Com número recorde de covid-19, Europa teme novo colapso de hospitais
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Hans se aposentou como médico em Genebra há dois anos. Comprou uma casa nas redondezas da cidade e passou a se dedicar ao seu jardim, a levar seu cão para passear e a planejar uma viagem ao exterior por ano com sua esposa. Do segundo andar de seu chalé, a vista permite um panorama privilegiado do Lago Leman.
Mas quando, no últimos domingo, ele viu uma mensagem do principal hospital da rica cidade de Genebra apelando para que médicos e enfermeiros aposentados voltassem ao trabalho, não pensou duas vezes e decidiu que irá retornar ao posto.
O apelo era para que voluntários e médicos já aposentados retornassem ao trabalho diante do aumento rápido de novos casos da covid-19.
Nos últimos dias, cidades como Genebra, Milão, Paris e tantas outras registraram saltos expressivos no número de novos casos, com um total de testes positivos em apenas sete dias já superando a marca do pico da doença em março e abril. Em alguns dias da semana passada, a Suíça registrou 6 mil novos casos, um número seis vezes maior que o momento mais dramático da pandemia na primavera do hemisfério Norte.
Para a OMS, não existem mais dúvidas: a Europa voltou a ser um dos epicentros da crise. Dos 445 mil casos confirmados em 24 horas pela agência na segunda-feira, metade estava na Europa. "Os próximos meses vão ser muito difíceis e alguns países estão em um caminho perigoso", disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.
Ainda que a taxa de ocupação de leitos de UTI continue apenas 25% do pico de abril, os dados revelam que a expansão tem sido mais acelerada do que se imaginava e que, de novo, nem todos estão prontos. Em 21 países europeus, a taxa de ocupação atingiu já níveis considerados como "preocupantes".
O primeiro-ministro francês, Jean Castex, declarou na terça-feira a parlamentares que, se nenhuma nova medida for tomada para frear a doença, as unidades de UTI do país estarão saturadas até o dia 11 de novembro.
"Em muitas cidades da Europa, a capacidade de UTI será alcançada nas próximas semanas. E essa é uma situação preocupante já que estamos em outubro", disse Maria van Kerkhove, chefe do departamento técnico da OMS. "A preocupação que temos são os números de indivíduos que precisam ser hospitalizados", apontou.
Quase 40 mil novas mortes foram notificadas durante a última semana no mundo e 2,8 milhões de casos, o maior número em sete dias, desde o início da pandemia.
Segundo os dados da OMS, a Europa é responsável pela maior proporção de novos casos, com mais de 1,3 milhão, um aumento de 33% nos casos em comparação à semana anterior.
O número de mortes continua aumentando na região, com um salto de 35% em relação à semana anterior e representando quase um terço de todas as novas mortes no mundo. No total, foram 11,7 mil óbitos.
"Embora o número de mortes esteja a aumentar gradualmente, a proporção permanece relativamente baixa, em comparação com a fase inicial da pandemia", explicou a OMS. Mas o temor é de que, com os hospitais chegando ao limite de suas capacidades, esse número possa aumentar rapidamente.
Hospitais começam a lotar
Na última semana, estima-se que 18% dos casos notificados foram hospitalizados na Europa, com 7% dos pacientes hospitalizados a necessitarem de UTI ou apoio respiratório. No País de Gales, o aumento acentuado de casos incrementou a pressão sobre os trabalhadores do setor de saúde.
"Houve também um aumento acentuado do número de internações em UTIs entre os casos de COVID-19 com idade superior a 65 anos na Inglaterra", indicou um informe da OMS.
Na República Tcheca, a taxa de mortes já é a maior desde o início da pandemia e a previsão é de que os hospitais estejam na capacidade máxima em meados de novembro.
Na região da Lombardia, duramente afetada na primeira onda, hospitais de campanha que tinham sido fechados voltaram a ser reabertos em Milão e Bergamo.
Na França, a transferência de pacientes para locais com mais recursos também já começou. O país confinou dois terços de seus 67 milhões de habitantes. Mas o impacto apenas deve ser visto em duas semanas e, ainda assim, não existem garantias de que as medidas sejam suficientes.
Na segunda-feira, o governo em Paris anunciou 50 mil novos casos de contaminação, com uma parcela dos especialistas indicando que o vírus estava "fora de controle". "A epidemia está acelerando muito", disse o presidente francês Emmanuel Macron.
Outro problema é a fadiga dos profissionais de saúde. Na Irlanda, por exemplo, o governo admite que já não conta com funcionários suficientes para manter seu sistema de rastreamento de contatos funcionando.
A situação foi criticada pela OMS que alertou que, por terem superado algumas das principais doenças do século 20, a Europa teria desmontado sistemas de monitoramento e rastreamento de surtos. Agora, o continente paga um preço elevado.
Mas a nova onda de casos reabre o debate sobre as disparidades na Europa em termos de preparação. Enquanto países sofrem para lidar com a nova fase, a Alemanha oferece vagas em seus hospitais para a transferência de pacientes estrangeiros.
Na Holanda, o governo teve de pedir ajuda da Alemanha para receber seus pacientes, com vários deles sendo transportados em helicópteros. Existem negociações ainda em andamento para que hospitais alemães recebam pacientes de Praga. Já na primeira fase da crise, os alemães acolheram mais de 230 pacientes de toda a Europa.
Hoje, o país indica que tem mais de 8.100 leitos de UTI livres, com cerca de 21.500 ocupados. Há também uma reserva de cerca de 12.700 leitos que podem ser ativados se necessário.
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