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Diogo Schelp

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

As lições da quarta onda de covid-19, a dos não vacinados, no mundo

Manifestantes protestam contra "passe verde" de vacina de covid na Itália - GUGLIELMO MANGIAPANE/REUTERS
Manifestantes protestam contra "passe verde" de vacina de covid na Itália Imagem: GUGLIELMO MANGIAPANE/REUTERS

Colunista do UOL

12/08/2021 17h18

O presidente Jair Bolsonaro pressionou em junho e Marcelo Queiroga, ministro da Saúde, desconversou, mas esta semana cedeu à promessa de que até o final do ano os brasileiros poderão "tirar de uma vez por todas essas máscaras". Basta olhar para o que está acontecendo no resto do mundo, porém, para perceber que é cedo para falar nisso.

Algumas regiões do mundo, como a Europa e a América do Norte, já enfrentam a quarta onda de covid-19, com uma tendência de alta no número de novos casos da doença. É a onda dos não vacinados, por estar sendo impulsionada pelo contágio — principalmente, ainda que não exclusivamente — entre os que não tomaram as doses de imunizantes.

Nos Estados Unidos, a média diária dos últimos sete dias de novos casos aumentou 513% em relação ao que se registrava um mês atrás. No Canadá, o aumento foi de 208%. Na França, o crescimento foi de 563%, na Itália, de 480%, e na Alemanha, de 313%, segundo dados da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos.

No mesmo período, o Brasil registrou uma queda de 30% na média diária de novos casos. Isso não significa que estejamos livres de uma nova onda, mas que estamos em um momento diferente do ciclo pandêmico.

Todos os países acima citados estão em um estágio mais avançado no processo de vacinação de suas populações do que o Brasil — mas estão empacados, com dificuldade de vencer a resistência daqueles que não querem se imunizar. Isso tem permitido a circulação do vírus, especialmente da variante delta, considerada mais contagiosa.

Nos Estados Unidos, por exemplo, 40% da população não tomou sequer a primeira dose, apesar de não faltar imunizante para todos no país. Na França e na Itália, a proporção de não vacinados é de 33%, enquanto na Alemanha é de 38%.

Todos esses países estão dando incentivos ou criando regras, como a obrigatoriedade de se ter o "passe verde da vacina" para participar de certas atividades, com o intuito de pressionar os cidadãos mais relutantes a se vacinar. Nos Estados Unidos, as autoridades voltaram a recomendar o uso de máscaras para atividades sociais em lugares fechados.

Graças à vacinação, a quarta onda nesses países tem uma grande diferença em relação às ondas anteriores: a mortalidade não cresceu na mesma proporção dos novos casos diagnosticados.

Assim, dos países citados acima, apenas Estados Unidos e França registraram aumentos significativos no número de mortos por milhão de habitantes entre 10 de julho e 10 de agosto. O crescimento foi de 135% nos Estados Unidos e de 127% na França. Na Itália, o aumento foi de 19%, enquanto na Alemanha e no Canadá as mortes diminuíram, mesmo com o aumento no número de casos.

Os dados da quarta onda na Europa e na América do Norte sugerem que a vacinação reduz significativamente a perda humana na pandemia, mas que é preciso ter uma proporção maior de imunizados antes de abolir os protocolos sanitários.

Os ciclos de altas de novos casos em populações parcialmente vacinadas permitem uma flexibilização maior nas atividades econômicas e sociais, mas não que se abandone outros cuidados básicos.

A afirmação de Queiroga de que ainda este ano os brasileiros poderão deixar de usar máscaras, que comprovadamente ajudam a reduzir a transmissão do coronavírus, é prematura porque depende não apenas do grau de adesão da população à vacinação, mas também do tamanho da próxima onda de casos no país. É melhor esperar para ver.