ONU propõe um cessar-fogo mundial para lutar contra o vírus
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Num gesto inédito, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, fez um apelo para que o mundo declare um cessar-fogo mundial para permitir que todos os esforços sejam destinados a lutar contra o coronavírus.
O pedido foi encaminhado em uma carta aos líderes dos países que fazem parte do G-20, entre eles Jair Bolsonaro. Nela, Guterres também pedia maior coordenação entre os governos e que diferenças sejam colocadas de lado, neste momento.
Além dos mais de 300 mil casos já registrados, a entidade teme que a chegada do vírus em locais mais pobres promova uma "catástrofe humanitária". Nesta semana, a Síria anunciou seu primeiro caso e, no total, a ONU estima que 100 milhões de pessoas poderiam estar em forte risco pelo mundo.
As entidades internacionais temem que a pandemia do coronavírus gere uma "nova legião de pobres" no mundo, aprofundando a desigualdade e abalando os esforços para promover o desenvolvimento.
Nesta semana, a ONU, Unicef e OMS vão se unir para lançar um plano humanitária para lidar com a crise, equivalente ao que ocorre quando um país ou região se depara com uma guerra ou um desastre natural. A perspectiva é de que centenas de milhões de dólares serão necessários para dar uma resposta à crise, diante da paralisia de países inteiros e o colapso em cadeias produtivas.
Algumas estimativas apontam que o abalo para a economia mundial pode chegar a US$ 2 trilhões, o que seria traduzido em um aprofundamento da pobreza. Para a ONU, a crise global de saúde é a maior em 75 anos e pode gerar uma recessão de proporções inéditas.
Os números que a entidade usa para fazer sua projeção apontam que a paralisia da economia mundial deve custar caro, principalmente aos trabalhadores. O número de desempregados pode aumentar em 25 milhões, numa crise mais aguda que aquela gerada com a recessão de 2008 e 2009.
Mas o desemprego não conta toda a história. A perspectiva é de que a renda dos trabalhadores deve sofrer um abalo de US$ 3,4 trilhões, algo também inédito.
A fúria do vírus põe em evidência a loucura da guerra
"O mundo enfrenta hoje um inimigo comum: o COVID-19", declarou Guterres. "O vírus ameaça-nos a todos, independentemente de nacionalidades, etnias, credos ou posicionamentos políticos. É um vírus implacável", disse.
"Ao mesmo tempo, em vários pontos do globo, persistem ou intensificam-se conflitos armados brutais. Os mais vulneráveis - as mulheres e as crianças, as pessoas com deficiência, os marginalizados e os deslocados - pagam o preço mais elevado. E, atualmente, correm também um risco sério e devastador devido ao COVID-19", afirmou.
"Tenhamos presente que, nos países assolados pela guerra, os sistemas de saúde colapsaram e que os, já de si, escassos profissionais de saúde são frequentemente atacados", alertou.
"Por sua vez, os refugiados e as pessoas deslocadas por conflitos violentos encontram-se numa situação de dupla vulnerabilidade", disse o secretário-geral.
"A fúria do vírus põe em evidência a loucura da guerra, de uma forma muito clara. É, por isso, que hoje, apelo a um cessar-fogo mundial e imediato, em todas as regiões do mundo", declarou.
"É tempo de acabar com os conflitos armados e de, em conjunto, focarmo-nos na verdadeira batalha das nossas vidas", insistiu.
Em sua mensagem, ele sugere que governos acabem com as hostilidades, ponham de lado a desconfiança e a animosidade. "Silenciem as armas, parem a artilharia, acabem com os ataques aéreos. Isto é crucial", disse.
No lugar da guerra, ele pede que corredores humanitários que salvam vidas sejam criados. Ele também apela para abrir "janelas preciosas para a diplomacia".
"Deixemo-nos inspirar pelos casos, que lentamente vemos surgir, de entendimento e diálogo entre facões rivais na busca de estratégias conjuntas de combate ao COVID-19. Mas precisamos de muito mais", disse.
"Precisamos de por fim à doença da guerra e combater a doença que está a devastar o nosso mundo. Comecemos por parar as hostilidades. Agora. Em todo os pontos do globo. É isso que a nossa família - a família humana - necessita. Agora, mais do que nunca", completou.
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