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Jamil Chade

Ajuda do Brasil ao Líbano pode incluir acordo comercial

6.ago.2020 - O monumento ao Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, recebe iluminação especial com as cores da bandeira do Líbano, por iniciativa da comunidade libanesa no Rio de Janeiro, em homenagem às vítimas da explosão em Beirute - André Melo Andrade/MyPhoto Press/Estadão Conteúdo
6.ago.2020 - O monumento ao Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, recebe iluminação especial com as cores da bandeira do Líbano, por iniciativa da comunidade libanesa no Rio de Janeiro, em homenagem às vítimas da explosão em Beirute Imagem: André Melo Andrade/MyPhoto Press/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

17/08/2020 13h24

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Resumo da notícia

  • Plano de um acordo comercial entre Mercosul e Líbano seria forma de incentivar empresas locais
  • Projeto esbarra em incerteza sobre o futuro governo libanês

Autoridades brasileiras consideram propor uma aceleração das negociações para um acordo comercial entre o Mercosul e o Líbano. A medida seria uma forma de ampliar a ajuda da região ao país devastado por uma explosão que destruiu quase metade de sua capital, Beirute, no início de agosto.

Na semana passada, uma comitiva brasileira liderada pelo ex-presidente Michel Temer viajou até o país no Oriente Médio. Consultas políticas e entregar doações estiveram no centro da agenda da missão.

Mas membros da comitiva revelaram à coluna que a possibilidade de um acordo comercial foi um dos temas avaliados pelos representantes de Brasília. O projeto brasileiro é de que o apoio ao Líbano não irá se limitar às doações e formas concretas de incentivos estão sendo avaliadas.

De acordo com o senador Nelsinho Trad, (PSD/MS), presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, a retomada de um processo negociador seria um "sinal positivo" na relação entre os dois países. "Essa seria uma forma prática de ajudar na recuperação econômica do Líbano", defendeu o senador, que esteve na missão oficial ao país no Oriente Médio. Segundo ele, o projeto está sob consideração.

No Itamaraty, a ideia de um acordo é vista como "ideal". Mas, realistas, negociadores brasileiros temem que um processo de conclusão de um acordo esbarre em dificuldades em ambos os lados.

A ideia é de que, com uma redução de tarifas para produtos libaneses, as exportações de certos setores poderiam ser incentivadas. O Líbano vive uma de suas maiores crises econômicas em décadas, com um salto de 49% na taxa de desemprego em apenas oito meses.

O projeto de um acordo comercial entre Líbano e o Mercosul não é novo. Desde 2015, reuniões vêm ocorrendo para definir setores e modalidades da possível liberalização. Em 2016, negociadores de ambos os lados realizaram intercâmbio de dados de comércio e tarifas.

Em outubro de 2019, uma primeira rodada de negociações formais chegaram a ocorrer em Buenos Aires. Mas, segundo diplomatas, um obstáculo foi a sensibilidade do setor de vinho, azeite e azeitonas. O segmento colocaria em concorrência direta produtos da Argentina e do Líbano.

O bloco, em 2018, exportou US$ 579 milhões ao Líbano, com um comércio composto essencialmente de carnes, café, chá e açúcar. Já Beirute exportou US$ 31,5 milhões, com a predominância de fertilizantes.

Um dos obstáculos, porém, é a incerteza política no Líbano. Com a queda do governo, uma definição de uma nova administração pode atrasar qualquer ideia de negociação e arrastar o processo por meses.

Um elemento que afetou ainda o processo foi a decisão oficial da Argentina, em abril de se desligar de todas as negociações externas conduzidas pelo Mercosul. Além do Líbano, existiam projetos com a Coreia do Sul, Cingapura, Canadá e Índia. "A Argentina deixou claro que a incerteza internacional e o estado de nossa economia sugerem interromper o progresso nessas negociações", disse o ministério das Relações Exteriores da Argentina em comunicado divulgado naquele momento.

Dentro do governo brasileiro, há quem sustente a ideia de que a retirada da Argentina dos projetos externos pode, até mesmo, ajudar a acelerar projetos que estavam suspensos.