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Jamil Chade

REPORTAGEM

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OMS: mutação na Índia é "variante de preocupação" em nível mundial

Vista área do cemitério Nossa Senhora Aparecida, em Manaus - Michael Dantas/AFP
Vista área do cemitério Nossa Senhora Aparecida, em Manaus Imagem: Michael Dantas/AFP

Colunista do UOL

10/05/2021 13h05

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Resumo da notícia

  • Mutação indiana se soma às variantes identificadas no Brasil, Reino Unido e África do Sul como sendo potencialmente ameaçador
  • Em termos globais, pandemia para de se expandir, mas patamar é considerado como "inaceitável" pela OMS

A OMS aponta que, pela primeira vez em mais de dois meses, a pandemia da covid-19 deixou de crescer. Mas a agência alerta que o platô atingido é "inaceitavelmente elevado", com mais de 5,4 milhões de casos por semana e 90 mil mortes. A OMS ainda reclassificou a mutação do vírus identificado na Índia como sendo uma "variante de preocupação em nível global" diante de sua maior transmissibilidade e alerta para o risco que isso pode representar.

"Vimos uma queda em todas as regiões, inclusive nas Américas. Qualquer queda em números é bem-vinda. Mas já vimos isso antes. Vimos como reaberturas aceleradas fizeram com que ganhos fossem perdidos", disse Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da OMS.

Para ele, governos e indivíduos precisam examinar os riscos que a volta de contatos possa gerar. Nos últimos dias, com o relaxamento de medidas de controle na Europa e com a primavera ganhando força, ruas das capitais do continente foram tomadas por pessoas que há meses não eram autorizadas a sair pela noite ou ir a bares.

"Qualquer contato é risco", alertou Tedros. Segundo ele, enquanto o Hemisfério Norte começa a registrar temperaturas mais elevadas e tem levado as pessoas a promover aglomerações, no Sul a chegada do frio conduz a população para locais mais fechados. "Ambos cenários geram diferentes riscos", indicou o diretor-geral.

Enquanto isso, porém, a OMS destaca como a cidade de Wuhan já permite a realização de shows com 10 mil pessoas, todas sem máscaras. "Esses são os benefícios do controle do vírus", disse Mike Ryan, diretor de operações da OMS. "São locais que fizeram enormes sacrifícios e agora colhem os frutos", apontou, citando ainda a Austrália e Nova Zelândia.

"Não foi a vacina que gerou esse controle. Mas as escolhas que agora dão resultados", disse. De acordo com Ryan, o governo de Pequim "continua vigilante" e surtos são "rapidamente abafados". Para a OMS, a China mostrou o que deve ser feito em termos de controle e destacou como medidas consistentes ao longo de meses permitiram evitar uma transmissão comunitária.

Mutação indiana é classificada como "variante de preocupação" em nível mundial

Mas o combate contra a pandemia está longe de um fim. Há pouco mais de dois meses, o registro era de 2 milhões de novos casos por semana. A taxa subiu para um recorde de 5,7 milhões há duas semanas e, nos últimos sete dias, caiu para 5,4 milhões.

Não há, segundo a OMS, qualquer motivo para comemorar e um dos aspectos considerados como ameaçadores é a mutação do vírus identificado na Índia e que levou o país a bater recordes em termos de novas contaminações.

A partir de agora, a mutação conhecida como B1617 passará a ser considerada pela OMS como "variante de preocupação mundial". Os indícios apontam que há uma maior taxa de transmissão e uma potencial redução de impacto das vacinas.

Com essa reclassificação, ela se une às variantes P1, identificada no Brasil, além de mutações no Reino Unido e África do Sul numa lista de variantes que representam ameaças.

A reclassificação significa que existe um risco real de que o vírus afete outros territórios e que abale o combate contra a pandemia em novas regiões.

Apesar da reclassificação, a OMS insiste que está provado que medidas como distanciamento social funcionam, assim como o uso de máscaras e operações de testagem e identificação.

Nas últimas semanas, a situação indiana levou a um colapso do sistema de saúde e impediu que o país que era a grande esperança de exportação de vacinas pudesse atender aos pedidos pelo mundo.

A OMS ainda anunciou o início de uma campanha de doação para arrecadar recursos para ajudar o governo indiano a dar uma resposta à crise que, hoje, é a pior do mundo. O dinheiro será usado pela OMS para comprar e enviar materiais ao país. Não houve, em nenhum momento, uma campanha internacional de doações para o Brasil liderada pela OMS.

Lucros, geopolítica e a desigualdade "chocante" na distribuição de vacinas

Em sua coletiva de imprensa nesta segunda-feira, a agência ainda fez um alerta contra empresas que passaram a buscar de forma clara objetivos financeiros na venda de vacinas. Para a OMS, porém, as multinacionais precisam avaliar os resultados para a saúde global e colocar sua produção em mecanismos que permitam uma distribuição mais justa. A ideia da entidade é de que as doses não estejam à disposição apenas para aqueles que podem pagar por elas.

Outro alerta da OMS se refere às decisões de governos que produzem vacinas de usar as doses para garantir maior influência política pelo mundo. "Diplomacia de vacinas é manobra geopolítica. Não é cooperação", alertou Tedros.

Nos últimos meses, China, Rússia, Índia e EUA têm travado uma batalha internacional usando suas doses para garantir alianças políticas e ampliar suas esferas de influência.

"Só a cooperação poderá acabar com pandemia. Não podemos derrotar o vírus por meio de competição, seja ela uma competição por recursos ou vantagens políticas", disse Tedros. "A escolha é clara: cooperação", defendeu.

Para a OMS, vacinas reduzem mortes e pode gerar uma queda em transmissão. "Mas a chocante disparidade é um dos maiores riscos para acabar com a pandemia", disse Tedros.

Segundo ele, países ricos e emergentes somam 53% da população do mundo, mas contam com 83% das vacinas já distribuídas. Já os países mais pobres representam 47% da população. Mas receberam apenas 17% das doses.