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Jamil Chade

REPORTAGEM

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Contra inflação, Alemanha oferece transporte público praticamente de graça

barril de petróleo usado; opep; energia; combustível; gasolina; diesel - Jon Nazca/Reuters
barril de petróleo usado; opep; energia; combustível; gasolina; diesel Imagem: Jon Nazca/Reuters

Colunista do UOL

03/06/2022 04h00

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Numa tentativa de lidar com o aumento de preços de alimentos, de energia e da gasolina causado pela guerra na Ucrânia e pelas sanções contra a Rússia, o governo da Alemanha decidiu oferecer aos cidadãos um esquema pelo qual o transporte público deixará de ser um peso para o orçamento nas famílias. Por apenas 9 euros (R$ 46) por mês, um alemão poderá usar ônibus, trem e até balsas até o final de agosto.

Um estudante universitário pagava, antes do novo esquema, 60 euros (R$ 308) por mês para poder usar o transporte coletivo. O novo valor é inferior a uma refeição média no país, o equivalente a três copos de cerveja e representaria uma proporção quase insignificante da renda de um trabalhador. Para alguns moradores de Colônia, por exemplo, o bilhete mensal chega a custar menos que o valor que é pago por dia para ir e voltar do trabalho entre os subúrbios da cidade e o centro. Em média, o Banco Mundial estima que o PIB per capita na Alemanha é de 46 mil euros por ano, contra apenas 6 mil euros no Brasil.

O barateamento do bilhete faz parte de um amplo pacote do governo, que ainda prevê a redução de impostos sobre combustíveis, na esperança de reduzir o preço do litro da gasolina para menos de 2 euros (R$ 10). Com a medida, o governo reduziu em 30 centavos de euros o preço do litro.

Em maio, a inflação na Alemanha atingiu 7,9%, com a guerra na Ucrânia e as sanções tendo um impacto importante sobre o abastecimento de energia e alimentos.

Além do novo bilhete aliviar a renda das famílias, ele ainda atende a uma pressão cada vez maior por parte dos partidos ecologistas, que querem incentivar a população a deixar seus carros em casa e substituí-los pelo transporte público.

Para que o esquema funcione, o governo central irá repassar 2,5 bilhões de euros (R$ 12,8 bilhões) aos governos estaduais. Mas o bilhete mais barato não poderá ser usado para os trens de alta velocidade que cruzam o país.

Mesmo assim, o sucesso da iniciativa já é evidente. Antes mesmo de entrar em vigor, no dia 1º de junho, mais de 7 milhões de alemães já tinham adquirido o passe. A estimativa do governo é beneficiar 30 milhões de pessoas.

A iniciativa alemã não ocorre de maneira isolada. Em Luxemburgo, o governo estabeleceu o transporte gratuito para todos em 2020. Na Áustria, foi estipulado um teto de 3 euros (R$ 15) por dia para que uma pessoa use todo o transporte que necessitar.

Pela Europa, a pressão inflacionária também tem levado cidades como Montpellier a cortar de forma radical os preços dos ônibus, enquanto Lisboa avalia oferecer transporte gratuito para idosos e estudantes.