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Pazuello já disse que Bolsonaro manda, ele 'obedece'
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O ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, foi enfático na sessão desta quarta-feira (19) na CPI da Pandemia ao afirmar que o presidente Jair Bolsonaro jamais interferiu para alterar qualquer decisão sua frente à pasta da Saúde.
Diante de uma pergunta do senador Renan Calheiros (MDB-AL), Pazuello disse: "Em momento algum, o presidente da República me orientou, ou me encaminhou, ou me deu ordem para fazer nada diferente do que eu já estava fazendo - nada, absolutamente nada".
Mas esse posicionamento não fica de pé se comparado à história da compra da CoronaVac, vacina contra a Covid-19 desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac Biotech em parceria com o Instituto Butantan, de São Paulo.
Em transmissão feita no dia 22 de outubro de 2020, Pazuello anunciou publicamente que voltaria atrás na compra de 46 milhões de doses da vacina por determinação expressa do presidente Bolsonaro.
"Senhores, é simples assim: um manda e o outro obedece. Mas a gente tem um carinho, entendeu? Dá para desenrolar, dá para desenrolar".
Poucos dias antes, Pazuello tinha se reunido com governadores e dito que daria prosseguimento à compra da CoronaVac. O então ministro já havia inclusive assinado protocolo para aquisição das doses.
Horas depois, no entanto, Bolsonaro foi às redes sociais e escreveu que o Brasil não compraria "a vacina da China" ou a "Vacina chinesa de João Dória (governador de SP) ". No mesmo dia, em visita a um centro militar em São Paulo, o presidente reforçou sua autoridade na condução da pandemia: "O presidente sou eu, não abro mão da minha autoridade".
No vídeo sobre quem manda e quem obedece, Pazuello usava uma camiseta amarela, e Bolsonaro, terno e gravata. Na transmissão o ministro ganhou um curto abraço do presidente e parecia cômodo com a ordem de voltar atrás numa importante decisão sanitária que havia tomado.
A contradição entre a posição pública de outubro e a ouvida nesta terça-feira salta aos olhos não só dos checadores de fato, mas também de analistas e de políticos de diversos partidos.
O deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ) disse em seu perfil no Twitter que "Pazuello sempre seguiu as ordens de Bolsonaro, sempre foi capacho". Acrescentou que "não adianta agora tentar blindar o presidente na CPI".
Guilherme Boulos, ex-candidato do PSOL à presidência, foi além. Disse que "Pazuello levou um texto escrito de defesa" e sugeriu que os senadores ouçam "quem mandou ele (o ex-ministro) ler esse texto".
O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) classificou a fala de Pazuello como uma "coisa ridícula". Destacou que Bolsonaro disse em rede nacional que não compraria a vacina do Butantan e que Pazuello aceitou as ordens, lembrando que, no governo, um manda e o outro obedece. "Agora (Pazuello) quer fazer de conta que nada aconteceu".
Cristina Tardáguila é fundadora da Agência Lupa e colunista da Fundação Gabo (Colômbia) e Univision (EUA).
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