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Jamil Chade

REPORTAGEM

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Com Bolsonaro e Putin, cúpula dos Brics criticará sanções contra Rússia

Da esquerda para a direita, os líderes de China, Rússia, Brasil, Índia e África do Sul em reunião dos Brics em 2019 - Alan Santos/PR
Da esquerda para a direita, os líderes de China, Rússia, Brasil, Índia e África do Sul em reunião dos Brics em 2019 Imagem: Alan Santos/PR

Colunista do UOL

21/06/2022 04h00

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A cúpula dos Brics, agendada para ocorrer nesta semana de forma virtual, vai promover o encontro entre o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e seus homólogos de Brasil, China, Índia e África do Sul. O encontro será usado em Moscou para "provar" à população que o Kremlin não está isolado no mundo. Mas também servirá como uma plataforma de críticas contra as sanções adotadas pelos países europeus, EUA e aliados ocidentais contra a economia russa.

O encontro presidido pelo chinês Xi Jinping também contará com Jair Bolsonaro, o indiano Narendra Modi e o sul-africano Cyril Ramaphosa.

Dentro do Itamaraty, a preocupação neste momento se refere à intervenção de Bolsonaro. Negociadores acreditam que, por se tratar de um evento virtual e com poucas brechas para intervenções espontâneas, o risco de um deslize diplomático por parte do presidente brasileiro é menor.

Mas todos se lembram como declarações ambíguas por parte de Bolsonaro em sua visita ao presidente russo em fevereiro causaram atritos com alguns dos principais parceiros comerciais do Brasil, como EUA e Europa.

Fontes diplomáticas revelaram à coluna que um dos pontos que deve entrar na declaração final é um questionamento às sanções financeiras, comerciais e econômicas impostas contra Moscou desde o início da invasão da Ucrânia por tropas russas.

Haverá também uma provável referência à crise global de fornecimento de fertilizantes e alimentos, um ponto considerado como chave para o Brasil.

A crítica ocorrerá dias depois de a União Europeia classificar de "crimes de guerra" a decisão de Moscou de impedir que toneladas de grãos mantidos em armazéns na Ucrânia possam abastecer os países mais pobres. Para a Rússia, porém, o problema não é sua atuação militar na região, mas as sanções impostas. A versão é contestada pelos europeus.

Ainda assim, a versão final da declaração será mais suave do que Pequim gostaria. Os chineses, presidentes do grupo até o final do ano, queriam um documento que apontasse um apoio ao governo russo, o que foi rejeitado por Brasil, Índia e África do Sul. Os três países têm adotado por uma postura de abstenção na maioria dos votos sobre resoluções contra a Rússia nos organismos internacionais.

Mas um entendimento entre todos no bloco é de que os países serão contrários a qualquer esforço diplomático do ocidente para tentar expulsar a Rússia de organismos especializados do sistema multilateral, como a OMS, Unesco, OIT e tantos outros.

Diplomatas consultados pela coluna apontam que, para Putin, a mera realização de uma cúpula com sua presença e sem o boicote de outros países do bloco já é uma vitória política.

O evento ainda ocorre dias depois de a China anunciar que as compras de petróleo da Rússia aumentaram em 50% em abril, em comparação aos valores de 2021. Com isso, Moscou superou a Arábia Saudita e passou a ser o maior fornecedor de petróleo para a China.