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Jamil Chade

REPORTAGEM

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Após 12 anos, Brasil adere ao maior centro de física do mundo

Colunista do UOL

02/03/2022 06h54

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Depois de doze anos de negociações, o governo brasileiro e o Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (Cern, na sigla em francês), em Genebra, assinarão a adesão do país à entidade, considerada como o maior centro de pesquisas física do mundo e local de origem da Internet.

O processo, agora, terá de contar com a aprovação do Congresso para garantir a participação do Brasil. Mas, segundo o Ministério da Ciência e Tecnologia, o orçamento da pasta já reservou os recursos necessários para que a contribuição anual do país seja realizada. Estima-se que o Brasil terá de pagar US$ 10 milhões por ano para formalizar a participação.

A adesão será assinada nesta quinta-feira, numa cerimônia em Genebra com a presença do ministro de Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes.

"Esse acordo é uma espera de doze anos da comunidade científica e também do setor produtivo do Brasil", afirmou o ministro. Segundo ele, o acordo permitirá o intercâmbio maior de pesquisadores e o envolvimento de entidades brasileiras em projetos internacionais.

Segundo ele, para o setor produtivo o acordo também trará resultado, já que empresas poderão fornecer equipamentos para as expansões do Cern e manutenções previstas no sistema.

Para o ministro, o investimento de US$ 10 milhões por ano será recuperado pela venda de produtos das empresas nacionais, num mercado global.

De acordo com o Cern, porém, a adesão apenas entrará em vigor quando o processo de ratificação ocorrer no Congresso. O prazo para isso ocorrer é de um ano.

O projeto ganhou impulso no governo de Dilma Rousseff. Ainda na década passada, diplomatas brasileiros começaram a mediar a assinatura de uma carta de intenções entre o Ministério da Ciência e Tecnologia e o Cern, entidade que entrou para a história com a criação da web há duas décadas e com o maior acelerador de partículas do mundo que garantiu a confirmação da existência do bóson de Higgs.

Em 2010, um sinal positivo por parte do Cern sobre uma eventual entrada do Brasil foi comemorado como o primeiro passo para a adesão do País ao centro. O então ministro da Ciência, Aloizio Mercadante, chegou a visitar Genebra e prometeu acelerar o processo.

Em 2012, o Cern enviou uma missão para avaliar a situação do País. O resultado foi positivo.

Em 2013, atrasos na comunicação com o governo foram registrados e a cúpula do Cern não escondia a insatisfação com a lentidão no processo. Já naquele momento, o então diretor do Cern e cientista Rolf Heuer, ironizou diante de uma pergunta sobre a falta de uma resposta do governo brasileiro. "Você sabe o que é um buraco negro? É incompreensível a demora do Brasil".

Mas o que parecia ser uma crise foi contornada. O Brasil acelerou os trabalhos e enviou a documentação exigida pelo Cern, o que envolvia um inventário da ciência no País e toda a capacidade de pesquisa existente.

O Cern considerou que a documentação "atendia aos critérios" para a adesão como membro associado. Assim, o Conselho Executivo do Cern deu luz verde para que um tratado de adesão fosse desenhado entre a entidade com se deem Genebra e Brasília. O acordo foi traçado e enviado ao Brasil, com a previsão de que pudesse ser assinado em 2014. Mas o silêncio total prevaleceu, segundo o Cern.

Se a adesão à entidade deve custar cerca de US$ 10 milhões por ano ao Brasil, ela abrirá as portas para licitações milionárias e formação de centenas de cientistas, além de participar ativamente de alguns dos maiores projetos da ciência.

Desde o início do processo brasileiro, porém, Israel e Romênia já completaram a adesão à entidade, enquanto Índia, Paquistão, Ucrânia e Turquia foram aceitas como membros associados.

Cientistas brasileiros já participam de forma ativa de muitos dos projetos do Cern, como no acelerador de partículas. Mas isso ainda ocorre de forma individual ou por meio de instituições. Como membro associado, o Brasil pode concorrer a posições como funcionários e pesquisadores. Além disso, empresas brasileiras poderão participar de forma regular das licitações do Cern, tanto para fornecer serviços como bens.

Como membro associado, o Brasil ainda teria o direito de fazer parte do Conselho do Cern, ainda que sem poder de voto.