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Mortes e alerta climático na Europa ampliarão pressão sobre Bolsonaro
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Resumo da notícia
- Governos da UE serão pressionados por opinião pública a dar respostas imediatas sobre mudanças climáticas
- Para negociadores, políticos europeus não terão espaço para justificar uma aproximação ao Brasil neste momento
- Diplomatas apontam que possibilidade de uma ratificação do acordo comercial entre Mercosul e UE ameaça ser afetada
As mais de 180 mortes na Europa por conta das chuvas e inundações dos últimos dias estão servindo como um alerta a alguns dos países mais ricos do mundo de que as mudanças climáticas desembarcaram em seus territórios e que eles terão de agir imediatamente.
Ao visitar um dos locais mais atingidos, a chanceler Angela Merkel foi clara: "teremos de incrementar nossa luta contra as mudanças climáticas". Dias antes, foi o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte que, também adotou o mesmo tom.
A própria Organização Meteorológica Mundial apontou que existem evidências cada vez mais claras de uma relação entre eventos extremos e mudanças climáticas causadas pela ação humana.
Para especialistas, diplomatas e fontes em diferentes parlamentos pela Europa, o resultado do desastre climático dos últimos dias será uma ampliação da pressão popular sobre governantes da UE para que coloquem os temas ambientais no centro do debate e para que se recusem a aceitar acordos ou uma aproximação com governos que não sigam a mesma linha.
Um dos temas que deve ganhar uma renovada atenção é a situação na Amazônia e a incapacidade do governo brasileiro de convencer a comunidade internacional que está compromisso em reduzir o desmatamento.
"Com mortes em nossos quintais por conta do impacto das mudanças climáticas, qual político europeu hoje terá a coragem de sair em defesa de um acordo com o Brasil de (Jair) Bolsonaro?", questionou um diplomata europeu, sob a condição de anonimato.
No próprio Itamaraty, negociadores admitem que o tema ambiental promete ganhar um destaque ainda maior na relação com a Europa, diante dos últimos acontecimentos.
Uma das esperanças do governo brasileiro era de avançar a ratificação durante a presidência rotativa da UE nas mãos de Portugal, nos primeiros seis meses de 2021. Mas a agenda não evoluiu. Agora, o bloco europeu terá a presidência da Eslovênia até o final do ano e, em suas prioridades, o acordo comercial com o Brasil não é citado.
A coluna apurou que, poucos dias antes das mortes, num debate no Parlamento Europeu, o braço executivo da UE, foi pressionado por deputados que exigiam respostas por parte de Bruxelas sobre o que estava sendo feito para pressionar o Brasil a modificar sua postura ambiental.
Parlamentares pelo continente insistiam já antes das quase 200 mortes que não haveria um acordo comercial entre a UE e o Mercosul enquanto o Brasil não desse demonstrações de compromissos reais com a redução do desmatamento.
O tratado foi assinado em 2019, depois de 20 anos de negociações. Mas, para entrar em vigor, precisa ser ratificado por todos os parlamentos europeus e, até agora, alguns deles já adotaram moções contra o acordo.
Erika Berenguer, pesquisadora sênior das universidades de Oxford e Lancaster no Reino Unido, avalia que para, os europeus, "as mudanças climáticas pararam de ser algo que ocorre em algum lugar distante, como o Ártico ou ate a Amazônia, e passou a ser algo que afeta diretamente a vida da população, matando mais de uma centena de pessoas num único evento".
"Isso pode ser atuar como um momento de virada na opinião pública, o que por sua vez pode afetar acordos comerciais uma vez que o desmatamento é uma grande fonte de gases de efeito estufa", disse.
Ela ainda indica que está particularmente interessada em como vai ser a postura dos países europeus na COP26, a reunião ministerial em novembro, para observar se houve influência dos eventos extremos recentes no posicionamento diplomático nas negociações.
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