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OMS diz que América do Sul preocupa e critica atos contra quarentena

Diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, durante entrevista coletiva em Genebra - Reprodução
Diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, durante entrevista coletiva em Genebra Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

22/04/2020 13h14

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O diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, deixa claro que o coronavírus vai estar presente no mundo por "muito tempo". Em sua coletiva de imprensa nesta quarta-feira, o chefe da agência afirma estar preocupado com um aumento de casos na América do Sul e diz que protestos por parte de cidadãos contra quarentenas "não ajudam" e podem aumentar o surto. Ele se referia aos atos contra quarentena registrados em diferentes locais, entre eles nos EUA e no Brasil

A agência, porém, aponta para a estabilização e ate queda de números em algumas partes da Europa.

"Globalmente, quase 2,5 milhões de casos foram registrados. Mais de 160 mil mortes. Vemos diferentes tendências em diferentes regiões e mesmo dentro de regiões", disse. "NA Europa Ocidental, vemos estabilidade ou queda de números. Mas há tendências preocupantes na América do Sul, Africa", disse. "Muitos países estão em estágio inicial. Outros veem reaparição de casos", afirmou.

Maria van Kerkhove, diretora técnica da OMS, confirmou que a situação sul-americana preocupa. "O que vemos é um aumento de tendência em vários países da América do Sul e Central e isso preocupa", disse, sem citar nomes de países. Segundo ela, o risco é de que, se o vírus se consolida e há transmissão entre pessoas, ele pode aumentar rapidamente e o número de casos pode dobrar em apenas três ou quatro dias. Hoje, são mais de cem mil casos no continente latino-americano.

Para a especialista, governos da região precisam se concentra em colocar em funcionamento laboratórios, sistemas de monitoramento e outras medidas para permitir a identificação de casos.

Segundo ela, alguns países estabeleceram medidas de distanciamento social. "Isso comprou tempo. Mas esses governos precisam usar esse tempo sabiamente", disse. "Ainda há uma janela de oportunidade para suprimir a transmissão e evitar surtos maiores", alertou. "A trajetória do surto depende de como países reagem", insistiu.

Atos anti-quarentena

Questionado sobre o protesto de cidadãos em diferentes partes do mundo contra a quarentena, Tedros insistiu que, no fundo, isso é uma questão de "confiança entre cidadãos e governos".

Mas deixou claro que "protestos não vão ajudar". "Eles só irão colocar combustível no surto", alertou.

Já Michael Ryan, chefe de operações da OMS, também insistiu sobre a necessidade de que tais protestos registrados em alguns países - inclusive em São Paulo e outras cidades brasileiras - sejam tratados por lideranças políticas como resultado de uma crise de confiança. Para ele, tais lideranças precisam adotar uma melhor comunicação. Para ele, existe ainda um risco de tais manifestações sejam dirigidas e manipuladas, o que seria negativo.

Mas alerta que a frustração das comunidades precisa ser lidada como um "processo de diálogo" em que líderes políticos expliquem por qual motivo uma estratégia está sendo implementada.

Pedindo transparência, Ryan ainda insistiu que tal frustração por parte da sociedade é ampliada quando há "confusão" entre diferentes níveis de governo. "As pessoas não sabem a quem escutar", alertou.

Ryan admitiu que quarentenas prolongadas "devem e podem ser evitadas". Mas com a condição de que governos sejam agressivos em lidar com o surto. "O risco é de se retirar essas medidas sem uma estratégia, alertou.

Longo Caminho

Na avaliação de Tedros, a ideia de que o fim da quarentena signifique o fim do vírus é uma ilusão. "Temos um longo caminho ainda pela frente. O vírus estará conosco por muito tempo", afirmou.

De acordo com o diretor da OMS, a estratégias de quarentena e ordens para ficar em casa foram "exitosas para reduzir transmissão". "Mas ele continua sendo muito perigoso e a maioria do mundo continua sendo suscetível, o que significa que existe um risco", afirmou.

De acordo com a OMS, países que tinham controlado a epidemia viram uma volta no número de casos.

"A complacência é maior perigo", alertou Tedros. "Entendemos que muitos querem continuar com suas vidas. A OMS também quer isso. Mas muito não podemos voltar ao mundo como ele era. Precisamos de um novo normal. Mais seguro e mais preparado", disse.

Para permitir essa transição para o fim de uma quarentena, a OMS insiste que governos precisam estabelecer sistemas que possam encontrar cada um dos novos casos e isolar as pessoas infectadas.

Tedros ainda esclareceu que testar todos os casos não significa testar todas as pessoas em uma sociedade. Mas insiste que o momento é de criar uma capacidade de reação, caso surtos voltem a ocorrer.

Um dos problemas é a falta ainda de preparação em diversos países. Segundo ele, pelo mundo, só 66% dos países têm sistema clínico de referência para casos de coronavírus e apenas 48% tem um plano de engajamento da sociedade. "Existem muitas lacunas na defesa", alertou.

Enquanto isso, na última semana, alguns países tiveram uma alta de 300% e 250% em número de casos. "Estamos no começo na África", alertou

Não renuncia

Sob forte ataque por parte do governo americano por ter supostamente sido lento em dar uma resposta à crise, Tedros voltou a se defender. Segundo ele, a declaração de emergência ocorreu no dia 30 de janeiro, quando existiam apenas 82 casos fora da China e apenas dez na Europa.

"A emergência foi declarada na hora certa e quando o mundo tinha tempo suficiente para responder. Era suficiente para cortar (o problema) pela raiz", alertou.

Questionado se atenderia um pedido políticos americanos próximos de Donald Trump para que renuncie, Tedros insistiu apenas que "vai continuar trabalhando dia e noite para salvar vidas".