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Brasil é 3º país que mais perdeu em liberdade de expressão na década
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O Brasil foi um dos três locais do mundo onde a liberdade de expressão sofreu a maior queda nos últimos dez anos e o temor é de que a eleição em outubro amplie ainda mais a tensão, principalmente para os jornalistas.
O alerta faz parte do Relatório Global de Expressão 2022 da Artigo 19, uma entidade internacional que reivindica a liberdade de expressão como um direito fundamental. De acordo com o ranking, apenas o Afeganistão e Hong Kong - que viu um incremento do controle chinês - relataram uma crise mais profunda que a brasileira.
De acordo com a entidade, o Brasil teve uma redução de 38 pontos na escala do ranking global de liberdade de expressão produzido anualmente pela instituição, que reúne 161 países.
"Os dados do documento mostram que, de 2015 a 2021, o país caiu 58 posições no ranking global de liberdade de expressão, chegando a 50 pontos e à 89ª posição, seu pior registro desde o início da realização do levantamento, em 2010", revela.
Os ataques contra a imprensa por parte do governo Bolsonaro chegaram a acender o alerta na ONU. No início do mês, a alta comissária da ONU para Direitos Humanos, Michele Bachellet, criticou a violência contra jornalistas e ambientalistas no Brasil.
"Saímos de uma nação considerada aberta para restrita em pouquíssimo tempo. Esse dado é um dos mais chocantes de todo o mundo, não só pela queda em si, mas por ter ocorrido de maneira mais acentuada sob a liderança de um presidente que foi eleito e que deveria prezar a democracia e a liberdade de expressão, o que não é o caso, como mostra o relatório", afirma Denise Dora, diretora-executiva da Artigo 19.
"Na América Latina, estamos atrás apenas de Cuba, Nicarágua, Venezuela, Colômbia e El Salvador", explica.
Ataques
De acordo com a entidade, o número de ataques a jornalistas e meios de comunicação alcançou, em 2021, o maior patamar desde a década de 1990 no Brasil.
"Foram registrados 430 ataques à liberdade de imprensa, mais que o dobro do registrado em 2018, ano em que Jair Bolsonaro foi eleito presidente do País", afirmou. "A estigmatização da mídia e a polarização a partir do topo do governo brasileiro dificultou o trabalho da mídia", disse.
"O diagnóstico reflete o que jornalistas, comunicadores e defensores de direitos humanos têm vivenciado frequentemente no governo Bolsonaro. Basta lembrar que, há menos de um mês, Bruno Araujo Pereira e Dom Phillips foram assassinados na Amazônia. E até hoje não se sabe quem foi o mandante do crime", lembra Denise.
A entidade destaca que, em vez de serem protegidos por suas identificações, os jornalistas são frequentemente assediados e atacados. O assédio online de Bolsonaro e de seus filhos tem cada vez mais influência. "Eles são responsáveis por grande parte do assédio online sofrido pela mídia", afirma o documento.
Eleições 2022
O informe ainda destaca que a eleição e seu risco de elevar a tensão no Brasil. Bolsonaro, segundo o documento, "questiona a integridade do sistema eleitoral, alegando, sem qualquer fundamento, que as duas últimas eleições foram fraudulentas e que a eleição de 2022 não aconteceria sem reforma".
O documento publicado nesta quinta-feira alerta para um possível episódio como o ataque ao Congresso Americano ocorrido em janeiro de 2021, quando apoiadores de Donald Trump invadiram o Capitólio para tentar impedir a certificação de Joe Biden nas urnas.
"As eleições presidenciais de 2022 serão um teste para a democracia brasileira. Enquanto Bolsonaro continua a fazer declarações como 'Só Deus pode me tirar da presidência', 2022 pode revelar a real extensão do quanto foi erodida a democracia durante o mandato de Jair Bolsonaro", afirma o documento
Desinformação
Outra constatação da entidade é o "furacão da desinformação, que floresceu online durante a polarização significativa e a presidência de um homem com um total desrespeito aos fatos científicos, teve efeitos devastadores durante a pandemia".
Segundo o grupo, mais de 600 mil pessoas morreram no Brasil como resultado da negação e desinformação, o que incluiu a constante comercialização de medicamentos sem eficácia comprovada contra o coronavírus.
Mundo
No restante do mundo, a análise feita pela organização também não é positiva. Segundo o documento, 80% da população mundial (6,2 bilhões de pessoas) vivem com menos liberdade de expressão hoje que há dez anos.
"Isso é resultado de uma intensificação crescente de mudanças climáticas, conflitos armados e deslocamentos em massa, que silenciam ativistas e comunicadores, deixando populações inteiras sem acesso a informações fundamentais para suas vidas", completa Denise.
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