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Jamil Chade

Cloroquina deixa de ser autorizada na França para tratamento da covid-19

Presidente da França, Emmanuel Macron, em Paris -
Presidente da França, Emmanuel Macron, em Paris

Colunista do UOL

27/05/2020 05h29

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Dois dias depois de a OMS anunciar uma pausa em todos os testes com a hidroxicloroquina, o governo da França suspende o uso do remédio no tratamento da covid-19. As autoridades anunciaram a medida depois que o Conselho Superior de Saúde Pública - a agência reguladora na França - emitiu um parecer contrário ao uso do remédio para o tratamento contra a covid-19.

O que gerou as diferentes iniciativas pela Europa foi a publicação na revista científica The Lancet de um estudo alertando sobre a ineficácia e os riscos relacionadas à hidroxicloroquina.

Na terça-feira, o Conselho Superior de Saúde Pública - órgão que assessora o Ministério da Saúde - recomendou a suspensão das prescrições na França e indicou que o remédio deve ser limitado apenas a exames clínicos autorizados, pelo menos até que seja avaliada a relação entre os riscos e benefícios do remédio.

Agora, a recomendação foi traduzida em um decreto. Em março, o governo havia permitido o uso da hidroxicloroquina apenas para o uso hospitalar e somente em casos decididos por um colegiado de médicos. Com a decisão desta quarta-feira, o remédio apenas pode ser usado em testes científicos e não está autorizado a ser recomendado nos hospitais.

Imediatamente após o anúncio, a Agência Francesa de Medicamentos também declarou que estava iniciando um processo para suspender a inclusão de novos pacientes em ensaios clínicos que envolvessem a hidroxicloroquina.

Na França, o tratamento é defendido pelo polêmico professor Didier Raoult que atacou os resultados do estudo publicado pelo The Lancetet. "Temos 4.000 pacientes em nossas mãos, você não acha que eu vou mudar porque há alguns que fazem grandes dados, o que é uma espécie de fantasia, completamente delirante", disse o infectologista de Marselha.

Emmanuel Macron, presidente francês, chegou a fazer uma visita ao professor, para entender o potencial que o remédio poderia ter.

Os últimos dados registram apenas 358 novos casos de contaminação pelo coronavírus nas últimas 24 horas, número que vem se mantendo baixo desde o final da semana passada e abrindo esperanças de que, apesar do relaxamento da quarentena, os dois meses de confinamento funcionaram. No total, a França conta com 145 mil casos e 28 mil mortes, um número considerado elevado.

Na vizinha Suíça, hospitais de Genebra também anunciaram que tinham suspendido o uso da cloroquina há pelo menos três semanas.

Na quarta-feira passada (20), o Ministério da Saúde divulgou protocolo para aplicação da cloroquina e hidroxicloroquina em pacientes em todos os casos, inclusive os com sintomas leves, para tratar do novo coronavírus. O protocolo, que sugere a combinação dos dois medicamentos com azitromicina, é uma orientação para a rede pública de saúde.

O uso do medicamento é defendido pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e foi o principal ponto de divergência com o ex-ministro da Saúde Nelson Teich, que deixou o cargo na semana retrasada. O protocolo foi publicado no momento em que o ministério é comandado interinamente pelo general Eduardo Pazuello.

O protocolo, segundo o colunista Diogo Schelp, ampara-se em um parecer do Conselho Federal de Medicina (CFM), que reconhece a ausência de evidências de sua eficácia e admite que a Sociedade Americana de Doenças Infecciosas só recomenda o uso desses remédios em ensaios clínicos, ou seja, para fins de pesquisa.

Na quarta-feira, após a decisão do governo brasileiro, a OMS (Organização Mundial da Saúde) afirmou que, "nesse momento, a cloroquina e a hidroxicloroquina não foram identificadas como eficazes para o tratamento da covid-19", mas que que "cada nação é soberana" para "aconselhar seus cidadãos sobre qualquer tipo de medicamento".