Crise entre Israel e Irã é nova prova de fogo para política externa de Lula
A escalada de tensões entre Israel e Irã, anteriormente mediada por confrontos indiretos através de grupos como Hamas, Hezbollah e os Houthis, agora se desdobra em um confronto explícito sem precedentes. Este cenário é uma nova realidade no tabuleiro geopolítico do Oriente Médio, onde pela primeira vez, o Irã adota uma postura ofensiva direta contra Israel em vez de recorrer a milícias ou atores não-estatais. Nesse contexto, as consequências são imprevisíveis e potencialmente alarmantes.
O estopim desse novo capítulo foi, como todos têm acompanhado, um ataque iraniano que visava ser uma resposta pontual e defensiva, segundo o governo desse país, a um suposto ataque israelense ao seu consulado na Síria. Israel, por sua vez, nega qualquer envolvimento no incidente do consulado, e classifica a resposta iraniana como grave e injustificada, alertando para possíveis novas retaliações. Esse ciclo de acusações e respostas aumenta o risco de uma escalada que poderia facilmente sair do controle, trazendo consequências ainda desconhecidas para a estabilidade regional e global.
Internacionalmente, a situação é observada com grande preocupação. As potências globais estão apelando por moderação enquanto acompanham de perto as movimentações no gabinete militar de Israel e as declarações do governo de Netanyahu. Essa dinâmica coloca uma pressão excepcional sobre os mecanismos internacionais de paz e segurança, destacando a importância de uma abordagem diplomática cautelosa para evitar uma guerra aberta e generalizada.
No contexto brasileiro, a reação oficial aos recentes eventos também reflete as complexidades da política externa em tempos de tensão. O Brasil, por meio de uma nota do Itamaraty, expressou preocupação com a escalada do conflito e apelou para que todas as partes exerçam "a máxima contenção".
No entanto, essa posição já foi motivo de crítica por autoridades israelenses, e deve se multiplicar entre outros parceiros ocidentais muito em breve, principalmente depois que o Assessor da Presidência da República, Celso Amorim, numa declaração ao longo do dia, tentou explicar o ataque iraniano como um "gesto", sugerindo uma resposta/um ato de defesa e não necessariamente um ato de guerra, o que não foi bem recebido por aqueles que esperavam uma condenação mais firme contra Teerã.
Essa cautela do Brasil em condenar ações de certos países reflete-se também em outras arenas internacionais, como nas Nações Unidas, onde o país tem adotado uma postura de abstenção em votações críticas envolvendo a Rússia e o Irã, enquanto é incisivo em pleitos envolvendo Israel. Para além do discurso da "equidistância" e da política de "meio-termo", essa estratégia sugere um esforço brasileiro em manter cautela e evitar frustrações com aliados dos BRICS+, mas não necessariamente em relação a outros países.
O problema é que isso levanta questões sobre a coerência da política externa brasileira, especialmente quando se trata de defender valores como direitos humanos e pilares do direito internacional como centro de sua inserção global. Não seria menos problemático ao Brasil falar abertamente em uma abordagem instrumental e focada nos seus interesses estratégicos, em vez de tentar acomodar ações em uma estrutura moral puramente retórica que se mostra cada vez mais complexa de sustentar?
Sabemos que o conflito em curso ocorre em região distante do nosso país, mas estejam certos: os seus efeitos já começaram a assombrar o governo Lula e a criar cobranças e explicações sobre as contradições a que decidimos nos expor desde Brasília.
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