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Jamil Chade

REPORTAGEM

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Para evitar 'Capitólio', estrangeiros vão reconhecer resultados do TSE

Daniel Silveira, ao lado de homem travestido de "viking do Capitólio", em Niterói (RJ) - Matheus de Moura/UOL
Daniel Silveira, ao lado de homem travestido de 'viking do Capitólio', em Niterói (RJ) Imagem: Matheus de Moura/UOL

Colunista do UOL

27/10/2022 04h00

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A eleição no Brasil mobiliza forças e movimentos de extrema direita pelo mundo, enquanto democracias estrangeiras se prepararam para chancelar os resultados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) ainda no domingo na esperança de se evitar um espaço para uma ruptura democrática ou um questionamento dos resultados.

O UOL apurou que, em diversas capitais estrangeiras, a ordem dos governos é de já preparar os telegramas para que, ainda no domingo, o vencedor da eleição seja parabenizado por líderes.

A estratégia foi usada na eleição de Joe Biden, num esforço de sufocar a operação de Donald Trump para questionar o resultado e alertar sobre uma suposta fraude.

A reportagem conversou com altos representantes da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva que confirmaram que governos de democracias indicaram que querem evitar a repetição do cenário do Capitólio, nos EUA em 2021, e que acreditam que uma chancela ainda no domingo aos resultados do TSE pode mandar uma sinalização de que uma ruptura institucional não será bem-vinda.

O UOL conversou com duas embaixadas estrangeiras em Brasília que, na condição de anonimato, admitiriam que esse era o plano, com uma sinalização ainda no domingo pela noite ao vencedor.

Foram ainda várias as mensagens de governos como o dos EUA ao Palácio do Planalto de que não haveria espaço para um questionamento do processo eleitoral brasileiro por parte de Jair Bolsonaro.

Entre diplomatas estrangeiros, o comportamento do ex-chanceler Ernesto Araújo e de outros bolsonaristas mais radicais de minimizar os acontecimentos no Capitólio é ainda considerado como um sinal de que, dentro do movimento de extrema direita no Brasil, os atos foram aplaudidos.

Também foi destaque o fato de que Bolsonaro e seus filhos repetiram naquele momento as mentiras de Donald Trump, insistindo que a eleição americana tinha sido fraudada. O brasileiro foi um dos últimos lideres internacionais a felicitar Biden pela vitória, causando um profundo constrangimento na relação entre os dois países e com um impacto que até hoje prevalece na administração americana.

Dentro das embaixadas, porém, fontes confirmaram que a tensão aumentou, diante da ofensiva de desinformação durante os últimos dias da campanha, os ataques de Bolsonaro contra a Justiça e constante convocação de apoiadores do bolsonarismo à violência.

Durante reuniões com diversos grupos de parlamentares na Europa e representantes de embaixadas, entidades de direitos humanos fizeram um apelo para que essa estratégia volte a ocorrer no Brasil, o que foi sinalizado de forma positiva.

Nesta semana, o presidente do governo da Espanha, Pedro Sanchez, e o primeiro-ministro de Portugal, Antonio Costa, anunciaram seu apoio à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva. Ambos insistiram na defesa da democracia.

Há poucas semanas, o apoio veio de ex-chefes de estado e de governo da Europa, inclusive de direita. "O resultado da eleição presidencial brasileira terá um impacto decisivo, que irá muito além das suas fronteiras. Quando a democracia está em perigo, é preciso juntar os divergentes para vencer os antagônicos. É por isso que nós, ex-chefes de Estado e de Governo de diversas tendências políticas, apoiamos a candidatura do ex-presidente Lula", disse o ex-presidente francês François Hollande, um dos ex-líderes que assinaram uma declaração conjunta.

"O mundo precisa de um Brasil democrático e justo. Só um estadista como Lula pode tomar conta desse desafio", afirmou. Além de Hollande, assinou a declaração o ex-primeiro-ministro francês Dominique de Villepin, de direita.

A lista ainda incluir José Luis Rodríguez Zapatero, ex-presidente do governo espanhol, Massimo d'Alema e Enrico Letta, ex-chefes de governo da Itália, Micheline Calmy Rey, ex-presidente da Suíça, e Elio di Rupo, ex-primeiro-ministro da Bélgica.

Ultraconservadores e populistas saem em defesa de Bolsonaro

Mas a eleição também mobiliza a extrema direita mundial, que contou nos últimos quatro anos com o bolsonarismo no poder no Brasil para fazer avançar suas pautas e desmontar consensos em relação a aspectos de direitos humanos.

Do lado de Bolsonaro, alguns dos principais portais de extrema direita do mundo divulgaram notícias nos últimos dias, sugerindo que é a agenda ultraconservadora estaria sob ameaça no Brasil, caso o atual presidente não vença o pleito.

Um deles é o Life Site, que mistura notícias condenando o aborto, uma defesa do bolsonarismo e alertas sobre ataques contra igrejas no Brasil. No mesmo site, um dos focos é a crítica contra o papa Francisco.

Nas redes internacionais, os grupos ainda divulgam apoios à política econômica ultra neoliberal e temas de segurança pública no Brasil.
Na sexta-feira, a secretária de Família do Ministério de Direitos Humanos, Angela Gandra, está na programação de um encontro com expoentes do movimento ultraconservador, na Sérvia. Nos últimos dias, esteve ainda em São Paulo no consulado da Hungria, país aliado na agenda religiosa e antiaborto.

Há dez dias, o governo brasileiro ainda mandou uma carta criticando a Bloomberg, pela publicação de uma análise sobre o risco e autoritarismo.

Ainda no primeiro turno, a campanha de Bolsonaro veiculou um vídeo no qual diversas lideranças de extrema direita anunciavam seu apoio ao brasileiro.

Quase todos eles estavam fora do governo ou tinham sido derrotados em eleições recentes.

Uma das exceções foi Viktor Orban, primeiro-ministro húngaro. A peça de propaganda ainda contava com Donald Trump Jr., filho do ex-presidente norte-americano, André Ventura, deputado português líder do movimento populista, o líder da extrema direita espanhola, Santiago Abascal, e outros nomes de forças de grupos reacionários.