Nacionalismo de vacinas ameaça o mundo com "fracasso moral catastrófico"
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Resumo da notícia
- 39 milhões de doses já foram aplicadas em países ricos. Mas apenas 25 nos pobres
- OMS defende que países ricos não vacinem toda sua população até que profissionais de saúde nos países mais pobres também recebam doses
Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, denunciou os países ricos e empresas farmacêuticas por estarem aprofundando a disparidade social no mundo diante da falta de uma distribuição justa de vacinas contra a covid-19.
Hoje, segundo ele, 39 milhões de doses já foram administradas nos países ricos e alguns países emergentes. Já nos países pobres, apenas 25 pessoas foram "imunizadas". "Não estamos falando de 25 milhões. Apenas 25 mesmo", lamentou Tedros.
"Vamos ser claros: o mundo está à beira de um fracasso moral catastrófico. E o preço será pago com vidas nos mais pobres", alertou em um discurso em Genebra nesta segunda-feira, na abertura da reunião do Comitê Executivo da OMS.
Sua acusação é de que governos, no lugar de buscar uma coordenação internacional, estão optando por fechar acordos bilaterais, o que tem gerado um aumento de preços das vacinas e esvaziado as prateleiras.
Em 2020, 44 acordos bilaterais foram fechadas, além de outros doze nas duas primeiras semanas de 2021.
Tedros ainda não poupa crítica às farmacêuticas, acusadas por ele de ter dado prioridade para a a certificação de suas vacinas nos países ricos, ignorando o registro na OMS. O objetivo, segundo ele, seria o de garantir um maior retorno financeiro, já que a autorização na Europa e EUA permitiria a venda inicial nessas regiões.
Ainda em 2020, a OMS criou uma aliança de vacinas para garantir que os países mais pobres sejam vacinados. Mas o mecanismo - conhecido como Covax - enfrenta desafios, falta de dinheiro e de contribuição dos países ricos.
"A vacina é uma enorme conquista científica. Mas o surgimento de novas variantes fazem que as vacinas sejam ainda mais importantes. Mas temos o risco real de que vacina se transforme em mais um tilo no muro da desigualdade", alertou.
Para Tedros, "não é correto" que governos ricos vacinem toda sua população, inclusive adultos jovens, antes que idosos e profissionais de saúde nos países mais pobres sejam atendidos.
Em nome dos países africanos, o governo de Burkina Fasso criticou durante a reunião da OMS a falta de distribuição da vacina. "Estamos preocupados com a possibilidade de que a vacina esteja sendo acumulada por um punhado de países e pedimos que a vacina seja declarada um bem público", alertou. O governo do Quênia também fez um apelo no mesmo sentido.
Tedros ainda lembrou que o mundo não pode repetir as histórias da Aids e do H1N1. "Há 40 anos, um virus gerou uma pandemia. Mas passou mais de uma década antes que os pobres pobres recebessem tratamento. Há doze anos, outro virus surgiu. Mas pandemia terminou antes que os pobres recebessem uma vacina. Há um ano, outro virus gerou uma pandemia. Vacinas foram criadas. O que ocorre agora depende de nós", alertou.
"Temos oportunidade de contar outra história, evitando os erros da Aids", defendeu.
Segundo ele, enquanto governos e empresas adotam um discurso oficial de cooperação, a realidade dos bastidores é radicalmente diferente. "Tentam furar a fila, fechar acordos bilaterais e gerando uma inflação nos preços", disse.
Tedros aponta que, se não houver um acordo, o risco é de que o mercado global se transforme em um "caos", com impactos sociais. "Isso vai ser um tiro no pé e só irá prolongar a pandemia e nossa dor", alertou.
A meta da OMS é de que, nos primeiros cem dias de 2021, todos os países do mundo tenham iniciado campanhas de vacinação. Para isso, Tedros pede que empresas não forneçam mais doses do que os países precisam para seus idosos e profissionais de saúde.
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