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Fernanda Magnotta

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Acordos firmados na China criam oportunidades, mas multiplicam riscos

Lula e Xi Jinping participam de cerimônia de boas-vindas no Grande Salão do Povo em Pequim - Ricardo Stuckert/Reuters
Lula e Xi Jinping participam de cerimônia de boas-vindas no Grande Salão do Povo em Pequim Imagem: Ricardo Stuckert/Reuters

Colunista do UOL

14/04/2023 14h28Atualizada em 14/04/2023 15h23

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Em colunas anteriores, já havíamos enfatizado a importância de olhar para a China deste século como um player que busca sua inserção internacional com base em três pilares fundamentais: ciência, tecnologia e inovação. A recente visita de Lula a Xi Jinping e o conjunto de acordos já divulgados como resultado dessa viagem deixam claro que o Brasil reconhece esse perfil e vê, nisso, uma oportunidade de melhorias também para si.

Sabemos que, em 2022, a China foi a maior fornecedora dos bens importados pelo Brasil e que, nesse contexto, já predominam, na pauta importadora, grupos de produtos de maior valor agregado.

Dados da Apex revelam que os destaques nesse campo são: válvulas e tubos termiônicos (11,5% de participação), compostos organo-inorgânicos (8,2%), equipamentos de telecomunicações (6,8%), defensivos agrícolas (4,9%) e adubos ou fertilizantes químicos (3,9%).

Do lado brasileiro, se as commodities ainda dominam a pauta de exportação para a China, é cada vez maior o interesse em diversificar a agenda. Além disso, o estoque de investimento estrangeiro direto (IED) da China no Brasil tem crescido vigorosamente ano após ano, assim como o estoque de IED na direção oposta. Esses e outros dados detalhados podem ser encontrados aqui.

Embora tenham sido anunciados vários acordos envolvendo empresas brasileiras que operam no setor primário, como é o caso do grupo JBS, por exemplo, chama a atenção que a maior parte dos documentos verse sobre outros tipos de segmento.

Para além da busca por facilitação do comércio em geral e da tentativa de reduzir barreiras fitossanitárias, essas são as palavras-chave que resumem os acordos assinados, seja por empresários ou por entidades governamentais na China:

  • cooperação em infraestrutura de múltiplos tipos (incluindo serviços logísticos);
  • cooperação em meio ambiente e energia (incluindo mudanças climáticas, economia de baixo carbono, energia verde e energias renováveis);
  • cooperação em serviços financeiros (como o uso do Cips, o China Interbank Payment System) e economia digital;
  • cooperação em tecnologia da informação e em telecomunicações (incluindo 5G, com fornecimento de acesso a tecnologia, telefonia móvel e fixa);
  • cooperação em vacinas e biofármacos;
  • cooperação espacial (com direito a satélites e o importante CBERS-6);
  • cooperação industrial.
Bandeiras do Brasil e da China são vistas na embaixada do Brasil em Pequim enquanto Lula dá entrevista  - Tingshu Wang/Reuters - Tingshu Wang/Reuters
Bandeiras do Brasil e da China são vistas na embaixada do Brasil em Pequim enquanto Lula dá entrevista
Imagem: Tingshu Wang/Reuters

Trata-se da tradução, para os termos bilaterais, daquilo que prevê o "Made in China 2025", o grande plano do governo de Xi que fornece apoio estatal direto e indireto para transformar a China em uma potência industrial líder até o ano de 2049, quando será celebrado o 100º aniversário de criação da República Popular.

Brasil e China dialogam, nesse momento, em praticamente todos os dez setores considerados "chave" para este projeto, além de contribuir com quase todas as "09 tarefas" identificadas pelo governo chinês como prioritárias.

Estamos testemunhando os dois países trabalharem em sua pauta comum, que preza pelo desenvolvimento econômico e pela construção de um sistema internacional com mecanismos de diálogo mais plurais e representativos.

No entanto, ao mesmo tempo em que vemos a China como parte das soluções para os nossos problemas, com isso, também importamos para nós um desafio: gerir os riscos de uma nova dependência no contexto das tensões de um mundo em processo de transição de poder. Objetivos ambiciosos podem promover conquistas inéditas, mas também permitem vislumbrar alguns perigos no horizonte. Será preciso saber navegar por mares revoltos.