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Jamil Chade

Em proposta de reforma, EUA querem blindar a OMS da influência chinesa

Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e presidente Jair Bolsonaro no resort de Mar-a-Lago, em Palm Beach, na Flórida - TOM BRENNER
Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e presidente Jair Bolsonaro no resort de Mar-a-Lago, em Palm Beach, na Flórida Imagem: TOM BRENNER

Colunista do UOL

01/05/2020 10h26

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O governo dos EUA quer uma reforma ampla da OMS, entidade que passou a ser questionada pela Casa Branca pela gestão da pandemia. Numa carta entregue aos demais governos no G7, Washington insiste na necessidade de que o sistema de alerta e de declaração de uma emergência seja modificado.

Além disso, tal proposta sugere medidas para ampliar a transparência das decisões e independência do organismo.

A Casa Branca quer, antes de apresentar formalmente o projeto na OMS, costurar uma aliança com seus principais parceiros, entre eles o Brasil. Procurado, o Itamaraty indicou que está avaliando ainda o projeto.

A ofensiva ocorre depois que Donald Trump anunciou que iria suspender suas contribuições, no valor de US$ 400 milhões, para a entidade. Seu gesto foi criticado duramente até mesmo por aliados.

Um dos elementos centrais da proposta de reforma é a questão da declaração de emergência. No dia 22 de janeiro de 2020, o comitê de emergência da OMS se reuniu para avaliar a situação do coronavírus. Mas não chegou a um consenso sobre a necessidade de declarar uma emergência internacional.

Numa nova reunião, no dia 30 de janeiro, a decisão foi finalmente tomada. Naquele momento, existiam apenas 82 casos da doença fora da China. Mas há quem defenda que essa semana teria sido fundamental na proliferação dos casos.

A proposta americana, porém, fala na possibilidade de que o comitê use diferentes níveis para alertar ao mundo. Antes de uma emergência global, portanto, a OMS poderia ter a oportunidade de lançar um sinal amarelo, indicando a iminência de uma crise.

China

Parte do pacote americano visa blindar a entidade da influência chinesa, cada vez mais presente na última década.

Mas uma das propostas mais polêmicas é a de permitir que a OMS convoque países que não informem corretamente as agências internacionais sobre eventuais riscos sanitários. Eles seriam alvos de exames. A OMS não tem o poder de impôr nenhum tipo de punições. O que a proposta traz é a possibilidade de que um país seja publicamente sabatinado se houver suspeitas de que escondeu um surto.

A reforma incluiria ainda medidas para garantir a transparência da cúpula da OMS. Causou mal-estar o fato de a agência ter passado dias tecendo elogios ao governo chinês. A direção da OMS e seu comitê de emergência ganhariam maior autonomia, pelo projeto dos EUA.

Há também um esforço para convencer a comunidade internacional e a OMS a passar por uma revisão de sua resposta diante da pandemia. Alemanha, Reino Unido, França e a própria ONU acreditam que tal avaliação precisa ser feita. Mas não em plena pandemia e que o foco hoje deve ser o de controlar o vírus.

Os ataques americanos contra a OMS ainda têm sido vistos como uma tentativa da Casa Branca em buscar um responsável pela crise. Tevês americanas revelaram que o governo americano pediu que a resposta da OMS fosse alvo de uma investigação por parte dos serviços de inteligência.

Na agência de Saúde, porém, o discurso é outro. Se a emergência internacional foi declarada no dia 30 de janeiro, o presidente Donald Trump apenas agiu seis semanas depois.