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OMS pede reforço de medidas sociais; só vacina não para a covid no Brasil
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Resumo da notícia
- Com quase 500 mil mortos no Brasil, entidade pede que recomendação de uso de máscaras seja reforçada e que aglomerações sejam evitadas
- OMS fala em fracasso na distribuição global de vacinas, mas elogia produção doméstica brasileira e tentativa de governo de diversificar abastecimento
Às vésperas de registrar oficialmente 500 mil mortos pela covid-19, o Brasil recebe um alerta por parte da OMS (Organização Mundial da Saúde). Nesta sexta-feira numa coletiva de imprensa em Genebra, a entidade deixou claro que "a pandemia não terminou", que vacinas por si só não resolverão e medidas como o uso de máscaras e evitar aglomerações precisam ser reforçadas e implementadas com mais rigor.
O recado vai no sentido contrário do que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem definido no país nos últimos dias, com sugestão do fim do uso de máscara e proliferando atos que geram aglomerações.
No mundo, a pandemia registra uma queda importante, com uma redução de novos casos chegando a 14% na semana e a menor taxa de infecção desde fevereiro. Em três meses, o total semanal de contaminados caiu pela metade e as mortes também começam a ser reduzidas de forma importante.
Mas a OMS alerta que dois mundos começam a ser formados. Um deles, com ampla vacinação e depois de meses de medidas de controle, começa a se abrir. Estádios com público, a volta de restaurantes e festas voltam a ser imagens de uma Europa que redescobre certas liberdades de movimento.
Mas um segundo mundo, ainda mergulhado na pandemia, ainda aguarda por vacinas e vê a expansão do número de casos. Essa é a situação do Brasil e da América do Sul.
Mariângela Simão, vice-diretora da OMS, foi clara em sua mensagem de alerta. "É com muita tristeza que a OMS vê o Brasil atingindo esses números de óbito e os números de pessoas afetadas", disse, lembrando que o mundo já soma 3,8 milhões de vítimas fatais.
"A OMS gostaria de se solidarizar com todas as famílias que perderam pessoas queridas", disse.
Mas ela insistiu que, apesar dos números elevados, o hemisfério ocidental continua a ser alvo de uma expansão da doença.
"É importante ressaltar que os casos nas Américas, inclusive no Brasil, ainda permanecem em patamares muito altos", insistiu. Para ela, porém, houve uma certa perda de força no país nas últimas semanas.
A representante da OMS parabenizou o Brasil por sua capacidade de produção local de vacinas que permitiu aplicar já um total de 80 milhões de doses.
Mas ela alertou que "ainda há uma grande necessidade de implementar mais fortemente e reforçar os usos das medidas preventivas de saúde pública".
Mariângela Simão admite que houve "uma controvérsia" no Brasil nos últimos dias sobre o tema, numa referência à sugestão de Jair Bolsonaro de avaliar o fim do uso de máscara.
Mas ela insiste que o uso "consistente" da proteção continua sendo recomendado pela OMS, quando não é possível manter o distanciamento.
Ela ainda apontar para a necessidade de evitar aglomerações e outras medidas sociais, como limpeza de mãos e etiqueta respiratória. "São medidas que continuam sendo centrais, ao lado da cobertura vacinal que está se fazendo gradativamente", disse.
"É importante ressaltar que essa pandemia não terminou", disse. De acordo com a diretora, a crise continua a colocar "pressão sobre a saúde pública por conta da transmissão comunitária muito alta". "Todos os esforços para a vacina precisam ocorrer em conjunta com o reforço de medidas de saúde pública", defendeu.
Mike Ryan, diretor de operações da OMS, também alertou para o surgimento de variantes e a pressão sobre serviços públicos. "Temos de andar mais rapidamente do que estamos fazendo, tanto em evitar a transmissão e distribuir os benefícios da vacina", disse.
A chegada de Marcelo Queiroga ao Ministério da Saúde foi comemorada na OMS como uma oportunidade para que medidas sociais pudessem, finalmente, começar a ser implementadas. Mas o alerta agora é para que tais ações sejam reforçadas.
A OMS ainda aplaudiu o esforço da pasta para "diversificar" o abastecimento de vacinas no país.
Um dos pontos centrais da CPI da pandemia tem sido a investigação sobre a recusa ou hesitação do governo, por meses, de embarcar em uma operação para ampliar a compra de doses de diferentes fornecedores, como a Pfizer ou a Covax.
Crise vai piorar com fracasso global de distribuição de doses
Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, deixou claro que a falta de medidas sociais e a desigualdade no acesso às vacinas continuam a dar a possibilidade para que o vírus continue a se expandir.
"O fracasso global de distribuição de vacinas está alimentando a crise e está cobrando um preço elevado", disse Tedros. Segundo ele, muitos países latino-americanos estão vivendo uma expansão no número de casos, enquanto a alta na África é de mais de 50% em um mês.
"Essa situação deve ficar ainda pior", alertou Tedros. Segundo ele, apenas 1% da população africana foi vacinada. "Doar vacinas no ano que vem é muito tarde para quem está morrendo hoje", insistiu o etíope, que pressiona empresas e governos a acelerar as doações prometidas ainda para o mês de junho e julho. Na reunião do G7, na semana passada, governos anunciaram 870 milhões de doses para os países mais pobres. Mas não deram datas sobre quando isso ocorreria.
A meta da OMS é de conseguir vacinar 10% de todos os países mais pobres em setembro, 40% em dezembro e atingir 70% em meados de 2022. Isso, segundo Tedros, será crítico para acabar com a pandemia.
Mas os dados da agência mostram a distância que existe ainda a ser percorrida. Entre os 79 países mais pobres, apenas 3 deles conseguiram vacinar no mesmo ritmo dos países desenvolvidos.
Bruce Aylward, representante da OMS para vacinas, revelou ainda que entre 30 e 40 países pelo mundo já tiveram de suspender a administração da segunda dose da vacina, por falta de produtos.
"Acabaram os estoques em muitos deles", disse Kate O'Brian, também da OMS.
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