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Em edição histórica, Diário Oficial concorre com capas de Pelé pelo mundo
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Os colecionadores de capas de jornais terão muito trabalho, neste dia 30 de dezembro de 2022. Pelo mundo, artistas se empenharam para estampar no grito das manchetes a morte de um dos maiores ícones populares do planeta: Pelé.
Em inglês, francês, árabe, russo ou chinês, o brasileiro ocupou as principais capas dos jornais, com fotos rasgadas de sua majestade. São, em qualquer critério que se estabeleça, edições históricas de imprensa. Aquelas que estarão em exposições ao lado dos atentados de 11 de setembro de 2001 ou do pouso do homem na lua.
Talvez os editores estrangeiros, orgulhosos de suas obras de arte, não saibam. Mas, no Brasil, concorre ao título de edição histórica ou outro jornal, que nem mesmo traz uma foto de Pelé: o Diário Oficial.
Não se trata de uma edição qualquer. Mas uma repleta de dribles e insinuações que deixariam o Rei do Futebol com inveja da qualidade da técnica usada para enganar.
Ali, podemos ler nas entrelinhas que Jair Bolsonaro planeja fugir. Que deixa o comando de um país num vácuo inédito, que promove o último deboche da democracia e das instituições. Um escárnio.
Seus futuros assessores estarão em Miami, segundo a publicação. Trata-se de assessores que, por lei, são colocados à disposição de um ex-presidente.
Aos bolsonaristas esperançosos de uma intervenção militar ou extraterrestre, uma publicação que deveria soar como uma traição. Resta saber se irão ler. E, se optarem por ler, se vão acreditar. E se acreditar, se vão interpretar da mesma forma que o texto diz.
Também descobrimos que, num outro ato de traição à base mais radical da extrema direita, o governo Bolsonaro revoga uma portaria de 19 de agosto de 2019. Não há qualquer referência ao conteúdo daquela decisão. Uma espécie de drible, no qual o mito, sem olhar, rola a bola para um espaço aberto do campo, permitindo o chute cruzado ao gol da Itália e a consagração total.
Mas basta buscar a referência para entender que a portaria que estava sendo revogada era a que proibia qualquer autoridade venezuelana de entrar em território brasileiro.
Claro, o documento omite qualquer referência às palavras "Venezuela" ou "Maduro", verdadeiros espantalhos usados pelo bolsonarismo durante quatro anos.
Há ainda uma referência ao comando da Marinha, e tantas outras decisões do último dia útil do ano e do mandato de Bolsonaro.
Histórico, o Diário Oficial de 30 de dezembro de 2022 entra para os anais da democracia brasileira como um exemplo de como, usando as leis que o estado de direito garante, um governo pode trair a república. Um atestado, por escrito, da covardia.
Feliz Ano Novo.
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