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Biden alerta Putin e diz que ataques contra democracia serão respondidos
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Resumo da notícia
- Putin se recusa em ceder sobre Navalny e compara opositor aos invasores do Capitólio; "ridículo", responde Biden
- Presidente americano apresentou 16 setores que não poderão ser alvo de ataques cibernéticos e fala em ingerência intolerável em democracia americana
- Putin: Biden é "muito diferente" de Trump.
Entre os dois líderes, um globo terrestre deixava claro que o que estava em jogo era o futuro da agenda internacional. A primeira reunião entre o presidente dos EUA, Joe Biden, e o presidente russo Vladimir Putin foi concluída nesta quarta-feira, depois de menos de três horas de debate sobre alguns dos pontos mais críticos na relação entre os dois países.
Para ambas as delegações, a cúpula foi positiva por ter sido uma oportunidade clara de iniciar um diálogo que estava em seu ponto mais baixo. Palavras e termos como "pragmatismo" e "aceitar em discordar" foram repetidos tanto pelo Kremlin como pela Casa Branca.
Mas, nem por isso, o encontro foi marcado por entendimentos. O líder russo ouviu de uma forma muita clara um alerta por parte de Biden: ataques cibernéticos contra infraestrutura essencial e contra a democracia "não serão toleradas" e o governo americano dará uma resposta à altura se for alvo.
A reunião terminou com um entendimento para restabelecer a presença diplomática nas respectivas capitais e a criação de um processo de consultas sobre ataques cibernéticos. Mas não houve qualquer aproximação sobre a situação de direitos humanos e de opositores. Putin ainda fez questão de negar qualquer responsabilidade sobre os ataques cibernéticos e culpou os EUA.
No encontro, Biden ofereceu a Putin uma relação estável entre "grandes potências", uma sinalização de que os EUA estão dispostos a reconhecer o papel dos russos no mundo. Para negociadores, seria também o reconhecimento da coexistência de duas potências que estariam "de acordo em estar em desacordo". Mas que se respeitariam mutuamente.
Segundo um dos negociadores, não se trata de um oferecimento de uma aliança. Mas um esforço de garantir maior estabilidade entre as duas potências nucleares.
A tensão antes do encontro era de tal ordem que um breve encontro com a imprensa antes da reunião acabou se transformando em um empurra empurra e gritos entre jornalistas, representantes da Casa Branca e seguranças do Kremlin.
O encontro foi mais curto do que ambas as delegações imaginavam. Uma das provas de que não a reunião foi apenas um primeiro passo foi a decisão de ambos os lados de não realizar uma coletiva de imprensa conjunta.
O primeiro a aparecer diante da imprensa foi Putin. Ele qualificou o encontro como sendo "construtivo" e garantiu que "não houve hostilidade". "Pelo contrário. Tivemos sinais de confiança e esperança", disse. "Foi uma conversa franca, sem evitar temas", afirmou.
"Biden é uma pessoa equilibrada, construtiva e experiente", disse. "Ele tem valores morais, falamos a mesma língua. Não vamos prometer amor eterno. Países têm suas relações baseadas em pragmatismo", insistiu Putin. O russo também lembrou que o americano é "bem diferente" de Trump.
Mas Biden minimizou os elogios, não retribuiu e deixou claro que não se tratava de "amor e abraços". "Não somos melhores amigos. É negócio", disse.
Ataques cibernéticos: proposta de acordo e ingerência "intolerável"
Um dos pontos mais críticos da agenda foi a acusação da ação dos russos para desestabilizar o Ocidente por meio da proliferação de desinformação e ataques virtuais. O Kremlin é acusado de ter montado uma verdadeira operação de milícia digital para minar eleições em democracias, minar a confiança nas instituições e enfraquecer o bloco ocidental.
Putin anunciou que os dois países chegaram a um acordo para começar consultas sobre esse ponto. Mas deixou claro que as devidas responsabilidades precisam ser "esclarecidas" e negou que seja o responsável pela ofensiva. Em sua versão, grande parte dos ataques tem origem nos EUA, Canadá, América Latina e Reino Unido. Para ele, são os americanos os "maiores violadores".
"Sabemos quais são nossas linhas vermelhas e concordamos em trabalhar juntos sobre segurança cibernética", disse. "Mas a escala de responsabilidade deve ser alvo de negociações", disse, lembrando que os russos também são ameaçados por ataques coordenados a partir do território americano.
Biden apresentou uma versão diferente dos fatos. O americano apresentou uma proposta para que fosse estabelecido regras. 16 entidades e estruturas essenciais nos EUA teriam de ficar de fora de qualquer eventual ação virtual da Rússia, incluindo o sistema de água e energia. "Essas estruturas não podem ser atacadas e estão fora de limite", disse. Um grupo será criado para avaliar como estabelecer essas regras.
Mas Biden também alerta Putin: não irá tolerar uma interferência na democracia americana . Para ele, será a credibilidade do russo no mundo que será afetada se ele continuar com tais atos.
"Não vamos tolerar que se desestabilizar democracia e as eleições. Temos de ter regras para que avançar", defendeu o presidente americano.
