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Doria corre atrás de Moro
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João Doria derrotou Eduardo Leite nas prévias do PSDB e precisou minimizar o resultado das pesquisas eleitorais que mostram Sergio Moro como o candidato mais forte da terceira via.
"A pesquisa não é o único elemento necessário. Ela é parte integrante, mas tem que ter uma composição de forças para que este candidato ou candidata possa representar uma capacidade de enfrentamento a Lula e Bolsonaro", disse o governador de São Paulo à CNN.
A legenda formada pela fusão do PSL de Luciano Bivar e do DEM de ACM Neto é a mais disputada para a composição, em razão da alta capilaridade nacional e das fartas verbas eleitorais. Bivar, porém, disse ao Globo:
"A União Brasil, como todos os outros, está buscando uma alternativa. Mas, no fundo, a última palavra vai ser do inconsciente coletivo do Brasil."
A declaração condiz menos com o desejo de Doria que com a avaliação anterior de Renata Abreu, presidente do partido de Moro, o Podemos:
"A classe política entende que o candidato da terceira via que chegar a 15% conseguirá uma convergência muito grande. Moro já tem entre 11% e 13%", disse Abreu à Crusoé. "Ou seja, Moro deverá chegar aos 15% até fevereiro e antes dos outros candidatos da terceira via", apostou ela.
A precipitação do apoio do DEM a Geraldo Alckmin em 2018, quando o tucano aparecia com apenas um dígito nas pesquisas e anunciou suas alianças sentado à mesa com caciques do Centrão, deve pesar, agora, a favor de maior cautela da União Brasil, ainda que Leite migre para a sigla.
Se Bolsonaro continuar em queda e Moro em ascensão, a hipótese mais provável é que Bivar e Neto negociem com o Podemos o apoio a Moro, em troca, entre outras coisas, da vaga de vice para o governador do Rio Grande do Sul ou algum outro líder que já esteja em seus quadros.
Doria declarou ser "possível" aliar-se ao ex-juiz, alegando ter "boas relações" com Moro" e "respeito por ele", "que ajudou o Brasil" e "contribuiu com a Lava Jato", mas a equipe do PSDB vazou para o Globo que, apesar de decolar "com dois dígitos por ser uma figura conhecida", Moro teria um "teto baixo", de no máximo 15%.
"A pauta do combate à corrupção, que Moro encarna, aparece em quinto lugar nas pesquisas tucanas", acrescenta o jornal, embora a nova pesquisa Atlas mostre que, para 24% dos entrevistados, a corrupção é a maior fonte de preocupação e, para 59,2%, a corrupção está aumentando. Essas percepções ainda podem ser turbinadas tanto pelo "casamento" de Jair Bolsonaro com o mensaleiro Valdemar Costa Neto, interessado em usar o presidente para abocanhar mais dinheiro nos fundos partidário e eleitoral do PL, quanto pela exploração do tema por Moro no debate político.
Desde a cerimônia de filiação, o ex-juiz expande seu discurso para outras pautas, como o combate à fome; dialoga com representantes de diversos partidos, para tirar a impressão de isolamento; e tem angariado apoio no mercado financeiro, com uma agenda de reformas legitimada pelo seu guru econômico Affonso Celso Pastore, e também entre militares dissidentes do bolsonarismo e influentes nas Forças Armadas, como seu agora correligionário general Santos Cruz. Até o vice-presidente Hamilton Mourão, escanteado no governo Bolsonaro, anda fazendo acenos a Moro.
Doria precisa deixar o governo paulista em abril para se candidatar à presidência, mas até lá vai explorar a vantagem de comandar o estado mais rico do país. Segundo o Estadão, ele "pretende inaugurar estações de metrô e trechos de rodovias, anunciar investimentos internacionais, assinar novas concessões e, claro, nacionalizar ainda mais seu discurso, além de refazer pontes para atrair novos e antigos aliados".
Como as principais pontes dependem de que Doria se aproxime de Moro nas pesquisas, o maior desafio do governador é descolar-se da percepção de que pensa mais em si próprio do que no país, mesmo tendo defendido a vacinação contra a Covid-19. Curiosamente, esta é a mesma percepção que sua candidatura pode potencializar, se Doria não souber medir até quando deve perseverar na campanha - legítima, diga-se - caso permaneça numericamente distante do ex-juiz.
Para qualquer candidato de terceira via que ficar para trás, desistir com poder de barganha será melhor que ficar marcado pela derrota, pela vaidade e pela teimosia.
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