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Diogo Schelp

Boulos 'paz e amor' precisa convencer mais velhos e mais pobres

Guilherme Boulos, do PSOL, teve 20% dos votos em São Paulo, chegando ao segundo turno - Reuters
Guilherme Boulos, do PSOL, teve 20% dos votos em São Paulo, chegando ao segundo turno Imagem: Reuters

Colunista do UOL

16/11/2020 13h00

O surpreendente desempenho de Guilherme Boulos, candidato do Psol à prefeitura de São Paulo, garantindo uma vaga no segundo turno contra Bruno Covas (PSDB) com 20,24% dos votos válidos, foi alavancado pelo apoio do eleitorado mais rico e mais jovem da cidade. Para vencer o prefeito tucano, porém, Boulos terá de desvencilhar-se das incertezas a respeito de sua inexperiência administrativa e da imagem de ativista radical para crescer entre os mais velhos e na periferia.

Confirmando o que apontaram as pesquisas de intenção de voto, que identificaram maior aceitação do candidato entre eleitores de maior escolaridade e renda, Boulos teve um desempenho melhor em bairros centrais e nobres da cidade — e pior nas regiões periféricas.

Como 99,92% das urnas apuradas, foram poucas as zonas eleitorais da periferia em que Boulos teve uma proporção de votos maior do que os 20,24% que recebeu no município como um todo. Isso aconteceu no Rio Pequeno, onde ele teve 23,82% dos votos, no Grajaú, com 20,72%, Capão Redondo, com 22,06% e no Campo Limpo, onde ele mora, com 22,83%.

Em Perus, Itaim Paulista, Parelheiros, Cidade Tiradentes, Guaianases, Sapopemba, Vila Prudente, Brasilândia, Cidade Ademar e Pedreira, entre outros bairros não centrais, Boulos teve menos de 20% dos votos. Em Parelheiros e no Grajaú, inclusive, o psolista perdeu até para Jilmar Tatto, o candidato do PT que teve apenas 8,65% na contagem geral da cidade.

As melhores votações de Boulos foram computadas em Pinheiros, com 31,89%, e Bela Vista, com 29,66%. É o voto dos "modernos e seus segundos cadernos", como diria Adriana Calcanhotto. Bruno Covas ficou em primeiro lugar em todas as zonas eleitorais da cidade.

Para crescer nas faixas mais pobres, portanto, Boulos terá de extrapolar a estratégia bem-sucedida das redes sociais. Isso significa abraçar o desafio de tornar-se mais conhecido nessas regiões e de convencer de que será capaz de resolver problemas concretos dessa população.

A falta de experiência administrativa de Boulos — que nunca exerceu um cargo público, seja no executivo, seja no legislativo — será um ponto de questionamento tanto dos moradores da periferia, para os quais os embates ideológicos que encantam os "modernos" de Pinheiros importam pouco, quanto dos eleitores mais velhos espalhados pela cidade.

Antes da eleição de domingo (15), as pesquisas indicavam um melhor desempenho de Boulos entre eleitores de até 24 anos. Especula-se, inclusive, que a boa votação no 1º turno tenha relação com a abstenção mais alta nas eleições deste ano, impulsionada pelo medo que os cidadãos mais idosos tiveram de se contaminar pelo novo coronavírus nas filas das seções eleitorais.

O grupo mais numeroso do eleitorado de São Paulo é formado por moradores com idades entre 45 e 59 anos (25% do total). Nessa faixa, segundo a última pesquisa Datafolha, divulgada um dia antes da votação, Boulos tinha apenas 10% das intenções de voto.

Para vencer a resistência do eleitorado mais velho, Boulos, que é coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), terá que afastar a pecha de líder radical, que notabilizou-se por táticas de desobediência civil para fazer reivindicações por moradia.

O candidato se apresenta, nessa campanha, como um moderado. Em encontro na Associação Comercial paulista, por exemplo, refutou a imagem de "invasor de casas". Fez o mesmo em abordagens a transeuntes desconfiados na Av. Faria Lima, centro financeiro da cidade.

Para herdar votos que no primeiro turno foram para Celso Russomanno e para Márcio França (e também a parcela dos votos não ideológicos recebida pelo petista Tatto), o candidato psolista precisará convencer os eleitores de que continuará sendo o Boulos "paz e amor" depois das eleições, se chegar à prefeitura.