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Cristina Tardáguila

REPORTAGEM

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Ministério, Casa Civil e TV Brasil celebraram lançamento do TrateCov

Colunista do UOL

19/05/2021 15h05

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Das duas uma: ou o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello não disse a verdade na sessão de hoje (19) na CPI da Pandemia ou o perfil oficial do ministério no Facebook, o site da Casa Civil e a TV Brasil erraram feio ao anunciar o início das operações do aplicativo TrateCov, em Manaus, no início deste ano.

No fim desta manhã, ao responder o senador Renan Calheiros (MDB-AL), Pazuello disse aos membros da comissão que o aplicativo TrateCov, acusado de levar usuários de diferentes perfis a consumir cloroquina, nunca foi lançado pelo ministério.

"Nunca entrou em operação", enfatizou. "Ele (o sistema) foi apenas apresentado o protótipo em desenvolvimento e foi copiado por alguém".

Quem visita o perfil oficial do ministério no Facebook encontra, no entanto, postagem feita no dia 14 de janeiro de 2021 que comemora o lançamento do sistema em Manaus. Lá não há qualquer referência a projeto-piloto ou fase de testes. Junto a uma imagem que mostra um celular na mão do que parece ser um médico, a pasta escreveu o seguinte:

"Presencialmente ou por teleconsulta, o TrateCOV dá autonomia a profissionais habilitados para encaminharem o atendimento e resposta adequados de acordo com a individualidade do paciente. O diagnóstico sai mais rápido e o tratamento se inicia precocemente. O aplicativo foi desenvolvido pelo Ministério da Saúde. Pelo menos 342 profissionais já estão habilitados para utilizar o TrateCOV, que começa a ser usado em Manaus (AM). Terminado o processo de cadastro e capacitação, o aplicativo poderá ser utilizado em todas unidades de saúde do município. E em seguida, deve ser ampliado para outras regiões do País".

Outros anúncios do mesmo tipo podem ser facilmente encontrados no site da Casa Civil e na programação da TV Brasil no mês de janeiro. Em nenhum deles, o TrateCov anunciado em Manaus foi tratado como um protótipo.

Publicação feita no site da Casa Civil em 18 de janeiro informa que o TrateCov havia sido lançado uma semana antes, em 11 de janeiro, e que auxiliaria "a coleta de sintomas e sinais de pacientes, permitindo que médicos possam estabelecer, com maior segurança e rapidez, o diagnóstico e optar, conforme sua autonomia profissional, ao tratamento mais adequado".

A página também explica que, "diante do cenário epidemiológico atual", Manaus tinha sido "escolhida para estrear o TrateCOV". E o dado do cadastramento de 342 profissionais para usar o novo sistema volta a aparecer.

No dia seguinte, o programa Brasil em Dia, da TV Brasil falou sobre o TrateCov ao longo de dois minutos. Reafirmou a informação de que o Ministério da Saúde estava em Manaus para lançar o sistema e que cadastrava médicos e enfermeiros para usá-lo.

O tom em todas essas situações era de celebração frente à nova ferramenta:

"Diante do aumento do número de casos em Manaus, o Ministério da Saúde lançou no Amazonas um aplicativo para agilizar o atendimento de pacientes com sintomas de Covid-19 e garantir o tratamento precoce", destacou a âncora do programa Brasil em Dia.

A reportagem, que mostrou o ministro Pazuello defendendo a autonomia dos médicos, ainda entrevistou profissionais da saúde em ação no Amazonas.

No vídeo, o Dr. João Catarino Dutra Júnior, ginecologista e obstetra, disse que o TrateCov, era "uma ferramenta muito importante para agilizar" a ação dos médicos.

"(O sistema) Vai contribuir para que os profissionais tenham um embasamento, uma conduta uniforme para tentar controlar de maneira mais eficiente esse primeiro atendimento desses pacientes".

Na CPI, Pazuello sustentou que o TrateCov foi "mostrado" no dia 11, em Manaus, ainda em desenvolvimento, não concluído ainda. Afirmou que se tratava de um protótipo e que a plataforma nunca foi distribuída aos médicos. Em seguida, afirmou que o sistema foi hackeado e que há uma investigação sobre isso em curso:

"Essa plataforma, ela foi copiada por um cidadão e depois nós fizemos um boletim de ocorrência e uma investigação policial sobre isso daí. E esse cidadão, sim, ele fez a divulgação da plataforma, com usos indevidos. Quando nós soubemos que essa plataforma tinha sido copiada e poderia ser usada por pessoas que não eram, que não estavam dentro do planejado, eu determinei que ela fosse retirada do ar e abrisse um processo para descobrir onde estavam os erros disso".

O ex-ministro prometeu remeter o boletim de ocorrência à CPI da Pandemia.

Cristina Tardáguila é fundadora da Agência Lupa e colunista da Fundação Gabo (Colômbia) e Univision (EUA).