Número de famintos vai quase dobrar este ano, preveem ganhadores do Nobel
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Nesta sexta-feira, o PMA (Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas) recebeu o prêmio Nobel da Paz, numa decisão que serviu de alerta ao planeta sobre o impacto sem precedentes do coronavírus. Com base nos avanços dos primeiros 15 anos do século 21, o plano da ONU era de que, até 2030, a fome fosse erradicada. O vírus, porém, matou um dos sonhos mais antigos da humanidade.
Projeções obtidas pela coluna indicam que o salto no número de famintos nos locais onde a agência trabalha poderia ser de mais de 80% até o final de 2020, atingido um total de 270 milhões de pessoas em 83 países.
Para a entidade da ONU, o risco é de uma "pandemia da fome".
O PMA alerta que a pandemia da covid-19 irá empurrar um número ainda maior de pessoas para a fome, acima das previsões que estavam sendo realizadas até meados do ano. O resultado será a transformação da crise sanitária numa crise social que ameaçaria a paz.
Em 2019, o programa atendeu 97 milhões de pessoas e, no início da crise, a estimativa era de que esse número poderia chegar a 138 milhões. Agora, a projeção já fala de um número bem maior.
O "corredor da fome" na América Latina
De acordo com o PMA, a América Latina vive um dos piores cenários no mundo. Mesmo que a entidade não inclua países como Argentina, Chile, Brasil e Mexico — por não operar nesses locais — ela estima que em 11 nações do continente 14 milhões de pessoas vão precisar ser socorridas pela distribuição de alimentos. Em 2019, esse número era de 3,4 milhões.
Só no Haiti, o número passou de 700 mil para 1,6 milhão. No corredor El Salvador, Guatemala, Honduras e Nicarágua, o salto foi de 1,6 milhão em 2019 para mais de 3 milhões em 2020.
Os refugiados e imigrantes venezuelanos na Colômbia, Peru e Equador também precisarão de mais ajuda. No ano passado, o PMA ajudou a 540 mil pessoas. Em 2020, precisará atender a mais de 1 milhão.
Na avaliação da entidade, o resultado dessa explosão de famintos pode ser um aumento da agitação social e dos protestos, dos fluxos de imigrantes, além de uma intensificação de conflitos e a subnutrição generalizada entre populações que antes eram imunes à fome.
US$ 4,9 bilhões para um semestre lidando com a fome
Todos os demais estudos apontam para a mesma direção. O Banco Mundial, por exemplo, estima que a pandemia interrompeu 20 anos de avanço no combate à pobreza, enquanto alerta para mais de 150 milhões de pessoas extras sendo incluídas no exército de miseráveis.
O PMA, diante do cenário, organizou a maior operação de alimentação da história. Em meados do ano, a agência de alimentos pediu US$ 4,9 bilhões durante os próximos seis meses para seu trabalho de salvamento de vidas em 83 países.
Mas, poucos meses depois, os cofres continuavam vazios. Há menos de um mês, o diretor-geral do PMA, David Beasly, decidiu ir ao Conselho de Segurança da ONU fazer um alerta: ou a comunidade internacional destina dinheiro para combater a fome ou haverá uma onda de conflitos e turbulências sociais.
"Existem 2 mil bilionários no mundo, com uma fortuna de US$ 8 trilhões. Só no meu país, os Estados Unidos, temos doze pessoas que valem mais de US$ 1 trilhão", disse Beasley, que foi governador da Carolina do Sul pelo partido Republicano.
"Não me oponho que ganhem dinheiro. Mas a humanidade está enfrentando a maior crise que conhecemos em nossa geração", alertou.
Quando mundo parou, PMA operou voos de emergência
Quando o mundo parou por conta da quarentena, foi o PMA quem operou aviões para abastecer de alimentos cerca de 132 países, com quase 400 voos de emergência. A operação por pouco não teve de ser paralisada diante da falta de recursos.
Em julho, o orçamento de US$ 965 milhões para manter o serviço aéreo até o final do ano estava amplamente abalado. A entidade tinha apenas 14% do recurso exigido.
Os picos da fome também são evidentes na África Ocidental e Central, que viu um salto de 135% no número de pessoas em situação de insegurança alimentar, bem como na África Austral, onde houve um aumento de 90%.
De acordo com a agência, a crise sanitária se desenvolve em um momento em que o número de pessoas ameaçadas pela fome no mundo já havia aumentado quase 70% nos últimos quatro anos, agravando os efeitos das mudanças climáticas, conflitos e choques socioeconômicos em regiões do mundo que anteriormente haviam escapado dos severos níveis de insegurança alimentar.
Para completar, o coronavírus ganhou força no momento em que os estoques de alimentos em algumas partes do mundo já estão baixos.
"Nesta época do ano, muitos agricultores estão aguardando novas colheitas. As estações de furacões e monções estão começando, enquanto os recordes de invasões de gafanhotos na África Oriental e os conflitos estão aumentando as perspectivas já desafiadoras para os famintos do mundo", alertam os ganhadores do Nobel.
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