Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Obsessão de Bolsonaro pela soberania era mais uma de suas mentiras
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
Quando Jair Bolsonaro abriu a Assembleia Geral da ONU pela primeira vez, em setembro de 2019, seu recado foi claro: o Brasil não aceitaria o questionamento sobre a soberania da Amazônia. E, com este argumento, qualquer cobrança sobre o desmatamento era uma ameaça estrangeira aos interesses nacionais.
Ao lado de militares que hoje se revelam capazes de estupros contra a democracia, o capitão repetia ainda frase por frase a narrativa de seu único grande aliado, Donald Trump, que insistia que o multilateralismo não era a resposta e que soberanias fortes precisariam vingar.
Seu então ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, era outro que não perdia a oportunidade de anunciar que o governo não aceitaria "relativizar a soberania sobre o seu território, qualquer que seja o pretexto e qualquer que seja a roupagem".
Ao longo de seus três anos no poder, Bolsonaro manipulou o termo para abandonar tratados internacionais, esconder crimes e legalizar invasões.
Mas esse mesmo conceito tão caro para o bolsonarismo parece ter sido relativizado quando, nesta sexta-feira, o Palácio do Planalto festejou um acordo com o bilionário Elon Musk para ajudar a "monitorar" a Amazônia.
Não restam dúvidas de que a região precisa ser alvo de monitoramento, inclusive para lidar com alguns dos grupos que hoje contam com a complacência de pessoas no poder para invadir terras.
Mas, de forma soberana, uma sociedade precisa saber detalhes de quanto esse acordo custou, se houve licitação e de como será tratado o banco de dados coletados pelo sistema.
A coluna apurou que a preparação da visita de Musk sequer passou pelo Itamaraty, uma instituição que sempre soube o que era a soberania. Não existem tampouco informações sobre o eventual abuso do sistema para monitorar grupos que questionem a violência do estado e nem quem estará no comando.
Do latim super omnia, o conceito de soberania ganhou diferentes componentes ao longo de séculos. Mas é sempre útil lembrar que Paul Virilio alertou que a soberania não residiria mais no território, e sim sobre seu controle.
Para a excitação de militares e seus viagras, a bandeira brasileira pode até continuar hasteada nos postos das Forças Armadas pela floresta. Mas ela não passará de uma ilusão enquanto não ficar esclarecido o que de fato Musk leva do Brasil, além de declarações de amor constrangedoras dos membros do governo e de uma medalha inexplicada dada pelo Ministério da Defesa.
O que está em jogo hoje não é apenas a capacidade de monitoramento da Amazônia. Mas o controle sobre os dados que tal sistema irá gerar e que estarão nas mãos de um magnata estrangeiro.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.