Topo

Jamil Chade

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Brasil evita condenar Putin, mas pede retirada de militares e diálogo

Colunista do UOL

21/02/2022 23h56

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Menos de uma semana depois de visitar o presidente Vladimir Putin, em Moscou, o governo de Jair Bolsonaro fez um apelo para que o direito internacional e a Carta da ONU sejam preservados, diante da decisão do Kremlin de reconhecer as regiões separatistas da Ucrânia e de enviar "tropas de paz". Mas, ao contrário de vários outros governos, o Itamaraty evitou condenar diretamente o chefe de estado russo e não fez qualquer tipo de referências a eventuais sanções contra Moscou.

A posição brasileira foi anunciada nesta noite, numa reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU, em Nova York.

Ronaldo da Costa Filho, embaixador do Brasil nas Nações Unidas, admitiu que a tensão na região da Ucrânia está se deteriorando diariamente. "Sabemos quão critica a situação se tornou", disse.

Segundo ele, o governo brasileiro acompanha a situação "com preocupação". "Na situação atual, precisamos pedir uma desescalada (militar) e apoiar esforços diplomáticos para que haja uma solução pacífica", defendeu.

"Um inescapável primeiro objetivo é um cessar-fogo imediato, com uma desmobilização das tropas e equipamentos militares em solo", defendeu o embaixador. Segundo ele, a desmobilização militar seria um passo importante para reconstruir a confiança entre os negociadores.

Sem citar sanções ou a adoção de uma resposta contra Moscou, o Itamaraty também deu sinais de uma ginástica diplomática, tentando citar tanto o apelo da Ucrânia como acenando que as demandas de Vladimir Putin devem ser consideradas.

Se de um lado o governo mencionou a necessidade de se manter a integridade territorial como um dos princípios e respeitar a Carta da ONU, o governo brasileiro insistiu que "preocupações legítimas" de todos e os Acordos de Minsk devem ser respeitados.

Crítica à postura brasileira

Nos últimos dias, o governo de Joe Biden tem criticado o Brasil, por uma postura considerada como dúbia por parte do presidente Jair Bolsonaro. O Itamaraty retrucou, alegando que o posicionamento do governo foi sempre de apoio ao diálogo e aos Acordos de Minsk.

Na ONU, nesta noite, o diplomata brasileiro fez um apelo para que o diálogo seja mantido, com o objetivo de encontrar a paz. Ele ainda fez um apelo por um cessar fogo e a retirada de militares para abrir espaço para diplomacia

Antes da declaração do governo brasileiro, o escritório do secretário-geral da ONU condenou as ações do governo russo, insistindo que a hora é de diálogo. "O risco de um conflito é real", disse.

Na mesma reunião, o governo dos EUA criticou Putin e alertou que mundo não pode virar o rosto. Para a Casa Branca, trata-se de um "ataque contra a Ucrânia, violação do direito internacional e desafio Carta da ONU".

Segundo os americanos, Putin quer "criar um pretexto para invasão da Ucrânia". "O impacto deverá ir além da região e irá gerar uma crise de refugiados pela Europa e sofrimento", disse.

Washington, que anunciou uma primeira rodada de sanções, acredita que Moscou está "testando o sistema internacional" e prometeu uma resposta dura. "Pela força, ele fará uma farsa da ONU", disse a diplomacia americana no Conselho de Segurança.

Durante o encontro, os EUA fizeram um apelo para que o mundo se uma contra os gestos da Rússia. "Um ataque contra a Ucrânia é um ataque contra todos os membros da ONU. A diplomacia é único local que pode garantir a paz", afirmou.

A Casa Branca ainda denunciou o fato de que Putin tenha declarado que Moscou tem direitos sobre os territórios que faziam parte do Império Russo. "Mas o mundo não está em 1919, mas sim em 2022", alertou.

O governo da França também condenou a ação dos russos e alertou para a adoção de sanções. A representação da Albânia também criticou os russos, enquanto Índia e outros países que fazem parte do Conselho também condenaram os gestos de Putin.

  • Veja as últimas informações sobre a crise entre Rússia e Ucrânia, análises de Josias de Souza e Jamil Chade e mais notícias no UOL News com Fabíola Cidral: