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Deputados convocam ministro para explicar plano de evacuação de brasileiros
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O chanceler Carlos França está sendo convocado para se explicar diante da Câmara dos Deputados, diante do que tem sido visto como uma demora para implementar um plano de evacuação para retirar brasileiros do conflito na Ucrânia.
Dois pedidos já foram enviados ao Itamaraty. Num deles, os deputados do PSOL convocaram o chanceler para prestar esclarecimentos sobre a ausência de plano de evacuação de brasileiros da Ucrânia.
A convocação ocorre depois que o UOL publicou na sexta-feira informações sobre como a ordem do governo Bolsonaro era a de evitar declarações ou gestos que pudessem prejudicar a viagem do presidente brasileiro à Rússia, o que incluiria deixar de implementar e anunciar um plano. Até o início da guerra, cerca de 500 brasileiros e brasileiras residiam na Ucrânia.
No Itamaraty, outra versão garante que a questão central não foi a preservação da visita de Bolsonaro ao Kremlin, mas sim os pedidos do governo ucraniano. Kiev, segundo diplomatas, solicitou governos estrangeiros a não anunciar a evacuação de seus nacionais, já que isso causaria um impacto na economia nacional e busca por investimentos.
O plano, segundo eles, já até estaria pronto. Procurado, o Itamaraty até o momento não se pronunciou oficialmente.
"Trata-se de mais um episódio do lamentável desmonte da política externa brasileira promovido por Bolsonaro com direta incidência sobre a vida dos cidadãos brasileiros", declararam as deputadas do PSOL, entre eles Sâmia Bomfim, Talíria Petrone e Fernanda Melchionna.
Além da carta enviada pelo PSOL, o deputado Alexandre Padilha (PT-SP) também solicitou esclarecimentos por parte do Itamaraty sobre os planos de evacuação e sobre como eles estariam sendo implementados.
Uma parcela dos diplomatas indicou que, nos dias que antecederam o encontro entre o presidente Jair Bolsonaroe seu homólogo russo, Vladimir Putin, a ordem dentro do governo era a de evitar a todo custo qualquer tema, declaração ou gesto que pudesse criar ruídos ou minar a viagem do brasileiro ao Kremlin.
Segundo fontes diplomáticas que participam diariamente da formulação da política externa do país, um dos pontos que foi evitado foi a implementação de um plano de evacuação de brasileiros da Ucrânia.
Bolsonaro viajou para Moscou em fevereiro, depois de ter tido as portas da Europa e dos EUA fechadas por líderes internacionais. Com a necessidade de ser reconhecido como um presidente que é recebido pelo mundo, seu gabinete tentou um encontro com Boris Johnson, sem êxito, e fracassou até mesmo a convencer Joe Bidena fazer uma ligação telefônica.
Se não bastasse, as imagens do brasileiro isolado durante a cúpula do G20, em novembro de 2021, e as portas abertas que França e Alemanha promoveram para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva dias depois obrigaram o Itamaraty a sair em busca de um palco internacional.
A opção foi a de mostrar internamente sua suposta popularidade com uma viagem para a Rússia, além de Hungria e Polônia. Varsóvia acabou caindo da programação, sob a pressão da UE.
Mas, para preservar a viagem, Bolsonaro foi instruído a não tocar no tema ucraniano. Se o assunto surgisse, ele deveria ser tratado apenas de maneira superficial.
Seja qual for a justificativa, a realidade é que, em 8 de fevereiro, o embaixador do Brasil na Ucrânia, Norton de Andrade Mello Rapesta, afirmou que a representação não considerava, naquele momento, a hipótese de um conflito. "Não se pode falar em plano de retirada quando não há fato concreto que o motive", disse. "O fato concreto seria se, na eventualidade, que não se considera possível, de uma agressão externa ao país, ou de tsunami, terremoto", disse ele em entrevista ao canal GloboNews.
Dez dias antes, governos como o do Reino Unido, Alemanha, Canadá, Austrália, EUA e Noruega já tinham começado a retirar os familiares dos diplomatas de Kiev, ou tinham emitido alertas para que seus nacionais não viajassem para a Ucrânia.
No dia 14 de fevereiro, dias antes da invasão russa à Ucrânia, Rapesta afirmou, em entrevista ao UOL News, que a situação era de "plena normalidade"no país. Naquele momento, ele disse que não acreditava que haveria uma guerra. "A Europa já viveu a Segunda Guerra Mundial e eles sabem muito bem quanto custa e quando dói uma guerra", observou. "Ninguém quer guerra, guerra não haverá porque vai prevalecer a diplomacia", insistiu.
Dois dias depois, Bolsonaro desembarcava em Moscou.
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