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Jamil Chade

REPORTAGEM

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EUA, China, Europa e emergentes parabenizam Lula para sufocar Bolsonaro

Emmanuel Macron e Lula em Paris - Divulgação/Ricardo Stuckert
Emmanuel Macron e Lula em Paris Imagem: Divulgação/Ricardo Stuckert

Colunista do UOL

30/10/2022 20h09Atualizada em 31/10/2022 02h44

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Num esforço para não deixar margem para uma ruptura institucional no Brasil, líderes internacionais e personalidades se apressaram para enviar telegramas de reconhecimento da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva.

A estratégia repete o que governos democráticos fizeram diante do risco de que Donald Trump tumultuasse a eleição nos EUA, por conta da vitória de Joe Biden. Naquele momento, potências internacionais emitiram comunicados favoráveis ao democrata e, assim, impediram que o republicado derrotado conseguisse espaço e força para manter sua narrativa de que a eleição teria sido supostamente roubada.

A decisão desta vez de acelerar um reconhecimento no país foi comunicada, antes mesmo da eleição, às campanhas dos dois candidatos no Brasil. Por semanas, grupos da sociedade civil brasileira ainda percorreram capitais na Europa e América do Norte, pedindo que esse respaldo fosse dado ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Uma das sinalizações mais importantes veio da Casa Branca, que emitiu seu comunicado menos de 40 minutos depois de concluída a contagem oficial de votos. Depois de ter sido criticado por Jair Bolsonaro e ter sua própria eleição nos EUA questionada pelo brasileiro, o presidente americano, Joe Biden, foi um dos primeiros líderes mundiais a sair em apoio ao processo eleitoral no Brasil e parabenizar Luiz Inácio Lula da Silva pela vitória.

Num comunicado neste domingo, ele "congratulou Luiz Inácio Lula da Silva por sua eleição para ser o próximo presidente do Brasil, depois de uma eleição livre, justa e crível". Ele ainda espera "trabalhar juntos para continuar a cooperação entre nossos dois países nos meses e anos".

Nos últimos meses, Biden mandou recados claros para Bolsonaro que não iria chancelar ou dar qualquer respaldo a um eventual questionamento do processo eleitoral brasileiro.

Nos EUA, foi considerado grave o comportamento de Bolsonaro e de seus filhos de seguir a mesma narrativa falsa de Donald Trump, que acusou Biden de ter roubado no resultado da eleição. Desde então, a relação entre Washington e Brasília viveu um dos seus momentos mais críticos.

Lula ainda foi saudado calorosamente pelo governo da China que, ao longo dos últimos quatro anos, foi alvo de críticas por parte de Bolsonaro. "Tomamos conhecimento dos resultados das eleições, divulgados pela TSE", disse a embaixada da China em Brasília. "Expressamos as nossas mais calorosas congratulações ao sr. presidente Luiz Inácio Lula da Silva", afirmou. "Fazemos os melhores votos por êxitos ainda maiores de desenvolvimento do Brasil", completou.

Quase imediatamente após o anúncio oficial pelo TSE, o presidente da Argentina, Alberto Fernández, emitiu uma declaração. "Parabéns Lula. Tua vitória abre um novo tempo para a história da América Latina. Um tempo de esperança e de futuro que começa hoje mesmo", disse.

"Aqui você tem um companheiro para trabalhar e sonhar sobre o bem-estar de nossos povos", afirmou.

Na Europa, o presidente da França, Emmanuel Macron, também emitiu uma nota. "Parabéns, querido Lula", disse. A eleição, segundo ele, "abre uma nova página da história do Brasil". "Juntos, vamos unir forças para lidar com muitos desafios comuns e renovar a amizade entre os dois países", disse. Macron, ao longo dos anos, foi criticado por Bolsonaro e teve sua mulher ofendida pelo candidato derrotado.

O governo da Alemanha também se manifestou. "Parabéns, presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pela vitória nas eleições. Estamos felizes com a perspectiva de ampliarmos juntos e aprofundarmos ainda mais as relações Brasil-Alemanha", escreveu o embaixador alemão Heiko Thoms.

Uma das mensagens de maior peso veio de Josep Borrell, chefe da diplomacia da UE. "A UE elogia o Tribunal Eleitoral em particular pela maneira eficaz e transparente como conduziu seu mandato constitucional durante todas as etapas do processo eleitoral, demonstrando mais uma vez a força das instituições brasileiras e de sua democracia", declarou.

"A UE e o Brasil têm uma parceria estratégica de longa data, baseada em valores compartilhados e no respeito à Democracia, aos Direitos Humanos e ao Estado de Direito", disse.

"Estamos comprometidos em aprofundar e ampliar nosso relacionamento com o Brasil em todas as áreas de interesse mútuo, inclusive no comércio, meio ambiente, mudanças climáticas e na agenda digital, em benefício de nossos cidadãos", afirmou. "Também aprimoraremos nosso trabalho em conjunto em prol de um desenvolvimento inclusivo, justo e sustentável", afirmou.

Os chefes de governo do México e Espanha também já se manifestaram, parabenizando Lula. Reino Unido, Equador, Canadá, Bolívia, Uruguai, Peru, Haiti, Panamá e vários outros também mandaram telegramas ao novo governo brasileiro.

O primeiro-ministro português, Antonio Costa, foi outro que mandou uma mensagem de parabenização ao novo presidente. O presidente português, Marcelo Rebelo de Souza, indicou que Lula vai iniciar "um período promissor nas relações fraternais entre os povos brasileiro e português".

Miguel Diaz, presidente de Cuba, também comemorou a vitória de Lula. Nicolas Maduro, presidente da Venezuela, foi outro que aplaudiu a eleição do petista.

A vitória de Luiz Inácio Lula da Silva foi comemorada pelo ganhador do prêmio Nobel da Paz e presidente do Timor Leste, José Ramos Horta. "As eleições foram limpas gerenciadas com muita competência e integridade pelas instituições eleitorais brasileiras com muita experiência e credibilidade reconhecidas internacionalmente", disse.

"Justiça foi feita ao restaurar-se a vibrante democracia brasileira e assim corrigirem-se os graves atropelos ao Estado de Direito, as graves injustiças na perseguição e manipulação do poder judicial contra Lula", disse o presidente, que apontou que foi um dos poucos no cenário internacional a sair em defesa de Lula quando esteve na prisão.

"Agora o povo brasileiro tem que reconciliar-se, sarar as feridas profundas na sociedade, eliminar a exclusão e discriminação, reunir toda a grande família brasileira multicolor, multiétnico, multicultural, mobilizar a sua criatividade para a visão de um Brasil novo, reconciliado, pacifico, solidário, fraterno", disse.

"No plano internacional, com Lula o Brasil vai voltar ao período áureo da década da sua presidência anterior, como ilustrado então na capa da revista Economist, o Brasil estratosférico", declarou.

"Neste mundo conturbado, extremamente perigoso, em fragmentação, sem uma carismática liderança global, Lula poderá ser a voz da moderação, o construtor de pontes de diálogo e de solução de conflitos", completou.