos, principalmente os relativos às relações internacionais, ainda são muito brancos e masculinos no Brasil. Para mim é fundamental que também ocupemos esses espaços", defende Adriana Abdenur, fundadora da Plataforma CIPÓ, jornal alemão Tagesspiegel.
FURACÃO JÚLIA
Uma tempestade tropical devastou a província de Las Tejerias, na Venezuela, deixando ao menos 36 mortos e mais de 50 desaparecidos entre o sábado e o domingo. O Caribe colombiano também foi afetado, e mais 500 famílias estão desabrigadas na região. O evento deixou a América do Sul na segunda-feira (10) ao progredir para um furacão de categoria 1 - o décimo desta temporada no Atlântico -, atravessando a Nicarágua e seguindo pelo Pacífico rumo a El Salvador, Honduras e Guatemala, com mais vítimas fatais e prejuízos pelo caminho. Batizado de Júlia, o furacão se originou em uma zona pouco comum - a costa venezuelana - sendo o primeiro evento do tipo a alcançar latitudes tão baixas em terras sul-americanas desde 1993, quando a tempestade Bret matou mais de 200 pessoas na Venezuela.
Os cientistas do clima concordam que os furacões no Atlântico terão mais amplitude, duração e intensidade em resposta às mudanças climáticas.
DERRETE
A Groenlândia teve o mês de setembro mais quente da história, com áreas registrando até 8°C acima da média para o mês em muitos dias. O Portal Polar da Dinamarca e o Centro Nacional de Dados sobre Neve e Gelo dos EUA detectaram quantidades incomuns de gelo derretido na Groenlândia durante todo o mês de setembro, indicando ainda que as temperaturas seguiram relativamente altas por lá até o final do mês.
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