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Jamil Chade

REPORTAGEM

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ONU pede que vontade do eleitor seja respeitada e ação contra desinformação

 Na ONU, Bolsonaro preparava ataque a ministros do TSE  -  O Antagonista
Na ONU, Bolsonaro preparava ataque a ministros do TSE Imagem: O Antagonista

Colunista do UOL

28/10/2022 06h29

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O Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos pede que as autoridades brasileiras respeitem a livre escolha do cidadão na eleição e faz um alerta para que a desinformação seja combatida. As declarações foram feitas numa coletiva de imprensa, nesta sexta-feira em Genebra.

Em diversas partes do mundo, a eleição no Brasil mobiliza forças e movimentos de extrema direita e da ala progressista, enquanto democracias estrangeiras se prepararam para chancelar os resultados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) ainda no domingo na esperança de se evitar um espaço para uma ruptura democrática ou um questionamento dos resultados.

Na ONU, a porta-voz de direitos humanos da entidade, Ravina Shamdasani, afirmou que, ainda no primeiro turno, a entidade expressou preocupação sobre "a conduta das campanhas nesta eleição". Naquele momento, o alerta foi sobre os riscos de violência política.

Para este segundo turno, a entidade destaca que os "estados e autoridades públicas têm a obrigação de garantir e respeitar a livre expressão da vontade do eleitor".

"Autoridades precisam adotar todas as medidas existentes para combater desinformação, para proteger a liberdade de expressão e para garantir que todos os cidadãos - sem qualquer tipo de discriminação - possam exercitar de forma segura seus direitos de livremente escolher seus representantes", afirmou a porta-voz nesta sexta-feira, em Genebra.

No mês passado, antes de deixar seu cargo, a então alta comissária da ONU para Direitos Humanos, Michelle Bachelet, criticou os ataques do presidente Jair Bolsonaro contra as urnas e contra o Judiciário. Como resposta, o governo brasileiro pediu um encontro com a chilena e criticou sua postura. No início do ano, ela já havia alertado sobre os riscos das eleições no Brasil e possíveis interferências. A resposta, naquele momento, também foi dura por parte do Itamaraty.

Mas o UOL apurou que, em diversas capitais estrangeiras, a ordem dos governos é de já preparar os telegramas para que, ainda no domingo, o vencedor da eleição seja parabenizado por líderes. A estratégia foi usada na eleição de Joe Biden, num esforço de sufocar a operação de Donald Trump para questionar o resultado e alertar sobre uma suposta fraude.

A reportagem conversou com altos representantes da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva que confirmaram que governos de democracias indicaram que querem evitar a repetição do cenário do Capitólio, nos EUA em 2021, e que acreditam que uma chancela ainda no domingo aos resultados do TSE pode mandar uma sinalização de que uma ruptura institucional não será bem-vinda.

O UOL conversou com duas embaixadas estrangeiras em Brasília que, na condição de anonimato, admitiriam que esse era o plano, com uma sinalização ainda no domingo pela noite ao vencedor.

Foram ainda várias as mensagens de governos como o dos EUA ao Palácio do Planalto de que não haveria espaço para um questionamento do processo eleitoral brasileiro por parte de Jair Bolsonaro.

Entre diplomatas estrangeiros, o comportamento do ex-chanceler Ernesto Araújo e de outros bolsonaristas mais radicais de minimizar os acontecimentos no Capitólio é ainda considerado como um sinal de que, dentro do movimento de extrema direita no Brasil, os atos foram aplaudidos.

Também foi destaque o fato de que Bolsonaro e seus filhos repetiram naquele momento as mentiras de Donald Trump, insistindo que a eleição americana tinha sido fraudada. O brasileiro foi um dos últimos lideres internacionais a felicitar Biden pela vitória, causando um profundo constrangimento na relação entre os dois países e com um impacto que até hoje prevalece na administração americana.

Dentro das embaixadas, porém, fontes confirmaram que a tensão aumentou, diante da ofensiva de desinformação durante os últimos dias da campanha, os ataques de Bolsonaro contra a Justiça e constante convocação de apoiadores do bolsonarismo à violência.

Durante reuniões com diversos grupos de parlamentares na Europa e representantes de embaixadas, entidades de direitos humanos fizeram um apelo para que essa estratégia volte a ocorrer no Brasil, o que foi sinalizado de forma positiva.

Nesta semana, o presidente do governo da Espanha, Pedro Sanchez, e o primeiro-ministro de Portugal, Antonio Costa, anunciaram seu apoio à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva. Ambos insistiram na defesa da democracia.

Ultraconservadores e populistas saem em defesa de Bolsonaro e produzem dossiê contra Lula

Mas a eleição também mobiliza a extrema direita mundial, que contou nos últimos quatro anos com o bolsonarismo no poder no Brasil para fazer avançar suas pautas e desmontar consensos em relação a aspectos de direitos humanos.

Em alguns movimentos, como na Espanha, documentos foram produzidos contra Lula. Alguns dos principais portais de extrema direita do mundo divulgaram notícias nos últimos dias, sugerindo que é a agenda ultraconservadora estaria sob ameaça no Brasil, caso o atual presidente não vença o pleito.

Um deles é o Life Site, que mistura notícias condenando o aborto, uma defesa do bolsonarismo e alertas sobre ataques contra igrejas no Brasil. No mesmo site, um dos focos é a crítica contra o papa Francisco.

Nas redes internacionais, os grupos ainda divulgam apoios à política econômica ultra neoliberal e temas de segurança pública no Brasil.?
Ainda no primeiro turno, a campanha de Bolsonaro veiculou um vídeo no qual diversas lideranças de extrema direita anunciavam seu apoio ao brasileiro.

Quase todos eles estavam fora do governo ou tinham sido derrotados em eleições recentes. Uma das exceções foi Viktor Orban, primeiro-ministro húngaro. A peça de propaganda ainda contava com Donald Trump Jr., filho do ex-presidente norte-americano, André Ventura, deputado português líder do movimento populista, o líder da extrema direita espanhola, Santiago Abascal, e outros nomes de forças de grupos reacionários.