Topo

Jamil Chade

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Brasil só testa 0,58 a cada mil habitantes por dia, metade da média mundial

Teste antígeno positivo para covid-19 - SUAMY BEYDOUN/AGIF - AGÊNCIA DE FOTOGRAFIA/ESTADÃO CONTEÚDO
Teste antígeno positivo para covid-19 Imagem: SUAMY BEYDOUN/AGIF - AGÊNCIA DE FOTOGRAFIA/ESTADÃO CONTEÚDO

Colunista do UOL

28/01/2022 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Apesar dos apelos repetidos por parte de cientistas e das agências internacionais sobre a necessidade de se mapear onde está a infecção pelo coronavírus, dados globais sobre a testagem revelam que o Brasil tem uma taxa de testes que é apenas metade da média mundial e dez vezes menor que a prática nos países ricos.

O levantamento foi realizado pela Find, a aliança global para diagnósticos e responsável pelo pilar sobre testagem no ACT Accelerator, iniciativa criada a partir da OMS para dar uma resposta à pandemia.

Entre 23 de janeiro de 2021 e 23 de janeiro de 2022, os números coletados pela entidade apontam que foram realizados diariamente 0,58 testes por cada mil habitantes no Brasil. No mundo, porém, a média é de 1,1 teste por dia para cada mil pessoas.

A OMS (Organização Mundial da Saúde) compara a situação a um bombeiro apagando um incêndio com os olhos fechados. Há meses, a entidade faz um apelo para que governos em todo o mundo ampliem os testes de covid-19 e alerta que, sem um sistema de diagnósticos, não há como identificar a rota e tendências da doença.

Índice de testage de Covid-19 - Arte/UOL - Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

Nesta sexta-feira, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tomará uma decisão sobre a aprovaçãp ou não dos autotestes de covid-19 no Brasil.

Se inicialmente a Find buscou dados do governo brasileiro para construir seu mapa mundial, a agência em 2021 foi obrigada a buscar novas fontes de informações diante do apagão de informações oficiais.

Mesmo na América do Sul, a média é de um teste por dia para cada mil pessoas. No Chile, a taxa de testes é quase seis vezes maior que o índice brasileiro. Na região, um país que adota um comportamento similar ao do Brasil é o Paraguai.

A comparação com os países mais ricos revela uma disparidade ainda maior. No grupo que envolve algumas das maiores economias do mundo, a taxa fica acima de cinco testes diários. Nos EUA, a média é de mais de 4 testes por dia. Na Europa, a taxa é ainda maior: 5,7 testes por dia para cada mil pessoas.

Alguns dos índices mais elevados do mundo estão de fato no continente europeu. No último ano, foram em média 47 testes feitos diariamente para cada mil habitantes na Dinamarca. Na Áustria, foram mais de 38, contra 14 no Reino Unido.

Pela média obtida no levantamento da entidade, testa-se menos no Brasil que em locais como Ruanda (0,7) ou Iraque (0,8). A taxa brasileira é ainda parecida a um dos países mais pobres do mundo, o Lesoto (0,4 testes por mil habitantes).

A defasagem do Brasil com o resto do mundo ainda ficou escancarada quando um dos principais representantes da OMS, Bruce Aylward, apresentou um mapa mundial ao Conselho Executivo da agência, nesta semana, usando justamente os dados da Find. No gráfico, a cor vermelha intensa para designar locais onde a taxa de testagem era a baixa pintava alguns países africanos e o Brasil.

Ao avaliar a questão dos testes durante a reunião da OMS com governos, nesta semana, Aylward foi claro. "A profunda disparidade não ocorre apenas com vacinas. As taxas de testes têm diferenças extraordinárias. Sem lidar com essas diferenças, não entenderemos a pandemia, não podemos direcionar tratamento e não podemos sair da pandemia", alertou.

De acordo com os dados do levantamento, houve inclusive uma queda nos testes diários no Brasil em 2022, atingindo meros 0,03 testes por dia para cada mil pessoas, índices comparáveis apenas aos que existem na África.

No período de um ano, a taxa de positividade foi de 33% no caso brasileiro, contra apenas 3% no Reino Unido e uma média de 5% nos países desenvolvidos.