Cortes de Trump para OMS ameaçam luta pela erradicação da pólio
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Desde terça-feira, os telefones dos responsáveis pelos projetos de erradicação da poliomielite na OMS não param de tocar. São ligações vindas de autoridades paquistanesas, afegãs ou etíopes em busca de esclarecimentos sobre o futuro de suas ações.
O motivo de tanta preocupação é o anúncio do presidente dos EUA, Donald Trump, de que irá suspender sua contribuição regular para a OMS, em meio à pandemia do coronavírus. A alegação do americano é de que a entidade falhou em fazer o alerta sobre a nova doença e que, por sua proximidade com a China, abafou o surto no país asiático.
Já a interpretação de diplomatas em Genebra é outra: Trump estaria procurando desviar a atenção e jogar a responsabilidade sobre a OMS por milhares de mortes nos EUA. Isso tudo em plena campanha eleitoral.
No total, os americanos poderão suspender os repasses para a agência, o que representa 15% de todo o orçamento da entidade. Cerca de US$ 237 milhões em contribuições americanas vão para o orçamento regular da OMS, o que permite o pagamento de salários, custos de operação e permite que seja a agência que defina o destino do dinheiro.
Mas um volume ainda maior de recursos - cerca de US$ 656 milhões - foi destinado para financiar de forma voluntária programas específicos de interesse do governo americano.
Desse total, US$ 158 milhões foram destinados aos programas que se dedicam a erradicar a pólio. Os países mais atingidos pela doença e que recebem os fundos são Nigéria, Somália, Paquistão, Sudão do Sul, República Democrática do Congo, Afeganistão, Quênia e Etiópia.
Nos últimos 20 anos, uma iniciativa da Gates Foundation, OMS e do governo americano permitiu que 3 bilhões de pessoas fossem vacinadas pelo mundo. A operação permitiu que a doença fosse reduzida em 99%. Mas a total erradicação ainda não foi obtida.
Outros US$ 100 milhões foram destinados pelos EUA à saúde de base, com os maiores beneficiários sendo o Iraque, Iemen, Sudão, Síria e Afeganistão.
US$ 44 milhões ainda foram destinados para o combate à rubéola, hepatite B e outras doenças que já contam com vacinas. Só a luta contra a tuberculose ainda foi financiada em US$ 33 milhões pelos americanos, a cada ano.
Para fontes dentro da OMS, o gesto de Trump ameaça afetar populações vulneráveis e sem qualquer relação com a pandemia ou a crise política entre americanos, chineses e a agência.
Nos últimos dias, a entidade passou a realizar consultas com parceiros e outros governos para avaliar de que forma poderá substituir o dinheiro americano por uma nova forma de financiamento.
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