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Jamil Chade

REPORTAGEM

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Sob pressão dos EUA, governos fecham declaração sobre clima para Cúpula

O presidente dos EUA, Joe Biden - Nicholas Kamm/AFP
O presidente dos EUA, Joe Biden Imagem: Nicholas Kamm/AFP

Colunista do UOL

06/06/2022 12h43

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Depois de uma pressão do governo americano de Joe Biden para que houvesse uma declaração na Cúpula das Américas sobre o clima, governos chegaram nesta segunda-feira a um acordo sobre um texto que será chancelado pelos presidentes da região, nos próximos dias.

Fontes envolvidas na negociação indicaram que existiam trechos criando compromissos considerados como "complicados" por parte do governo de Jair Bolsonaro. Mas, nesta segunda-feira e depois de dias de negociações, um entendimento foi estabelecido. Segundo diplomatas brasileiros, o Itamaraty apresentou junto com a Colômbia uma alternativa de texto, que acabou sendo acatado pela Casa Branca. O ponto mais delicado se referia à transição a uma economia sustentável.

A cúpula ocorre nesta semana e passou a se transformar num risco para a Casa Branca, depois que Washington decidiu que não convidaria Cuba, Venezuela e Nicaragua. Na semana passada, dez países da região criticaram a decisão, enquanto o risco de um boicote por México e outros governos ameaçou o evento.

Biden, num esforço para salvar sua cúpula, mandou um enviado para Brasília negociar a presença de Jair Bolsonaro no evento. Entre os gestos da Casa Branca está uma reunião bilateral entre os dois líderes, um pedido que estava sendo feito há meses pelo Palácio do Planalto.

A presença do brasileiro, porém, não é suficiente para salvar a cúpula. Nos bastidores, negociadores revelaram à coluna que um dos principais pontos de discórdia neste momento era uma declaração conjunta que Biden que ver aprovada sobre mudanças climáticas e meio ambiente.

Sem o Brasil, porém, o trecho sobre clima não faria sentido. Segundo diplomatas, aspectos do texto proposto pelos americanos foram recebidos com preocupação por parte do Palácio do Planalto.

Diplomatas brasileiros também estimam que o desaparecimento nos últimos dias do correspondente do jornal The Guardian, na Amazônia, possa incrementar a pressão sobre Bolsonaro. O jornalista Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira desapareceram quando realizaram uma expedição a uma das zonas mais isoladas da floresta. O brasileiro estava sendo alvo de ameaças.

Num comunicado, o jornal britânico afirmou que está "muito preocupado e está procurando urgentemente informações sobre o paradeiro e a condição do Sr. Phillips". "Estamos em contato com a embaixada britânica no Brasil e as autoridades locais e nacionais para tentar estabelecer os fatos o mais rápido possível", afirmou.

Segundo o jornal, Phillips havia se unido a uma das expedições de Pereira na mesma região em 2018 para relatar sobre as tribos perdidas da Amazônia. Ele está, neste momento, preparando um livro sobre meio ambiente.

Em novembro em Glasgow, durante a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, compromissos assumidos pelo Brasil foram recebidos de forma positiva por parte de John Kerry, o negociador chefe de Biden para assuntos climáticos. Mas, já naquele momento, a Casa Branca deixou claro que iria comprar a implementação das promessas feitas pelo país. Desde então, porém, os dados mostram que o desmatamento voltou a bater recorde.

Para a cúpula de Los Angeles, negociadores apontam que o que era para ser uma declaração para mostrar o compromisso da região agora mostra a distância que existem entre os países. Um dos temores de ambientalistas é de que o texto final, para acomodar a todos, acabe sendo "minimalista" e sem um compromisso ambicioso.

No final de 2021, quando um primeiro documento foi elaborado pela OEA (Organização dos Estados Americanos) sobre a cúpula, o tema do "futuro verde" apareceu como uma das prioridades.

"Trabalhamos juntos sob o Acordo de Paris, e sabemos que, mesmo quando empreendemos nossos próprios esforços, nosso sucesso combinado nas Américas depende da cooperação regional na identificação e implementação de políticas que apoiem as metas de desenvolvimento e limitem o aumento da temperatura global a 1,5 graus Celsius", disse o documento.

"As instituições internacionais, os governos nacionais e subnacionais, a indústria privada e a sociedade civil precisam trabalhar juntos para promover uma transição energética justa que enfatize a descarbonização, a energia renovável e a eficiência energética, ao mesmo tempo em que aumenta a equidade compartilhada em um futuro verde", destacam.

O documento também diz que "energia, transporte e outros projetos de infraestrutura crítica podem apoiar múltiplos objetivos, protegendo-se contra danos ambientais, criando bons empregos, fornecendo novos serviços valiosos e construindo resiliência com projetos intencionais em torno dos impactos de nosso clima em mudança".

A questão ambiental é ainda vista como um fator para impulsionar o crescimento econômico. "Uma maior adaptação e resiliência climática ajudará os países, empresas e cidadãos a mitigar e se recuperar rapidamente de futuros desastres naturais e eventos climáticos extremos. Esforços à prova de futuro também oferecem a oportunidade de acelerar a recuperação econômica enquanto expandem a educação e o treinamento para criar e manter uma força de trabalho verde globalmente competitiva", disse.

"Governos e partes interessadas podem trabalhar juntos para desenvolver a infraestrutura social e física para apoiar as indústrias verdes sustentáveis do futuro, enfrentar a ameaça da mudança climática e garantir o acesso equitativo aos recursos energéticos", completam.