Superterça deve recalibrar estratégias e tensões na rota Biden vs. Trump
Apesar de os resultados não terem sido surpreendentes durante a chamada "Superterça", ocorrida ontem nos Estados Unidos, a ocasião está longe de ter sido apenas um episódio "pró-forma" no calendário eleitoral norte-americano.
Com 15 dos 50 estados, além de um território (Samoa) votando, este dia costuma ser visto como o mais significativo da temporada de prévias, já que se trata do maior volume de votações simultâneas nos Estados Unidos, além da própria data de eleições nacionais, que, esse ano, ocorrerão em 5 de novembro.
Tudo indicava, já nas pesquisas, que os resultados da Superterça possivelmente coroariam o caminho aberto para um novo enfrentamento entre Biden e Trump. A apuração de votos, até o momento, confirma essa hipótese. É bastante razoável, hoje, assumir que esses serão os nomes a serem referendados pelos partidos em suas convenções no meio do ano.
Ainda assim, engana-se quem vê uma Superterça previsível como essa com desinteresse. Ela foi um passo fundamental para o que vem pela frente, na medida em que oferece informações valiosas para que as campanhas possam ser recalibradas pelas equipes com vistas à eleição nacional no segundo semestre. A análise do comportamento do eleitorado, a comparação com performances anteriores e a confirmação de perfis demográficos são etapas essenciais nesse processo.
Os Democratas, por exemplo, mostram-se preocupados com o "efeito Michigan", onde, nas primárias, 13% dos eleitores se declararam "não comprometidos", refletindo potenciais evasões e protestos decorrentes da ação do governo Biden em Gaza. Do lado Republicano, a campanha de Trump se vê desafiada pela gestão dos recursos e energia, dividindo-se entre as prévias e os processos legais que as cercam, ao mesmo tempo em que procura entender onde a aversão a Trump é mais significativa, indicativo de um eleitorado em constante mudança.
Os números revelados até o momento mostram nuances importantes nas preferências eleitorais. Joe Biden mantém a maioria dos eleitores negros e hispânicos, embora em número menor em comparação a 2020, enquanto a maioria branca inclina-se por Trump, que também faz incursões no eleitorado latino conservador. Os ataques recentes aos direitos reprodutivos parecem mobilizar ainda mais as eleitoras em favor de Biden, apesar de uma minoria feminina se manter com Trump por razões econômicas.
Os jovens, embora ainda tendam a apoiar Biden, mostram-se menos confiantes devido sobretudo à sua posição pró-Israel no conflito no Oriente Médio, levando alguns a considerarem a abstenção, o que poderia prejudicar Biden. Os homens mais velhos e os evangélicos mantêm um apoio robusto a Trump, enquanto eleitores sem ensino superior destacam a economia e a segurança fronteiriça como razões para preferir as políticas do republicano.
Os moradores de subúrbios e eleitores com ensino superior, que apoiaram Biden em 2020, agora parecem oscilar, podendo se tornar os chamados "swing voters" nesta eleição. Por fim, os independentes inclinam-se um pouco mais para Trump este ano, embora seus problemas jurídicos possam ser um fator dissuasório.
Diante deste cenário, a Superterça não foi apenas um marco eleitoral desprovido de emoção, mas um indicativo de como as complexidades do eleitorado norte-americano e os desafios enfrentados por cada campanha moldarão o caminho até novembro. Ela confirma o tom da eleição de 2024, que deve girar em torno do grau de compromisso do eleitor com seu candidato e da escolha do "menos pior", uma rota recalculada de forma contínua por pequena parte do eleitorado, mas que vai decidir quem será o próximo presidente dos Estados Unidos nas margens de um empate.
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