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Europeus organizam boicote ao Mundial do Qatar
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Políticos, cidades, jornais, empresas, personalidades e mesmo federações de futebol organizam um boicote contra a Copa do Mundo, no Qatar. O motivo: as graves violações aos direitos humanos no país do Golfo.
Nesta semana, pelo menos sete das principais cidades francesas anunciaram que suas prefeituras não irão organizar telões nas praças centrais para que a população possa acompanhar os jogos, uma tradição na Europa. Em Paris, Lille, Bordeaux, Estrasburgo e outras, a promoção de "fan zones" foi cancelada.
A primeira a tomar a decisão foi a prefeitura de Estrasburgo, abrindo um verdadeiro debate no atual país campeão do mundo.
"É impossível para nós ignorarmos os muitos alarmes das ONGs sobre o abuso e exploração de trabalhadores migrantes", disse a prefeita de Estrasburgo Jeanne Barseghian. "Estrasburgo, a capital da Europa e sede do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos não pode fechar os olhos para que os direitos humanos sejam desrespeitados nesta medida", completou.
"Seria realmente difícil ter uma festa esquecendo os cadáveres e a situação humanitária na aberração que é a Copa do Mundo no Qatar", disse o prefeito de Bordeaux, Pierre Hurmic.
A idéia já começou a se espalhar pelo continente europeu. Em Lausanne, na Suíça, a prefeitura optou pelo mesmo caminho. Em Genebra, os políticos locais debatem também o cancelamento das festas públicas.
Na Bélgica, as cidades de Bruxelas, Jettte, Auderghem e Woluwe-Saint-Pierre já anunciaram que não irão organizar telões e alguns dos bares mais tradicionais do país também passaram a aderir ao movimento.
Personalidades como o ex-jogador Eric Cantona e o ator Vincent Lindon já declararam que tampouco irão ao evento, enquanto o jornal francês Le Quotidien trouxe em sua manchete a decisão de promover um boicote e o anúncio de que não irá enviar seus jornalistas ao principal evento esportivo do planeta.
Para alguns, porém, a ofensiva vem tarde demais. Joshua Kimmich, jogador da Alemanha, concorda com os protestos. Mas alerta que tal pressão deveria ter ocorrido há doze anos, quando a Fifa escolheu o Qatar.
Um dos maiores motivos de polêmicas na história recente do futebol, a escolha do Qatar para sediar a Copa foi tomada em 2010. O processo foi denunciado por corrupção, enquanto ativistas de direitos humanos passaram a denunciar as condições de trabalho para os operários e as centenas de mortes entre os trabalhadores que ergueram os estádios.
Nada, porém, levou a Fifa a reconsiderar o evento no país sem qualquer tradição no futebol. Na semana passada, num evento em Genebra, o presidente da entidade, Gianni Infantino, defendeu que o torneio irá gerar "oportunidades" e que 2 milhões de turistas desembarcarão no país.
Há dez anos, entidades como Anistia Internacional e a Human Rights Watch alertaram sobre denúncias de trabalho forçado e condições de vida insalubres aos operários dos estádios.
Havia ainda uma profunda discrepância entre a renda da Copa e do país, e os salários pagos aos trabalhadores, principalmente da Índia, Nepal e Filipinas.
Se o projeto da Copa mobilizou US$ 220 bilhões em investimentos pelo país que é o quarto mais rico do mundo, os operários receberam apenas 1,30 euros por hora de trabalho.
No ano passado, uma investigação conduzida pelo jornal britânico The Guardian ainda constatou que pelo menos 6,7 mil migrantes morreram no Qatar entre 2010 e 2020. Os organizadores da Copa rejeitam o número.
O boicote também envolverá outras ações. A Federação de Futebol da Dinamarca anunciou nesta terça-feira que as famílias dos jogadores não viajarão ao Qatar para acompanhar os atletas.
"Não queremos contribuir para criar lucro para o Qatar", disse ao jornal Ekstra Bladet o gerente de comunicação da federação, Jakob Hoyer. "Em edições anteriores (finais da Copa do Mundo), as esposas e namoradas dos jogadores viajaram com a diretoria, mas como eu disse, nós cancelamos essas viagens", explicou.
Há duas semanas, a empresa que fornece os uniformes da seleção da Dinamarca, a Hummel, revelou que o material esportivo do times escandinavo será um protesto contra as violações de direitos humanos no país, inclusive com um dos uniformes sendo completamente negro em luto às vítimas.
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