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Ausente em Davos, Cúpula das Américas e G7, Bolsonaro 'desaparece' no mundo
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Focado quase que exclusivamente em sua tentativa de se manter no poder, o presidente Jair Bolsonaro abandonou a agenda internacional do país e deixou para ministros e secretários a função de representar o Brasil no exterior.
Bolsonaro não irá ao Fórum Econômico de Davos, que acontece em duas semanas, não deve comparecer à principal reunião de chefes de estado do continente, a Cúpula das Américas, sua agenda de visitas bilaterais é inexistente e ele ainda foi ignorado pelo G7, liderado pela Alemanha.
No Itamaraty, diplomatas se dividem entre o alívio e a preocupação. Alívio por não ter de "apagar incêndios" a partir de declarações desastrosas —como em um recente encontro com Vladimir Putin— ou erros de cálculo do próprio presidente em encontros com líderes estrangeiros.
Nos últimos anos, a agenda de encontros bilaterais de Bolsonaro durante as cúpulas era mínima. Mas não apenas pela falta de interesse de outros presidentes em se encontrar com o brasileiro. Segundo diplomatas, houve uma manobra deliberada de uma ala do Itamaraty para não se esforçar na busca de encontros para o presidente.
Havia um entendimento de que, ao evitar encontros pouco preparados e espontâneos, a chancelaria estaria protegendo tanto Bolsonaro como os próprios interesses nacionais.
Logo no início de seu governo, chamaram a atenção de experientes embaixadores comentários que o presidente fez diante do então primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, e que beirou a indiscrição.
No final de 2021, durante a cúpula do G20, enquanto líderes tratavam do destino do planeta e da pandemia em conversas informais, a coluna observou e filmou o isolamento de Bolsonaro na sala. Quando foi finalmente falar com os demais chefes-de-estado e de governo, ignorou o alemão Olaf Scholz e ainda usou uma conversa com Tarip Erdogan para criticar a imprensa e a Petrobras, temas que não fazem parte da relação bilateral.
Mas o sentimento de alívio de parte dos diplomatas é contrastado com a preocupação de que essa ausência custará caro ao país. Hoje o Brasil está afastado da mesa de negociação de um dos momentos mais críticos na formação de uma nova ordem internacional.
Nos últimos três meses, os principais líderes mundiais têm proliferado ligações telefônicas na busca de soluções para a pandemia e para a guerra na Ucrânia. O telefone do Palácio do Planalto, porém, raramente tocou. Nem Joe Biden, nem Emmanuel Macron, nem Olaf Scholz e nem o secretário-geral da ONU, Antônio Guterres, se deram o trabalho de saber o que o presidente brasileiro tinha a dizer sobre temas globais.
Se a diplomacia brasileira vem trabalhando nos bastidores desde a saída de Ernesto Araújo para retomar contatos que foram minados por conta da gestão do seguidor de Olavo de Carvalho, todos concordam que alguns dos principais temas precisam ser liderados pelo chefe de estado.
Longe dos holofotes do presidente, diplomatas passaram a agir na esperança de recuperar a "normalidade" das relações do Brasil com parceiros tradicionais ou ocupando posições de relevância em instituições como a OMS (Organização Mundial da Saúde). Também foi comemorado na chancelaria o fato de que discípulos de Olavo de Carvalho perderam a relevância na formulação da política externa.
O chanceler Carlos França passou a ser elogiado por uma parcela do Itamaraty por seu esforço em tentar acalmar um clima de tensão e indignação que se instaurou dentro do ministério diante do sequestro ideológico da política externa. Ele ainda deu instruções claras para alguns de seus embaixadores para que passassem a adotar uma postura menos estridente em diversos organismos internacionais.
A ausência de Bolsonaro do cenário, porém, não significou o fim de uma diplomacia paralela construída por representantes das alas mais conservadoras dentro do governo. A meta, nesse caso, é instaurar uma nova agenda internacional com base em valores da "família tradicional" e da restrição de certos direitos das mulheres.
Conforme a coluna revelou nesta semana, o ministério da Família, Mulheres e de Direitos Humanos colocou como objetivo a expansão do lobby internacional contra o aborto, ampliando a aliança com governos ultraconservadores. O último a aderir ao projeto é a Colômbia que, nesta sexta-feira, se juntou ao bloco composto ainda por Arábia Saudita, Bahrein, Egito e, claro, o Brasil.
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