Topo

Fernanda Magnotta

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Visita de Pelosi à Ucrânia mira opinião pública dos EUA e eleições de 2022

5.mar.2020 -A líder da Câmara Nancy Pelosi - Saul Loeb/AFP
5.mar.2020 -A líder da Câmara Nancy Pelosi Imagem: Saul Loeb/AFP

Colunista do UOL

01/05/2022 09h39

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Depois de receber o mais alto escalão dos departamentos de Estado e de Defesa, os secretários Antony Blinken e Lloyd Austin, respectivamente, a Ucrânia foi visitada, neste sábado, por uma comitiva de congressistas democratas, liderada por Nancy Pelosi, Presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos. Ela, que é a mais importante autoridade do país a viajar para Kiev desde o início do conflito, se encontrou com Volodymyr Zelensky e declarou apoio aos ucranianos "até a vitória".

Para além do que isso significa em termos geopolíticos e da inserção internacional dos Estados Unidos, a viagem de Pelosi antecipa o papel que a Ucrânia terá, também, para a política doméstica dos Estados Unidos nos próximos meses. Em novembro desse ano ocorrerão as chamadas "eleições de meio de mandato" do Congresso naquele país. Essas eleições são consideradas vitais para a administração de Joe Biden, na medida em que definirão sua capacidade de governar durante a segunda metade do mandato.

Atualmente, o partido de Biden tem ligeira maioria nas casas legislativas. Segundo o mais recente levantamento do Congressional Research Service, na atual Câmara dos Representantes há 225 democratas, 211 republicanos e 5 assentos vagos. O Senado tem 50 republicanos, 48 democratas e 2 independentes, que fazem caucus com os democratas. As perspectivas, no entanto, não são das mais promissoras para o presidente, já que uma série de pesquisas sugere que os republicanos, até o momento, têm vantagem na disputa de 2022.

Antes da Ucrânia, Biden estava enfrentando críticas que começavam na gestão da pandemia de Covid-19 e chegavam até os problemas econômicos do país, sobretudo puxados pela inflação record e pela elevação dos preços dos combustíveis. Com a atabalhoada saída do Afeganistão, em 2021, sua popularidade enfrentou a pior baixa desde o começo do governo.

A crise da Ucrânia marcou, desde o início, uma oportunidade de criar consensos dentro dos Estados Unidos. Ao discursar para o Congresso norte-americano poucos dias após a invasão russa, Biden foi aplaudido em pé por membros dos dois partidos. A crise no leste europeu estancou a queda de aprovação de Biden e levou à tramitação, de forma bipartidária, de pacotes bilionários para ajuda externa. O último deles, apresentado dias atrás, previa US$ 33 bilhões a serem enviados à Ucrânia, dos quais mais de US$ 20 bilhões seriam em equipamentos militares, como artilharia e veículos blindados.

Apesar disso, a vida de Biden continua difícil. Os problemas anteriores seguem existindo e a própria opinião pública do país é muito volátil no que envolve a guerra. Um levantamento feito pela Gallup, em meados de março, mostra que os norte-americanos têm uma visão extremamente negativa da Rússia e de Vladimir Putin e que há apoio generalizado para as sanções econômicas. Apesar disso, os dados apontam que, embora estejam prestando atenção ao conflito, a Ucrânia não é necessariamente a prioridade máxima da maioria. Em geral, o foco segue sendo a inflação.

Uma pesquisa da CBS, por sua vez, reforça a ideia de que o eleitorado estadunidense apoia a pressão econômica, mas rejeita fortemente a ideia de envolvimento militar direto no conflito europeu. Enquanto a política de impor restrições financeiras e comerciais tem quase 80% de apoio, o envio de tropas para a Ucrânia, por exemplo, não passa de 25%.

Nesse sentido, os números também sugerem uma visão ambígua sobre Biden e os democratas. Ao mesmo tempo que indicam alinhamento entre o que deseja o público e o que faz o presidente, a maioria (55%) desaprova a sua forma de lidar com a crise e clama por maior protagonismo por parte dos Estados Unidos. As informações são corroboradas por dados mais recentes da AP-NORC, em que aparece a percepção de que Biden não é duro o suficiente com a Rússia.

Cada pequeno gesto, portanto, incluindo a recente visita de Pelosi à Ucrânia, representa, para consumo doméstico, mais uma tentativa de contribuir para esse, que parece ser o desafio democrata até novembro de 2022: demonstrar força, controlando os riscos de exposição.