Opositor venezuelano no exílio diz que voltará ao país para assumir poder
O candidato da oposição para a presidência, Edmundo González, indicou que irá voltar para a Venezuela supostamente para sua posse, no dia 10 de janeiro de 2025. Ele deixou a Venezuela em setembro e pediu asilo na Espanha. O opositor era alvo de uma ordem de prisão por parte do regime.
González insiste que venceu a eleição de julho e acusa o governo de Nicolás Maduro de ter promovido uma fraude. O atual presidente jamais apresentou as atas das sessões eleitorais e as instituições, controladas por ele, declararam que Maduro teria sido o vencedor.
O governo do Brasil não reconheceu a vitória do presidente venezuelano, abrindo uma crise entre os dois países.
Agora, González garante que planeja seu retorno para Caracas e que seu exílio sempre foi um movimento "temporário".
"Não se entra em guerra com medo, e é por isso que estou convencido de que, de alguma forma, viajarei para a Venezuela para assumir o poder", disse Gonzalez em um evento em Madri, nesta terça-feira.
Ele ainda anunciou que sua vice-presidente será Maria Corina Machado, que permaneceu em um local não revelado na Venezuela. Falando por vídeo no mesmo evento, a líder da oposição admitiu que terá "tempos extremamente desafiadores e perigosos".
Um dia antes, em entrevista ao jornal El País, o opositor anunciou sua viagem. "Estarei na Venezuela no dia 10 de janeiro para a posse. Não presidirei um governo no exílio", garantiu.
Em setembro, a negociação para a fuga do opositor teve o envolvimento e mediação sigilosa de José Luiz Zapatero, ex-presidente do governo da Espanha. Enquanto o processo era discutido, um avião oficial do governo espanhol o aguardava na República Dominicana.
Maria Corina Machado, líder da oposição, já havia anunciado naquele momento que González tomaria posse como "presidente constitucional da Venezuela e comandante-em-chefe das Forças Armadas Nacionais".
Quatro dias antes de viajar, os advogados de Gonzalez insistiam que ele não deixaria o país. Mas foi revelado que ele estava sendo mantido na embaixada da Holanda em Caracas por mais de um mês, o que lhe dava proteção.
Teria sido a ofensiva de Maduro contra a embaixada da Argentina, onde estão outros seis opositores, que apressou a operação de fuga do candidato.
A decisão de receber o opositor foi criticada do PP, o partido de direita na Espanha. Segundo o grupo, o gesto "soluciona" a situação para Maduro. Mas não resolve a crise política e nem preserva a democracia. A Espanha acolheu a 200 mil venezuelanos nos últimos anos, entre eles o ex-presidente de Caracas, Antonio Ledezma.
Ordem de prisão
Uma semana antes, a Procuradoria-Geral em Caracas anunciou um pedido de prisão do candidato opositor de Nicolás Maduro nas eleições de julho. Horas depois, um tribunal de primeira instância acatou a solicitação.
A ordem de captura mudou de forma dramática qualquer perspectiva de uma mediação liderada pelo Brasil. Fontes diplomáticas de diferentes governos confirmaram ao UOL que, se efetuada, a prisão colocaria uma pressão ainda mais intensa da comunidade internacional sobre o governo de Nicolás Maduro.
Maria Corina Machado denunciou o gesto, alertando que Maduro havia perdido "toda a noção da realidade". "Ao ameaçar o presidente eleito, apenas conseguem que nos unamos ainda mais e que haja um aumento do apoio dos venezuelanos e do mundo a Edmundo González", disse a opositora.
O documento que solicita a prisão, obtido pelo UOL, menciona crimes de conspiração e sabotagem ao sistema. Um das principais críticas por parte da ONU ao governo de Maduro é o seu controle de todo o sistema judiciário, incluindo a Procuradoria e cortes.
Maduro, dias depois da eleição, havia defendido a prisão tanto de González como de Corina Machado. Seu sistema judicial colocou em andamento o processo. Além do pedido de prisão do opositor, a repressão de Maduro deteve mais de 2.000 pessoas, segundo a ONU.
Edmundo González, segundo a denúncia, é alvo de uma investigação que apura a disseminação de informações por parte do site "Resultados com VZLA", responsável por divulgar dados sobre a eleição.
Maduro anunciou que foi o vencedor do pleito, mas nunca divulgou as atas das sessões eleitorais. González, por sua vez, também declarou ter vencido.
O pedido de prisão ocorre depois que o opositor se fez ausente ao ser convocado pela terceira vez pela Justiça venezuelana. Ele responderia por usurpação de funções, falsificação de documento público, instigação à desobediência às leis, associação para cometer um crime e conspiração.
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