Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Sistema de espionagem que Bolsonaro ensaiou compra visou 180 jornalistas
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
Estamos sob ataque. Há um plano e um objetivo. As vítimas não são os jornalistas. Mas sim a democracia e a liberdade.
Neste domingo, alguns dos principais jornais do mundo revelaram como repórteres, colunistas e editores de todo o mundo foram alvos de uma possível espionagem por meio de um software criado por uma empresa de Israel. Pelo menos 180 profissionais estavam em uma lista obtida pela imprensa internacional e que revela o interesse de clientes em espionar os telefones desses jornalistas.
O software Pegasus foi criado pelo grupo NSO, de Israel. De acordo com publicações como "The Washington Post", "The Guardian" e "Le Monde", uma lista de até 50 mil números de telefone pode ter sido alvo do sistema nos últimos cinco anos. Os documentos foram inicialmente obtidos pelas entidades Anistia Internacional e a Forbidden Stories.
Nem todos esses números chegaram a ser hackeados. Mas a lista inclui profissionais de meios como "The Wall Street Journal", CNN, "The New York Times", Al-Jazeera, France 24, Radio Free Europe, Mediapart, "El País", Associated Press, "Le Monde", Bloomberg, "The Economist", Reuters e Voice of America.
De acordo com os jornais, dois dos números de telefone pertencem a mulheres próximas do jornalista saudita Jamal Khashoggi, morto por um esquadrão saudita em 2018 na Turquia. A lista ainda traz o número de telefone de um jornalista mexicano que foi assassinado.
Muitos desses jornalistas estavam em locais como Azerbaijão, Barein, Hungria, Índia, Cazaquistão, México, Marrocos, Ruanda, Arábia Saudita e Emirados Árabes.
Em maio, o UOL revelou com exclusividade como Carlos Bolsonaro ensaiou a compra do mesmo equipamento. A licitação em questão era a de nº 03/21, do Ministério da Justiça, no valor de R$ 25,4 milhões. O lobby do filho do presidente abriu um racha entre o Planalto e parte da inteligência brasileira. Carlos Bolsonaro, na época, ironizou a reportagem.
Agora, as revelações apontam que a espionagem contra jornalistas não é uma iniciativa de amadores ou governantes isolados que, desesperados, optam por silenciar a imprensa e ativistas. Os detalhes das reportagens mostram que o trabalho é sistêmico, profissional e amplo.
Um dos usuários do sistema estaria na Hungria, país comandando por Viktor Orban e um dos poucos aliados de Jair Bolsonaro pelo mundo. Ao longo de uma década, as autoridades de Budapeste conseguiram estrangular a imprensa e a guinada autoritária no país do Leste Europeu passou a ser consideradas como referências em Brasília.
Alguns meses antes da pandemia começar, em uma viagem para a capital da Hungria, estive com um dos poucos editores independentes que ainda consegue sobreviver financeiramente no país. O local do encontro foi um centro cultural alternativo, sede de movimentos progressistas e LGBT sob ataque.
No meio de nossa conversa numa mesa afastada das demais, um homem se aproximou dizendo que admirava muito a coragem do jornalista húngaro. E ofereceu uma cerveja. O editor agradeceu, encerrou o diálogo com o estranho e sequer tocou no copo oferecido durante toda a noite, que permaneceu naquela mesa como uma espécie de símbolo da desconfiança que vivem profissionais sob constante ataque e monitoramento.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.