Em telegrama, Itamaraty admite risco de barreira da China contra Brasil
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Num alerta enviado pela embaixada do Brasil em Pequim, o Itamaraty admite que existe o risco de que as exportações nacionais de carnes sejam alvos de barreiras por parte da China. Hoje, mais de um terço das vendas de carne do Brasil ao exterior tem o mercado chinês como destino.
O documento foi transmitido, em primeiro lugar, para o Itamaraty, em Brasília. A chancelaria, por sua vez, retransmitiu o texto para o setor privado no dia 17 de junho (quarta-feira), na esperança de alertar os exportadores.
O texto é claro: "na esteira do novo foco de COVID-19 em um mercado de alimentos nesta capital (Pequim), no dia 11/06/2020, as autoridades locais estão adotando medidas preventivas que poderão afetar as exportações brasileiras de produtos cárneos para o mercado chinês".
De acordo com a embaixada, pesquisadores do Centro para Prevenção e Controle de Doenças (CPCD) anunciaram que, segundo dados preliminares, "o vírus seria de uma variedade que passou por mutação na Europa". "O CPCD estuda a hipótese de que a contaminação possa ter ocorrido por meio de salmão importado. Embora pescados não possam ser vetores da doença, argumenta-se que o produto poderia ter sido contaminado durante a captura ou o transporte", diz o documento.
"Como medida preventiva, o Bureau Municipal para Regulação de Mercado anunciou que reforçará a inspeção sobre alimentos frescos e carnes congeladas. Diversos municípios chineses, por sua vez, determinaram a suspensão da importação e comercialização de pescados e carne bovina importados", indicaram.
O texto diz que, segundo empresários brasileiros, "grandes empresas importadoras foram orientadas por autoridades governamentais a realizar testes de ácido nucleico em amostras de carnes importadas, durante o processo de desembaraço aduaneiro".
"Devido aos custos e incertezas, alguns importadores suspenderam as compras e solicitaram que cargas já contratadas não sejam embarcadas", informa a embaixada.
"A depender dos resultados da investigação sobre a origem da contaminação no mercado de alimentos de Pequim, as autoridades chinesas poderão, eventualmente, impor restrições à importação de produtos cárneos brasileiros e/ou solicitar maiores informações sobre as medidas preventivas adotadas pelos frigoríficos para evitar a contaminação dos alimentos a serem exportados", completa a nota do Itamaraty.
Pandemia
Criticada internamente pela cúpula do governo brasileiro, a China é o principal destino das exportações nacionais e colocou a Ásia como destino de mais de 42% de todas as vendas nacionais. Essa posição ficou ainda mais consolidada durante a pandemia.
Entre janeiro e abril, as exportações brasileiras para a América do Norte caíram 18,5% e ainda sofreram uma contração de 21% para a América do Sul. Uma queda de 3,5% também foi registrada na Europa. Já para a Ásia, a alta foi de 15,5%, com a China registrando sozinha um salto de 11%.
Contando apenas o mês de abril, a China chegou a comprar 53% de tudo o que o Brasil exportou em termos de volumes.
De acordo com a FGV, a China representa 32,5% das exportações brasileiras nos cinco primeiros meses do ano. Quase 80% desse total é composto por commodities. As carnes, sob risco de um novo embargo, representam 10% de tudo o que o Brasil vende para a China.
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