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Jamil Chade

REPORTAGEM

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OMS alerta que crime se infiltra e pede repressão em vacinação clandestina

Colunista do UOL

26/03/2021 14h28

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Resumo da notícia

  • Agência ainda diz que acusação de Lula contra Bolsonaro de que presidente age de forma deliberada contra sua população é ir "longe demais"
  • Para OMS, mundo vive uma "guerra" e sofre quinta semana de alta em número de casos, mesmo com vacinas

A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta para a explosão de grupos criminosos envolvidos no mercado internacional de vacinas e pede que cidadãos evitem compras paralelas, sob o risco de serem imunizados com produtos falsificados ou reutilizados, o que significaria um risco para a saúde.

Nesta sexta-feira, a Polícia Federal deflagrou a Operação Camarote, na qual investiga uma vacinação clandestina que teria ocorrido numa empresa de transporte de Belo Horizonte. A PF suspeita de importação irregular de vacinas contra a covid-19.

"Grupos criminosos estão explorando a escassez de vacinas", disse Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da OMS. "Pelo mundo, ministérios e agências reguladoras estão recebendo ofertas suspeitas", destacou o executivo da agência.

No Brasil, a Polícia Federal também lançou uma operação para investigar um grupo que supostamente ofereceu 200 milhões de doses da vacina ao governo federal em nome de um consórcio farmacêutico. Um empresário teria alegado que atuava como representante exclusivo da gigante AstraZeneca e tentou vender doses ao Ministério da Saúde.

Além de golpes, a OMS também aponta para casos de desvios de vacinas de pacotes oficiais de governos e suas introduções em mercados privados. "O problema, entre outros, é que não sabemos se, nesse desvio, as cadeias frias que preservam as vacinas têm sido respeitadas", alertou.

Outra constatação da OMS se refere à proliferação da venda de vacinas falsificadas na Internet, além de casos de corrupção e mesmo a comercialização de recipientes vazios, com supostamente o imunizante.

"Isso é de enorme preocupação", disse Tedros. "Pedimos a destruição correta dos recipientes e das seringas e para que a população não compre vacinas fora de programas oficiais de governos", insistiu.

No Brasil, denúncias foram apresentadas sobre vacinações clandestinas, abrindo inclusive investigações. "Essas doses podem ser falsificadas e causar sérios danos à saúde", insistiu o diretor-geral da OMS.

Seu apelo é para que governos, autoridades e pessoas denunciem casos de ofertas clandestinas de vacinas. "Pedimos que qualquer venda suspeita seja relatada aos governos para que essas autoridades nos informem", disse Tedros.

O temor da OMS é de que, em casos de efeitos colaterais ou problemas de saúde, o mercado ilegal acabe afetando a confiança nas vacinas.

Bolsonaro age contra sua população? OMS acha que isso é "ir longe demais" na acusação

Em sua coletiva de imprensa nesta sexta-feira, a OMS foi questionada sobre uma declaração do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, em entrevista a uma agência estrangeira de notícias, afirmou que o presidente Jair Bolsonaro teria tomado medidas deliberadas contra seu povo. Na entrevista, Lula também qualifica a crise como "o maior genocídio" já vivido pelo país.

Mike Ryan, diretor de operações da OMS, optou pela diplomacia. "Todos os países enfrentam desafios", disse. "Mas precisamos ver que líderes políticos estão em posição difícil diante das demandas da população", justificou. "É muito difícil e precisa levar em consideração a perspectiva global", defendeu o irlandês.

Ryan, defendendo que um cenário mais complexo seja considerado, alerta que chegar a tais conclusões seria "simplista" e "uma simplificação exagerada".

"Não acredito que seja verdade. Na vasta maioria dos casos, independente da ideologia, a maioria dos líderes tentam fazer o seu melhor para sua população", insistiu. "Eles nem sempre agem de forma perfeita. É parte do processo das imperfeições que vemos na aventura humana. Mas isso é ir longe demais em dizer que líderes estão indo num caminho desenhado contra sua própria população", insistiu.

"Mas isso não quer dizer que líderes não cometem erros", completou.

Ele também foi questionado sobre a troca de acusações entre governos europeus e mesmo ataques de líderes contra russos e chineses por conta das vacinas.

"Algumas dessas tensões vêm da posição em que as pessoas se encontram. Onde eles estão no argumento e quem os está influenciando e gritando a eles", disse.

"Estamos em guerra": casos aumentam, mesmo com vacinas

O que chama a atenção ainda da OMS é que, mesmo com a vacinação ganhando ritmo em diversos países pelo mundo, a agência registrou a quinta semana consecutiva de alta no número de novos contaminados pela covid-19.

O temor é de que a população esteja abandonando medidas de cuidado, diante da perspectiva da imunização. Um exemplo é o Chile, que é um dos países que mais avançou na vacina, mas que vive o início de mais uma onda de casos.

Segundo Maria van Kerkhove, diretora técnica da OMS, essa é uma tendência que está sendo registrada em vários países. "Nos últimos sete dias, vimos um aumento de 15% nos casos no mundo, e um aumento em todos os seis continentes", disse.

Para ela, a vacinação desigual é uma das explicações. Mas também aponta para o abandono de medidas de controle social. "Isso precisa continuar, enquanto a vacina não chega para todos", insistiu. "Vai levar tempo para que a vacina reduza transmissão e mortes", explicou.

Bruce Aylward, conselheiro da OMS, também aponta que não existem hoje "doses suficientes de vacinas para mudar a rota da pandemia". "Precisamos usar as demais medidas ao mesmo tempo", defendeu.

"Estamos em guerra. Mas não entre nós. E sim contra o vírus", disse. Segundo ele, o momento é de "muita tensão e muita emoção" e que troca de acusações entre líderes é "da natureza do conflito". "Vão ser meses difíceis", alertou.

Maria van Kerkhove também insistiu nesse aspecto. "A pandemia não acabou. Ainda estamos em sua fase aguda e é o vírus que, em muitas partes do mundo, controla nossas vidas", lamentou.