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Venezuela comemora normalização com Brasil; posse terá mais de 20 líderes
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O governo de Nicolás Maduro, na Venezuela, comemorou o aceno do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva de que irá restabelecer relações diplomáticas entre Caracas e Brasília. Em declarações ao UOL, um dos principais ministros venezuelanos apontou que tal gesto do Brasil era esperado e que a relação será normalizada.
"Sabíamos que seria assim", disse Jorge Arreaza, ministro de Indústria, ex-chanceler e ex-vice presidente da Venezuela. No auge da crise entre Jair Bolsonaro e Nicolás Maduro, Arreaza chegou a sugerir que o então chanceler Ernesto Araújo tomasse um "chá" para se acalmar diante dos ataques que o brasileiro proferia contra Caracas.
Sobre a nova etapa da relação com Lula, Arreaza foi continente: "tudo voltará ao que sempre devia ser". Segundo ele, a embaixada venezuelana jamais fechou suas portas no Brasil.
Quem vem para a posse? Ainda está por ser definido de que maneira Nicolás Maduro poderá fazer uma eventual viagem ao Brasil. Sua presença está proibida por conta de uma decisão do governo Bolsonaro. Mas Caracas ainda espera que a viagem possa ocorrer.
A posse, de fato, já contará com mais de 20 líderes internacionais, num esforço claro da comunidade global e do governo Lula de mostrar que existe uma chancela estrangeira à democracia brasileira.
Até agora estão confirmados os presidentes, chefes de estado ou de governos da Alemanha, Portugal e Espanha.
A América do Sul estará praticamente inteira na posse. Já confirmaram presença os presidentes do Chile, Argentina, Bolívia, Colômbia, Equador, Paraguai, Suriname, Guiana e Uruguai.
Também estarão em Brasília os presidentes de Angola, Cabo Verde, Guiné e Zimbábue, além do presidente do Timor Leste, o vice-presidente do Panamá e os chanceleres da Costa Rica, México, Palestina e Turquia. A lista, porém, deve aumentar nos próximos dias, inclusive com a confirmação da delegação dos EUA.
Na surdina, Brasília e Caracas voltaram a ganhar dinheiro.
Nos últimos meses, mesmo sob a gestão bolsonarista, o comércio entre Brasil e Venezuela voltou a subir de maneira importante. Em 2019, as exportações brasileiras para o mercado venezuelano foram de US$ 450 milhões. Em 2022, até o mês de novembro, o volume já tinha sido três vezes maior.
Entre 2020 e 2022, as vendas venezuelanas para o Brasil se multiplicaram por quatro, chegando a US$ 320 milhões.
A expansão do comércio, porém, foi abafada pelo Palácio do Planalto, justamente para não afetar sua narrativa de usar o socialismo na Venezuela como uma arma eleitoral.
Fontes dentro do Itamaraty indicaram que, nos últimos meses, o governo Bolsonaro tinha reduzido o tom de críticas públicas contra o governo de Nicolás Maduro, na Venezuela, num gesto que foi interpretado como resultado da aproximação entre o presidente Jair Bolsonaro e Vladimir Putin, um dos poucos aliados de Caracas.
Desde os primeiros dias do atual governo brasileiro, a Venezuela passou a ser alvo de constantes ataques por parte do Itamaraty, tanto em organismos de direitos humanos como na Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas). Caracas era usada pelo bolsonarismo como espantalho do que o Brasil supostamente poderia se transformar, no caso de um governo de esquerda. Citar Maduro, portanto, passou a ser útil como instrumento para mobilizar os grupos mais radicais do movimento de extrema-direita no país, ainda que a situação dos dois países não guarde qualquer semelhança.
Nos fóruns internacionais, isso foi revertido em atos como o de propor resoluções contra a Venezuela e até sair da sala de reuniões todas as vezes em que um representante de Caracas tomasse a palavra.
Mas, desde meados de 2022, membros da oposição venezuelana alertam que o Brasil deixou de ser vocal contra Maduro. Ainda que o governo Bolsonaro continue a adotar a mesma estratégia de votar a favor de resoluções contra a Venezuela e de condenar a ditadura no país vizinho, negociadores brasileiros sinalizaram aos membros da oposição que não irão necessariamente liderar as ações ou encabeçar os esforços contra Maduro.
Para os grupos venezuelanos que fazem oposição ao regime de Maduro, a mudança tem uma relação com a recente aproximação de Bolsonaro com Putin. Ao longo dos últimos dois anos, foi Moscou quem manteve relações financeiras e comerciais com Caracas, permitindo que o regime de Maduro pudesse sobreviver economicamente.
No Itamaraty, fontes não negam que a relação com a Rússia possa ter tido um impacto. Mas destacam que não é o único fator e que a própria situação geopolítica diante da guerra na Ucrânia influenciou no tom do governo. Nas últimas semanas, mesmo a presidência de Joe Biden também adotou uma nova postura, reduzindo os ataques públicos contra Caracas, ainda que os venezuelanos não tenham sido convidados para a Cúpula das Américas, há uma semana. A explicação tem nome: petróleo. Diante da crise com a Rússia, o abastecimento venezuelano voltou a interessar às capitais ocidentais.
O silêncio sobre Maduro se contrasta com o discurso de Bolsonaro na ONU em 2019. "A Venezuela hoje experimenta a crueldade do socialismo", disse o presidente brasileiro naquele momento. "O socialismo está dando certo na Venezuela. Todos estão pobres e sem liberdade", atacou.
"Trabalhamos com outros países, entre eles os EUA, para que a democracia seja restabelecida na Venezuela, mas também nos empenhamos duramente para que outros países da América do Sul não experimentem esse nefasto regime", apontou.
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