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Com doses suficientes, OMS lança plano para encerrar fase aguda da pandemia
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Resumo da notícia
- Secretário-geral da ONU chama falta de distribuição de "estúpida e imoral"; obstáculo não é produção, mas concentração de doses nas mãos de poucos
- 1o parte da meta é atingir 40% de cada país com doses até dezembro de 2021 e 70% até junho de 2022
- OMS pede envolvimento do Brasil para ajudar comunidade internacional a chegar acordo de transferência de tecnologia
O mundo conta com uma produção suficiente de vacinas para colocar um fim à fase aguda da pandemia até o final do ano. Mas as doses terão de ser distribuídas de forma igualitária até dezembro se essa meta quiser ser atingida.
Nesta quinta-feira, a OMS e a ONU lançaram um plano de vacinação mundial. Uma primeira etapa seria a de atingir 40% da população de cada país até o final de 2021, o que significaria o fim da fase aguda da crise. Em um segundo momento, a meta é de 70% até junho de 2022. Para isso, o plano precisa de 8 bilhões de dólares, além de transferência de tecnologia.
Na avaliação das entidades, não existe falta de produtos e nem fornecimentos nos próximos meses. O maior obstáculo, porém, é a concentração de doses nas mãos de um número pequeno de países.
Antônio Guterres, secretário-geral da ONU, alertou que não distribuir vacinas hoje "não é apenas imoral, mas também estúpido". A lógica é simples: enquanto enormes populações não são protegidas, elas poderão gerar novas variantes do vírus que, em algum momento, poderão criar resistência à vacina. Essa mutação, portanto, poderia voltar a atacar os países que gastaram bilhões de dólares para vacinar suas populações, jogando por terra todo o esforço de imunização.
Tanto a ONU como a OMS apontam que não há mais um problema de produção de doses. Por mês, 1,5 bilhão de vacinas estão sendo produzidas e, portanto, até meados de 2022 o mundo verá 11 bilhões de doses fabricadas.
Hoje, 6,5 bilhões de doses já foram administradas e um terço do mundo está protegido. Mas 75% delas foram apenas para os países ricos e os principais emergentes, contra apenas 5% na África.
Para Antonio Guterres, secretário-geral da ONU, "a desigualdade da distribuição de vacinas é a maior aliada da pandemia, permitindo que variantes ganhem espaço, mortes e perdas de trilhões de dólares".
Guterres revelou que propôs a criação de um comitê formado por empresas e governos para garantir essa vacinação global. "Mas não fui ouvido", lamento. Segundo ele, no lugar de um plano, o que se viu foi nacionalismo e diplomacia da vacina. Para Guterres, esse caminho fracassou.
Guterres alerta que a primeira meta estabelecida pela OMS, de vacinar 10% da população de cada país até o final de setembro, não foi atingida. "Não chegamos nem perto", lamentou. Mais de 50 países ficaram fora da meta e precisariam de apenas uma semana de produção mundial para que o objetivo fosse atingido.
Para o secretário-geral da ONU fez um apelo para que os países do G-20 deixem apenas de fazer promessas a apresentem suas doações.
Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, também alertou que o mundo está "à beira do precipício do fracasso" se a vacina não for levada a todos. "Não há um problema de fornecimento. Mas de distribuição", disse. "Temos doses suficientes, se elas forem distribuídas", insistiu.
Um dos mecanismos defendidos pela OMS para garantir a distribuição de vacinas é a suspensão de patentes. Mas europeus e alguns poucos países rejeitam um acordo neste sentido. Bruce Aylward, representante da agência, pediu que o governo brasileiro ajuda os demais países a chegar a um entendimento, diante de sua experiência sobre o tema e sua capacidade de produção.
Para Tedros, se existe um tratado que permite tal quebra de patentes, o momento para usá-lo é agora. "Se não, temos de nos perguntar por qual motivo ele existe", completou.
Para atingir as metas, a ONU e a OMS recomendam aos governos:
- Trocar os cronogramas de entrega da vacina, com COVAX para aumentar a cobertura nos países necessitados;
- Cumprir e acelerar os compromissos de distribuição de vacinas e doação à COVAX a curto prazo, para aqueles com promessas existentes;
- Estabelecer novos compromissos de compartilhamento de doses para facilitar o progresso em direção à meta de 70% de cobertura em cada país.
Os países produtores de vacinas devem:
- Permitir o livre fluxo de vacinas e matérias primas acabadas;
- Permitir a produção diversificada de vacinas, tanto geográfica quanto tecnologicamente, inclusive através de licenciamento não exclusivo e transparente e compartilhamento de know-how para permitir a transferência de tecnologia e a ampliação da fabricação.
Os fabricantes de vacinas COVID-19 devem:
- Priorizar e cumprir os contratos da COVAX com urgência;
- Fornecer transparência total sobre a produção mensal global de vacinas COVID-19 e cronogramas mensais claros para fornecimentos à COVAX, AVAT e países de baixa e média renda, para permitir um planejamento adequado a nível global e nacional e o uso otimizado de suprimentos escassos;
- Envolver e trabalhar ativamente com países que tenham alta cobertura e que tenham contratado grandes volumes de vacinas para permitir a priorização dos contratos da COVAX e AVAT, inclusive através de trocas de cronograma de entrega, e facilitar o compartilhamento rápido e precoce da dose;
- Comprometer-se a compartilhar o know-how mais rapidamente, facilitar a transferência de tecnologia e fornecer licenças voluntárias transparentes e não exclusivas, para garantir que o fornecimento futuro de vacinas seja confiável, acessível, disponível e implantado em todos os países em volumes e prazos que alcancem acesso equitativo.
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