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Jamil Chade

REPORTAGEM

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Sem Bolsonaro, Argentina assume papel de porta-voz da América Latina no G7

Integrantes do G7 durante reunião na Alemanha - KERSTIN JOENSSON/AFP
Integrantes do G7 durante reunião na Alemanha Imagem: KERSTIN JOENSSON/AFP

Colunista do UOL

27/06/2022 12h23

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Com sua credibilidade abalada por três anos de uma política externa repleta de polêmicas, gafes e abalos, o presidente Jair Bolsonaro foi obrigado a ver o argentino Alberto Fernández participar como convidado especial na cúpula do G7, nesta segunda-feira na Alemanha.

Bolsonaro não foi convidado a nenhuma das cúpulas do grupo desde que assumiu a presidência, em 2019, ainda que sua diplomacia tenha tido como promessa uma reaproximação aos países em desenvolvimento.

Na edição de 2022, a presidência alemã do G7 voltou a convidar a Índia para o evento e, assim como em anos anteriores, um representante latino-americano também esteve na mesa dos países ricos. Mas se em 2019 o nome escolhido foi o do Chile, agora a vez foi o da Argentina, país que o clã Bolsonaro alertava que seria administrado por um "socialista".

Hoje, ironizam diplomatas, é um "socialista" que é o nome escolhido para conversar com os demais líderes mundiais.

Em maio, o chanceler alemão, Olaf Scholz, decidiu escolher a Argentina como "país sócio do G7 durante a presidência alemã". Fernandez havia feito uma turnê pelas maiores economias da Europa naquela ocasião, algo que Bolsonaro jamais foi convidado a realizar.

Em seu discurso diante dos demais líderes, o argentino condenou abertamente a guerra na Ucrânia, qualificando os acontecimentos de "tragédia".

"Os fluxos comerciais e a logística, já severamente danificados durante a pandemia, atingiram um ponto crítico. Os mares estão militarizados. A guerra promove gastos com armamentos em detrimento de investimentos em proteínas, saúde ou educação que a humanidade tanto precisa", disse.

Mas o argentino também fez um alerta aos países ricos, exatamente quando a Europa comemora os 75 anos do Plano Marshall que reconstruiu o continente.

"Na América Latina e no Caribe, não sonhamos com um novo Plano Marshall. Nós nunca tivemos um. Mas sonhamos com uma nova ordem internacional onde os esforços sejam equilibrados e as vantagens sejam distribuídas com critérios de equidade. Sonhamos em não ser discriminados pelo mundo central e condenados à marginalização e ao esquecimento", afirmou.