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Felipe Moura Brasil

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Para Jair, direito de ir e vir vale na pandemia, não na Amazônia

Colunista do UOL

15/06/2022 08h31

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Na Live UOL desta terça-feira (14), falei sobre o pedido de desculpas feito pelo embaixador do Brasil no Reino Unido, Fred Arruda, à família de Dom Phillips, pelo comunicado errado de que os corpos do jornalista britânico e do indigenista Bruno Araújo Pereira haviam sido encontrados na Amazônia, amarrados a uma árvore.

A equipe da embaixada, segundo ele, interpretou incorretamente informações dos responsáveis pelas investigações.

A mistura de insensibilidade com o sofrimento alheio e incompetência, tão marcante em Jair Bolsonaro, lamentavelmente estendeu-se, portanto, à diplomacia brasileira, em um momento delicado do episódio dos desaparecimentos, como se já não bastasse a repercussão internacional negativa para o Brasil, em razão do Estado paralelo imperante na floresta onde povos indígenas foram abandonados à própria sorte.

Menos mal, porém, que Arruda tenha se desculpado, ao contrário do presidente da República, que já responsabilizou duas vezes as potenciais vítimas por terem se colocado em situação de vulnerabilidade, referindo-se a uma "aventura não recomendável" e afirmando que "as pessoas abusam" e "coisas acontecem".

No começo da pandemia, quando o vírus avançava sobre o território brasileiro e Bolsonaro recusava ou atrasava a compra de vacinas, ele defendeu, de modo distorcido, o "direito de ir e vir" dos cidadãos, como se os índices de contaminação, doença, morte e propagação da Covid-19 não aumentassem em caso de manutenção da vida normal, sem os cuidados necessários.

Agora, na prática, Bolsonaro recrimina o abuso do direito de ir e vir de Phillips e Pereira, fingindo não ter responsabilidade sobre a área do território nacional dominada por pescadores, caçadores e garimpeiros ilegais, bem como por traficantes de armas e drogas.

Para um chefe de Executivo que, em 2019, respondeu ao próprio jornalista britânico com uma patriotada, declarando que a Amazônia é nossa e não deles, a postura vai além da contradição, da incoerência, da conveniência, do oportunismo. Ela é perversa.

Assista à íntegra da Live UOL de hoje, na qual falamos também sobre o ex-presidente Fernando Collor (PTB), que anunciou sua pré-candidatura ao governo de Alagoas como aliado de Bolsonaro; e sobre o futuro político do ex-juiz Sergio Moro.

Com Madeleine Lacsko, debato os principais assuntos do país diariamente, das 17h às 18h, com transmissão ao vivo nos perfis do UOL no YouTube, no Facebook e no Twitter.