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Jamil Chade

REPORTAGEM

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Maior fundo do mundo corta R$ 15 bi em investimentos no Brasil

                                 Tragédia em Brumadinho ocorreu em 25 de janeiro de 2019                              -                                 Antonio Cruz/ Agência Brasil
Tragédia em Brumadinho ocorreu em 25 de janeiro de 2019 Imagem: Antonio Cruz/ Agência Brasil

Colunista do UOL

25/02/2021 13h15

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O maior fundo soberano do mundo, o da Noruega, reduziu seus investimentos no Brasil no valor de US$ 2,8 bilhões (cerca de R$ 15,4 bilhões), enquanto aumentou os controles sobre questões de direitos humanos e ambientais e, de outro lado, fez maiores apostas na Ásia e no setor de tecnologia.

Nesta quinta-feira, o fundo apresentou seu relatório anual e indicou que, apesar da crise sanitária, terminou 2020 com um aumento de 10% em seus ativos, num salto de US$ 128,5 bilhões.

Em 2019, o fundo destinava US$ 9,6 bilhões investidos no Brasil, dos quais 10% iam para a Petrobras. Um ano depois, o valor foi de US$ 6,8 bilhões. Se no final de 2019 os noruegueses destinavam 0,9% do fundo ao Brasil, a taxa caiu para 0,5% em 2020. No total, 151 empresas brasileiras contam com recursos ou investimentos dos noruegueses, incluindo bancos, empresas aéreas, varejo, transporte e saneamento.

Nos dados apresentados pela entidade, não há uma explicação para o corte. Mas a redução ocorre no mesmo momento em que os noruegueses optaram por excluir empresas brasileiras de seu portfólio de investimentos.

Em maio, o fundo anunciou que retirou a Vale e Eletrobras de seus investimentos, por conta de violações de direitos humanos e a falta de compromisso com a proteção do meio ambiente.

Com US$ 1,3 trilhão e recursos alimentados principalmente com a renda do petróleo, o Fundo de Pensão do Governo na Noruega suspendeu ações em outras empresas pelo mundo. O veto também serve de sinalização ao mercado.

Uma das empresas afetadas foi a Vale, depois de uma avaliação do risco que a empresa representa para "danos ambientais graves". "Foi recomendado que a Vale fosse excluída em decorrência de repetidas rupturas de barragens", explicou a entidade, num comunicado naquele momento.

Famílias de vítimas de Brumadinho e Mariana chegaram a fazer apelos nessa direção, justamente para conseguir aumentar a pressão internacional sobre a empresa brasileira.

Para explicar a decisão, o Conselho de Ética do Fundo emitiu um comunicado indicando para os casos de Mariana e Brumadinho.

"O incidente (de Mariana) causou a morte de 19 pessoas e teve sérias conseqüências ambientais. O relatório de um inquérito encomendado pela BHP Billiton apontou graves falhas na barragem. Os defeitos eram de natureza tal que tornava provável que a empresa tivesse conhecimento deles", apontou o Conselho de Ética, na Noruega.

"Em janeiro de 2019, outra das barragens da Vale no Brasil entrou em colapso, causando um total provisório de 237 fatalidades", indicou. "A investigação deste acidente ainda não foi concluída, mas há várias semelhanças entre os dois incidentes. Defeitos foram identificados na construção, manutenção e monitoramento das barragens. A Vale possui um total de 45 barragens no Brasil", explicou.

O Conselho de Ética emitiu sua recomendação em 12 de junho de 2019. O Norge Bank anunciou sua decisão de excluir a empresa do investimento em 12 de maio de 2020. A demora em tomar a decisão ocorre, em alguns casos, para que haja tempo suficiente para que o fundo possa vender sua participação ou retirar eventuais investimentos em ações e outros ativos.

Belo Monte e indígenas

A diretoria executiva também decidiu pela exclusão da empresa Centrais Elétricas Brasileiras S.A. (Eletrobras) "por risco inaceitável de que a empresa contribua para violações graves ou sistemáticas dos direitos humanos".

"Foi recomendado que a empresa fosse excluída por violações de direitos humanos relacionadas com o desenvolvimento da usina de Belo Monte no Brasil", explicou o banco no comunicado.

Num comunicado, o Conselho de Ética do fundo explicou a recomendação:

"A Eletrobras é uma empresa brasileira de energia engajada em diversos projetos de energia hidrelétrica. A avaliação é em grande parte baseada no papel da Eletrobrás na construção da usina de Belo Monte. Muitos territórios indígenas são severamente afetados pelo projeto. O projeto tem levado ao aumento da pressão sobre as terras indígenas, à desintegração das estruturas sociais dos povos indígenas e à deterioração de sua subsistência", alertou.

"O projeto também resultou no deslocamento de pelo menos 20.000 indivíduos, incluindo pessoas com um modo de vida tradicional que costumavam ter suas casas em ilhas e margens de rios que agora estão submersas", indicou.

"O Conselho de Ética também dá peso ao fato de a Eletrobrás ter se envolvido recentemente em outros projetos hidrelétricos que foram criticados por violações de direitos humanos, e que pretende participar de novos projetos hidrelétricos", explicou.