Numa conferência de imprensa radicalmente diferente de Putin, Biden também alertou que qualquer ataque neste sentido será respondido. "Eu disse que temos significativa capacidade cibernética. Se ele violar essa regra, vamos responder de forma cibernética. Ele sabe", disse Biden.
O americano acredita que Putin não quer uma Guerra Fria com os EUA, inclusive por ter em sua fronteira uma China que amplia suas influências. "Você está numa situação em que sua economia patina e não está buscando uma Guerra Fria. Não é se abraçar e amar. Mas não é de interesse de ninguém uma Guerra Fria e ele entende isso", afirmou Biden.
Putin compara Navalny a invasores do Capitólio e Biden responde: "ridículo"
A lista de desentendimentos transbordou ainda para outros temas. Biden também apresentou suas preocupações sobre a situação de opositores de Putin. Alexey Navalny, hoje detido, é apenas um deles. O americano deixou claro que uma morte de Navalny teria impacto. "Eu disse claramente que as consequências serão devastadoras para a Rússia", alertou Biden. O presidente ainda indicou que sempre terá de falar de democracia e direitos humanos com Putin ou com qualquer outro presidente e criticou a falta de liberdade de imprensa.
Apesar de a cidade de Genebra ter sido bloqueada em diversos bairros para a cúpula e de escolas, restaurantes e lojas terem sido fechadas, um grupo de manifestantes conseguiu erguer em uma ponte um cartaz no qual questionava o envenenamento de Navalny.
"Nenhuma investigação, senhor Putin?", dizia. Diante da imprensa para a foto oficial, Putin ainda teve de ouvir de uma jornalista: "por qual razão o senhor teme Navalny?". O russo não respondeu.
Manifestantes ainda compraram espaço publicitário em diferentes pontos da cidade para colocar mensagens críticas às violações de direitos humanos Rússia.
Putin, porém, rejeitou ceder sobre o tema. Sem citar em nenhum momento o nome do opositor, o presidente russo insistiu que Navalny "deliberadamente" violou as leis do país e "queria ser preso".
Putin ainda alertou que opositores russos estariam servindo a uma agenda americana e lembrou que o Congresso dos EUA chegou a declarar a Rússia como adversária. Para ele, ao apoiar Navalny, o que os americanos fazem é querem enfraquecer Moscou.
O russo ainda comparou a situação dos opositores russos aos movimentos que, em janeiro de 2021, invadiram o Capitólio. "As pessoas foram ao congresso americano e enfrentam processo legal hoje. Eles são chamados de terroristas. Sob quais argumentos? não está claro. Uma mulher morreu. Ela não representava uma ameaça. Não queremos a mesma coisa ocorrendo aqui", disse.
Biden não aceitou o paralelo. "Isso é uma comparação ridícula", afirmou, lembrando que os invasores do Congresso eram "criminosos".
Assassino?
A realização de duas coletivas de imprensa também deixou claro que as acusações mútuas continuaram. Putin culpou os americanos por criar instabilidade em sua região. "Queremos criar estabilidade. Mas, para isso, precisamos de regras claras sobre segurança estratégia", disse.
Já Biden insistiu que a instabilidade vem do comportamento de Putin e propôs a criaçäo de um grupo de dialogo sobre estabilidade estratégica, na esperança de abrir um debate sobre como monitorar novas armas e evitar uma "guerra acidental".
Mas a relação entre os dois homens ainda está distante de ser uma de amizade. Putin explicou que Biden o telefonou para esclarecer quando ele concordou com um jornalista sobre o fato de o russo ser um "assassino".
Ambos indicaram que o tema já tinha sido superado. Mas Putin deixou claro em traçar comparações com a situação americana. "Vejam as ruas americanas. As pessoas estão sendo mortas la", disse. Putin ainda citou ataques contra civis no Afeganistão, torturas em prisões secretas mantidas pelos americanos e Guantanamo. "Isso é o respeito pelos direitos humanos?".
Questionado se confiava em Putin, Biden também foi claro em sua hesitação. "Isso não é sobre confiança. É sobre interesse próprio. Vamos ver o que ocorre", completou.
Novos embaixadores
A lista de desentendimentos era extensa e o próprio chefe da OTAN, Jens Stoltenberg, deixou claro que a relação entre o Ocidente e a Rússia está em seu ponto mais baixo. Não havia uma expectativa de um grande acordo ou do fim de impasses em temas delicados. Mas sim a busca por encontrar um caminho para criar uma estabilidade na relação bilateral.
Para isso, era necessário superar um impasse fundamental: a ausência de embaixadores em Washington ou Moscou. Biden e Putin decidiram voltar a aceitar a presença dos diplomatas que devem ser restabelecidos ainda neste fim de semana.
Mas a crise vai muito além do protocolo. Autoridades russas estão sob sanções americanas pelas ações na Ucrânia, um conflito congelado e não resolvido. Para americanos e aliados europeus, a crise ucraniana é a prova de que, se não for barrado, Putin avançará com seus interesses, independente do direito internacional.
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