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Jamil Chade

REPORTAGEM

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ONU: Brasil terá "desaceleração abrupta" e PIB baixo em 2022 e 2023

Jair Bolsonaro (PL) e Paulo Guedes - Clauber Cleber Caetano/PR
Jair Bolsonaro (PL) e Paulo Guedes Imagem: Clauber Cleber Caetano/PR

Colunista do UOL

03/10/2022 12h00

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A economia brasileira corre o risco de sofrer um freio abrupto, cresce menos que a taxa da média mundial e, para 2023, viverá uma situação ainda mais difícil. O alerta é da Conferência da ONU para o Comércio e Desenvolvimento que, nesta segunda-feira, publica seus novos dados globais para a economia do planeta.

"Após uma breve recuperação em 2021, a economia brasileira está agora em risco de uma desaceleração abrupta, chegando a 1,8% de crescimento em 2022", afirmou o informe.

"Independentemente dos resultados eleitorais de 2022, provavelmente haverá um impulso fiscal negativo em 2023, o que, juntamente com os efeitos desfasados do aperto monetário, deverá reduzir o crescimento do PIB para apenas 0,6% em 2023", alertou.

A ONU de fato fez uma revisão para cima do crescimento da economia brasileira, em comparação aos dados que havia apresentado no início do ano. A alta foi de 0,5 ponto percentual. No lugar de um crescimento de 1,3%, a perspectiva agora é de uma expansão de 1,8%. Mas, ainda assim, o desempenho está muito abaixo dos 4,6% registrados em 2021.

A revisão para cima foi insuficiente para recolocar o Brasil na média do crescimento mundial, de cerca de 2,5% para 2022. A economia brasileira também crescerá abaixo da média da América Latina, que terá crescimento de 2,6%.

Entre as grandes economias do mundo, apenas a África do Sul, Japão e Alemanha terão taxas mais baixas de expansão do PIB que o Brasil, além do caso da Rússia, que está em guerra.

Para 2023, a taxa de crescimento do Brasil de apenas 0,6% é muito inferior ao crescimento médio mundial de 2,2%. Uma vez mais, o país está entre os lanternas do crescimento mundial entre as maiores economias do mundo. Apenas três mercados europeus terão uma expansão mais pífia que a brasileira no ano que vem.

Desempenho baixo vem de problemas estruturais e instabilidade política

Rebeca Grynspan, secretária-geral da Unctad, afirmou que parte do impacto está relacionado com o fato de a América Latina não ter se recuperado do impacto da covid-19. "A região foi uma das que mais sofreu com a pandemia. Em termos de PIB, o impacto foi o mais profundo do mundo e, no período de recuperação, não atingiu as metas de outras regiões. E se olharmos, é ainda chocante que a região representa 8% da população mundial e tenha 30% dos mortos", apontou.

Ela espera que, uma vez superada a eleição brasileira, o país tenha a "estabilidade política para pensar o que trará um crescimento sustentável para o futuro, levando em consideração os ativos que o país tem".

Richard Kozul Wright, autor do informe, apontou ainda que o desempenho baixo não é uma novidade e que reflete "problemas estruturais e instabilidade política".

"O Brasil atravessa uma década de crescimento baixo, antes mesmo da pandemia", disse. "Um dos fatores é um padrão de desindustrialização prematura, o fracasso de aumentar o papel do setor industrial, além do persistente padrão de baixo investimento produtivo", disse. Isso, segundo ele, levou a uma dependência de exportações de commodities.

As taxas sobre o Brasil mostram uma continuação de um desempenho fraco na última década. Entre 2009 e 2019, a taxa de expansão da economia nacional foi de apenas 0,7%, muito abaixo dos 3% de crescimento médio no mundo neste período. Entre 2000 e 2009, porém, o crescimento era de 3,6%, acima da média mundial.

Grynspan, porém, alertou que a situação mundial ameaça ser ainda mais dura. "Podemos estar à beira de uma recessão mundial", disse. Segundo Grynspan, a situação mundial jogou mais de 50 milhões de africanos para a pobreza, enquanto retirou US$ 360 bilhões de renda dos países em desenvolvimento por conta do aumento das taxas de juros nos países ricos.

Hoje, segundo a ONU, os países mais pobres estão financiando os mais ricos.

De acordo com a entidade, o mundo deixou de gerar em termos de renda cerca de US$ 17 trilhões desde a eclosão da pandemia.