"O pior está por vir", alerta secretário-geral da ONU
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Num recado duro ao mundo, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, fez um apelo para que governos e atores abram caminho para que milhões de pessoas sejam protegidas diante da pandemia. Num discurso nesta manhã em Nova Iorque e no momento em que a doença atinge mais de um milhão de pessoas, o chefe da diplomacia das Nações Unidas alertou sobre o risco da proliferação do vírus em locais como Síria, Afeganistão e em vários países africanos afetados por conflitos armados.
"O vírus mostrou a rapidez com que pode atravessar fronteiras, devastar países e pôr vidas em risco. O pior ainda está para vir", alertou.
Há dez dias, o apelo da ONU para um cessar-fogo mundial para abrir espaço para o combate à pandemia recebeu a adesão de dezenas de partes envolvidas em conflitos armados. Num levantamento publicado nesta sexta-feira, a entidade revela que grupos armados nos Camarões, República Centro-Africana, Colômbia, Líbia, Myanmar, Filipinas, Sul do Sudão, Sudão, Síria, Ucrânia e Iémen aceitaram a proposta de silenciar os canhões.
Mas nem sempre cumpriram suas promessas. "Essa é uma oportunidade para a paz, mas estamos longe disso. E a necessidade é urgente. A tempestade COVID-19 está agora chegando a todos estes teatros de conflito. Temos de fazer tudo o que for possível para encontrar a paz e a unidade de que o nosso mundo tanto precisa para combater o COVID-19. Temos de mobilizar cada grama de energia para a derrotar", insistiu.
O apelo a um cessar-fogo imediato em todos os cantos do globo tinha como objetivo dar espaço para a ação diplomática e ajudar a criar condições para salvar vidas nos locais mais vulneráveis à pandemia do COVID-19. "Este apelo teve as suas raízes num reconhecimento fundamental: Hoje só deveria haver uma luta no nosso mundo: a nossa batalha comum contra o COVID-19", explicou Guterres.
"Sabemos que a pandemia está a ter profundas consequências sociais, económicas e políticas, incluindo as relacionadas com a paz e a segurança internacionais. Vemos, por exemplo, no adiamento de eleições ou em limitações à capacidade de voto, em restrições sustentadas à circulação, na espiral do desemprego e outros fatores que podem contribuir para o aumento do descontentamento e das tensões políticas", alertou.
"Além disso, os grupos terroristas ou extremistas podem tirar proveito da incerteza criada pela propagação da pandemia", indicou.
Mas ele acredita que o apelo global ao cessar-fogo está ressoando em todo o mundo. Até agora, mais de 70 países, atores não estatais, redes e organizações da sociedade civil aderiram ao pacto. "Os líderes religiosos - incluindo o Papa Francisco - juntaram a sua voz moral em apoio a um cessar-fogo global", indicou.
Fragilidade
A ONU, porém, não tem ilusões de que essa situação é de extrema fragilidade. "Existe uma enorme distância entre declarações e atos - entre traduzir as palavras em paz no terreno e na vida das pessoas", admitiu Guterres.
"Há enormes dificuldades de implementação, uma vez que os conflitos se prolongam há anos, a desconfiança é profunda, com muitos estraga-prazeres e muitas suspeitas", alertou. "Sabemos que quaisquer ganhos iniciais são frágeis e facilmente reversíveis", apontou.
"E, em muitas das situações mais críticas, não temos visto qualquer recuo nos combates - e alguns conflitos até se intensificaram", admitiu.
Um dos exemplos é o do Iemen. Apenas das declarações de diferentes grupos de que iriam aderir ao cessar-fogo, realidade é que a violência disparou. A ONU quer agora convocar todos a uma negociação, justamente aproveitando a crise. "Apelo a todos os governos e movimentos envolvidos e aos seus apoiantes para que ponham fim ao conflito catastrófico e ao pesadelo humanitário - e venham até à mesa das negociações", disse Guterres.
Na Líbia, o governo e o Exército Nacional Líbio acolheram favoravelmente os apelos à suspensão dos combates. "No entanto, os confrontos escalaram drasticamente em todas as linhas da frente, obstruindo os esforços para responder eficazmente ao COVID-19", indicou o secretário-geral.
Por fim, no Afeganistão, enquanto os combates aumentavam, em 26 de Março, foi anunciada a formação de uma equipe para negociar com os Talibãs. "Creio que chegou o momento de o Governo e os Talibãs cessarem as hostilidades enquanto a COVID-19 paira sobre o país", completou.
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