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Jamil Chade

REPORTAGEM

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Afinal, o que é o populismo?

Bolsonaro participou de desfiles em celebração ao bicentenário da independência.  - Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
Bolsonaro participou de desfiles em celebração ao bicentenário da independência. Imagem: Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

Colunista do UOL

14/09/2022 18h22Atualizada em 14/09/2022 19h51

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Populismo. Afinal, o que é?

Para responder a essa pergunta, Thomás Zicman de Barros e Miguel Lago lançam nesta quinta-feira (15) em São Paulo um ensaio inédito, "Do que falamos quando falamos de populismo" (Cia das Letras).

Em conversa com o UOL, Zicman de Barros explicou que o livro surgiu do desconforto que os autores tinham em relação ao uso da palavra populismo. "É uma palavra usada como estigma, usada para atacar adversários", disse. No caso brasileiro, ela é usada para criar falsas simetrias. "Atribui-se à mesma palavra para Lula e Bolsonaro, para torná-los indistinguíveis", apontou.

"Para refletir, fizemos uma análise diferente. No lugar de ficar numa torre de marfim para examinar a palavra, fizeram uma pesquisa em 15 mil artigos de imprensa entre 1940 e 2022 para entender como foi usada a palavra", disse. Se a constatação é de que o termo foi usado amplamente para estigmatizar, ele também foi reivindicado por líderes populares para marcar a entrada das massas na política nacional.

Na avaliação de Zicman de Barros, o populismo não pode ser dito no singular. "Temos de falar em populismos, no plural".

Ele destaca, por exemplo, como Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro têm traços populistas. "Mas são populismos muito diferentes", constata.

No caso do atual presidente, ele se enquadra no populismo reacionário, que busca reafirmar hierarquias sociais e incorpora setores que Hannah Arendt chama de ralé, aqueles reacionários que sempre existiram e que estavam nas sombras, e que agora chegam ao poder, buscam solapar a democracia e discriminar grupos vulneráveis", diz o autor.

Lula, segundo ele, é outro populismo. "Ele encarna uma tradição populista emancipadora. Ele é capaz de dar voz àqueles que tinham sido excluídos da política", diz. Para o autor, seu governo mostrou que houve um limite nessa estratégia. Mas ainda assim ele tenta mostrar pontos cegos da democracia liberal e questionar essas instituições que não consegue acolher essa população marginalizada.

Num texto de apresentação da obra, a editora destaca que os autores reconstituem o uso do termo ao longo dos anos, por meio de profunda pesquisa em arquivos de imprensa e de formulações intelectuais a respeito da matéria, e mostram que, em meio a imprecisões conceituais, o vocábulo nem sempre teve a conotação negativa hoje dominante, tendo sido defendido e reivindicado por atores políticos no Brasil e no mundo".

"Thomás Zicman de Barros e Miguel Lago são expoentes da jovem geração de pensadores brasileiros", destaca Sérgio Abranches. "Eles demonstram ter rara virtude de criar e não "reler" o já escrito. Neste livro conciso e ambicioso apresentam uma nova maneira de entender o que foi, o que é e o que pode ser o populismo na política", completa.

Lançamento: Livraria da Travessa, Shopping Iguatemi
São Paulo - Quinta-feira, 15 de setembro. 19 horas.